O que priorizar na hora do retorno das crianças pequenas à escola
Nesta faixa etária, rodas de conversa sobre o período de isolamento social podem ser um bom ponto de partida para favorecer a readaptação ao ambiente escolar
A volta às atividades escolares presenciais, especialmente na Educação Infantil, ainda não tem data definida na grande maioria das cidades brasileiras. Entretanto, já é consenso que uma série de cuidados será necessária para que educadores e crianças tenham sua saúde preservada. No que diz respeito à aprendizagem, é preciso dar atenção especial para as crianças pequenas (4 anos a 6 anos e 2 meses), já que estão iniciando sua transição para o Ensino Fundamental. Na medida do possível, é preciso garantir que elas possam conversar sobre o que a Educação Infantil significou para elas, o que aprenderam, rever amigos e revisitar os espaços da sua creche ou escola antes de seguirem uma nova jornada escolar.
Para ajudá-lo a organizar o retorno, conversamos com Ana Teresa Gavião, doutora em Educação e Psicologia, especialista dos Planos de Atividade de NOVA ESCOLA e consultora desta caixa; Evandro Tortora, professor de Educação Infantil da rede municipal de Campinas (SP) e integrante e colunista de NOVA ESCOLA; e Camila Bon, consultora pedagógica mentora dos Planos de Atividade de NOVA ESCOLA.
1. Por onde começar o replanejamento para um volta às atividades presenciais?
Garantir que as crianças tenham assegurados os direitos de aprendizagem e desenvolvimento presentes na Base Nacional Comum Curricular é o primeiro passo para planejar o retorno, recomenda Camila Bon. Esses direitos são: conviver, participar, brincar, explorar, expressar e conhecer-se. Segundo ela, é preciso preparar contextos e atividades em que as crianças estabeleçam relações de troca, ajuda mútua e em que possam se posicionar. “A criança aprende convivendo e brincando, devemos oferecer essa oportunidade a elas em atividades desafiadoras e divertidas.”
2. Como fazer a avaliação do desenvolvimento das crianças após o contexto remoto?
Como as crianças pequenas já estão com a linguagem oral mais desenvolvida que os bebês e as crianças bem pequenas, invista em conversas. Em um primeiro momento de acolhimento, faça uma roda com elas para que possam falar sobre como foi sua experiência de isolamento social. “Depois, o professor pode pedir para as crianças registrarem seu cotidiano e sentimentos sobre a quarentena. A ideia é fazer um desenho, mas quem já está interessado pelas palavras e letras vai querer escrever também”, diz Ana Teresa Gavião. Em um terceiro momento, procure entender o que elas aprenderam nos últimos meses e quais conquistas as crianças têm o desejo de alcançar, como, por exemplo, escrever o próprio nome.
3. Como manter e aprimorar a comunicação com as famílias para fazer a transição entre a casa e a escola?
Por causa do grande número de casos de infectados pelo coronavírus no Brasil e as possíveis perdas que as famílias tenham sofrido, muitos responsáveis podem sentir-se inseguros quanto ao retorno às atividades presenciais. “É importante manter os canais de comunicação entre família e escola, mostrar como a unidade está replanejando a volta e que isso está sendo bem-cuidado. Precisamos que elas confiem na escola”, explica Evandro Tortora.
Sobre o período de adaptação, tenha em mente que a criança de 4 a 5 anos já tem, geralmente, uma história com a instituição e pode não precisar do adulto de referência no período de readaptação. Antes do retorno, converse com as famílias para saber como cada criança está e, caso considere necessário, peça a um familiar para ficar à disposição nos primeiros dias.
4. Como a comunicação entre educadores e profissionais da escola pode ajudar no retorno?
Gestores, professores e funcionários das escolas precisam retornar antes das crianças e estar cientes de todas as recomendações dadas pelo Ministério e secretarias da Saúde. A partir do meio do ano letivo, professores de crianças pequenas já estão se organizando para preparar a transição entre Educação Infantil e Ensino Fundamental e os gestores podem ajudá-los nesse importante planejamento.
5. Como agir diante de protocolos de saúde que devem impedir maior interação entre as crianças, especialmente em brincadeiras?
“O ideal é conversar bastante com as crianças para que elas compreendam o que está acontecendo. A conversa pode ser franca, clara e objetiva”, recomenda Ana Teresa. Os protocolos sanitários básicos já são adotados na Educação Infantil, mas agora é necessário ficar mais atento à lavagem das mãos, às idas ao banheiro e ao compartilhamento de alimentos.
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) publicou o documento "Subsídios para a elaboração de protocolos de retornos às aulas na perspectiva das redes municipais de Educação". Leia a íntegra aqui.
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