Máscaras contra a covid-19 nas escolas: como se preparar para essa possibilidade
Entenda o debate sobre o uso ou não da proteção pelas crianças e as soluções que as redes de ensino podem adotar para os docentes, como o uso de máscaras transparentes
Caso as atividades presenciais sejam retomadas antes que haja uma vacina para imunizar a população contra o coronavírus, será preciso pensar com cuidado nas recomendações sobre o uso de máscaras por parte de professores e crianças da Educação Infantil. A máscara tornou-se objeto essencial para a proteção individual e das pessoas ao redor. Mas, na prática, o uso de uma proteção no rosto pode causar uma série de dificuldades no trabalho com as crianças.
Ainda não há um posicionamento oficial das autoridades quanto ao uso de máscaras por parte das crianças em escolas de todo o país, mas os profissionais de Educação possivelmente usarão essa proteção. O uso pode ser imprescindível para a manutenção da saúde de todos, porém, é inegável que provoca também a limitação dos bebês, crianças bem pequenas e pequenas às expressões dos adultos, o que exigirá maior esforço de comunicação.
“Crianças estão em uma fase de pleno desenvolvimento da fala. Elas aprendem a falar observando uma série de fatores, inclusive a movimentação da boca”, explica Roberta Tavares Lopez, psicóloga clínica e educacional e terapeuta de crianças, adolescentes e famílias. “Já temos modelos de máscaras com uma visor transparente para a área da boca que os fonoaudiólogos e profissionais da saúde utilizam para lidar com seus pacientes. Isso ajudaria muito as crianças a verem a movimentação da boca. Mas será que isso será providenciado para os educadores?”, questiona ela. Portanto, a gestão da escola deve verificar com as redes de ensino a possibilidade da oferta dessas máscaras especiais para todos os professores da Educação Infantil e demais profissionais que interagem com crianças e adolescentes com deficiência auditiva.
Além disso, é preciso pensar que há uma proximidade muito grande, afetiva e de cuidado, entre educadores e crianças na Educação Infantil. Ao voltar para a creche depois de tanto tempo afastadas, elas podem estranhar ver um adulto com quem tiveram pouco contato no começo do ano com metade do rosto coberta. “A partir dos 3 anos, as crianças vão ter mais facilidade para entender essa necessidade de proteção porque estão o tempo todo vendo a família sair e voltar para casa usando máscaras. Já para os bebês, o contato é maior com os educadores. Então, vamos ter de ficar muito atentos ao olhar. Querendo ou não, a forma de contato vai ser o olhinho do bebê olhando o olho da 'tia' e ouvindo seu tom de voz”, diz Tágides Renata Mello, coordenadora da Educação Infantil da Escola Educare e professora do Centro Universitário de São Roque.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso de máscaras por crianças menores de 2 anos não é indicado em nenhuma circunstância (veja aqui mais recomendações). Isso porque elas salivam mais, têm vias aéreas de pequeno calibre e podem não conseguir afastar o tecido caso se sintam sufocadas.
Entre os 2 e os 5 anos de idade, existe a necessidade de supervisão constante. “A área do cérebro responsável pelos impulsos, o córtex pré-frontal, ainda está em desenvolvimento. Caso sinta o menor incômodo, ou mesmo sem sentir, a criança pode pôr a mão na própria máscara, na do colega ou mesmo tirá-las”, comenta Roberta. Na prática, como em uma sala haverá várias crianças (mesmo que seja estabelecido o rodízio), o professor responsável pode não conseguir garantir que todos estarão tomando os devidos cuidados o tempo todo.
Tágides levanta ainda outros pontos de atenção: “Com menos de 3 anos, os bebês estão na fase oral. Eles colocam muita coisa na boca, estão aprendendo a se comunicar e é pela sua expressão facial que o professor os entende. Com uma máscara, o adulto pode não compreendê-lo e ele ficar muito frustrado e irritado”.
Mesmo que não precisem utilizar a máscara na escola, é importante conversar com as crianças sobre isso (veja aqui uma sugestão de atividade com máscaras). “Essa experiência da pandemia é uma oportunidade para a escola trabalhar as habilidades socioemocionais, como empatia e cooperação. Isso é justamente o que não estamos vendo agora, pois há pessoas que não querem utilizar a máscara e não pensam que sua atitude pode afetar o coletivo”, observa Roberta.
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