Para repensar a escola

Maria Grembecki: "Tudo pode se transformar num projeto de investigação"

A coordenadora da Escola de Educadores conta que uma das melhores formas de estimular o aprendizado é estar atento aos interesses das crianças

A coordenadora da Escola de Educadores, Maria Grembercki. Foto: Arquivo pessoal

A curiosidade nasce com o ser humano e nas crianças costuma ser uma poderosa mola propulsora rumo à aquisição de conhecimento. Este incansável interesse por tudo o que acontece ao redor é um grande trunfo para o professor, que a partir da observação e sensibilidade pode instigar os pequenos a desenvolver projetos nos quais vão lidar com os cinco campos de experiência propostos pela Base Nacional Comum Curricular. A coordenadora da Escola de Educadores, Maria Grembercki, afirma que incentivar os interesses naturais dos pequenos rende bons frutos no aprendizado.

Como envolver a criança em projetos capazes de estimular o aprendizado?

A nova Base Nacional Comum Curricular traz um conceito de ênfase na experiência. O que antes era eixo de conhecimento, agora são campos de experiência (Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações). Assim, os projetos agora priorizam as vivências, algo que as crianças naturalmente têm vontade de investigar, de discutir.

De que modo o professor pode aproveitar essa curiosidade dos pequenos?

O professor deve ficar atento ao que deixa a criança curiosa. Crianças pequenas têm interesse por animais de jardim, por exemplo. Minhocas, joaninhas, borboletas, grilos, elas querem saber como vivem, de que modo comem, respiram, andam na superfície ou embaixo da terra. Então é interessante aproveitar essa curiosidade e transformá-la num projeto capaz de dar respostas a algo que essa criança deseja efetivamente descobrir. No caso da Emei Tide Setúbal, com o Minhocário e a Composteira, o campo de experiência trabalha não só a vida das minhocas, mas a relação com o outro, o fazer coletivo, o cuidado comigo, com meu corpo, com o corpo do outro. Cabe ao professor também ler algo sobre os bichos, narrar o que acontece com a minhoca, unindo assim diversos campos de experiência.

Há casos em que os professores acham que as crianças são muito pequenas para determinadas tarefas e acabam por fazer quase todo o trabalho. 

As etapas podem ser feitas em conjunto. Há atividades, logicamente, que terão de ser executadas por um adulto, mas há outras em que os pequenos poderão se envolver. No caso do projeto do Minhocário, há a possibilidade de a iniciativa ter desdobramentos, tais como um jogo, uma brincadeira criada a partir da ideia original. Esse caminho é traçado com base na curiosidade e nas experiências conjuntas.

Como incentivar o interesse das crianças?

Toda criança é naturalmente curiosa, por isso basta o professor estar atento a ela no dia a dia, ouvir o que ela conversa, o que ela traz, e então conduzir isso para uma pesquisa maior. O professor conhece o universo infantil, os interesses, e sabe provocar isso. Uma das atividades comuns é explorar o ambiente da escola para descobrir pequenos animais, isso sempre guiado pelas perguntas das crianças. Criar esse contexto, propor explorações, trazer leituras capazes de despertar interesses, tudo isso ajuda. Também é importante atentar para as linguagens dos pequenos, os gestos, a fala, o corpo, tudo é material capaz de render um projeto de investigação.

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