PARA PENSAR A PRÁTICA

Cantigas folclóricas, um tesouro cultural a ser descoberto pelos pequenos

As crianças têm muito a se divertir e aprender com “Caranguejo peixe é”, “Passa, passa, gavião” e outras pérolas do nosso cancioneiro

As cantigas são ótimas para estimular o brincar e a convivência. Ilustração: Ana Maria Sena/NOVA ESCOLA

Pode parecer coisa à toa, rima guardada na memória dos mais velhos, frases simples e desconexas, histórias nonsense. Mas não. As cantigas folclóricas são um verdadeiro tesouro. Atravessam gerações, guardam histórias, revelam hábitos de tempos passados, tradições e vocabulário de diferentes regiões e entrelaçam o convívio entre adultos e crianças, em um clima lúdico. 

Para as crianças, em especial os das turmas da Educação Infantil, essas canções são mais do que apropriadas para estimular o brincar e a convivência, além da interação entre pares e das crianças com os mais velhos. De acordo com Gisela Wajskop, doutora em Educação e diretora da Escola do Bairro, em São Paulo, três bons motivos alicerçam a validade de explorá-las. 

O primeiro diz respeito à qualidade: as cantigas têm história para contar, ampliam o repertório das crianças e abrigam elementos da cultura popular, de diferentes regiões do país. O segundo tem a ver com o despertar da capacidade cognitiva dos pequenos. Já o terceiro motivo está relacionado ao contraste cultural que elas trazem à produção musical comercial contemporânea. 

Para reforçar essas defesas, vale recorrer ao célebre sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (1920-1995). Seus estudos sobre folclore indicam que elementos culturais e padrões comportamentais fazem com que o indivíduo pertença a uma comunidade. São justamente esses elementos que aparecem em cantigas, histórias, jogos e brincadeiras infantis.   

“O sentido primordial do trabalho da escola com essas cantigas deve ser o deleite, a fruição, a brincadeira. É possível ir além, é claro, e se apropriar delas para dar os primeiros passos na exploração da leitura e da escrita. Mas, ainda assim, o objetivo principal é o divertimento”, explica Karina Rizek, consultora da Avante Educação e Mobilização Social e formadora da Escola de Educadores. 

As cantigas folclóricas são marcadas por textos curtos, repetitivos - e rimados na maioria dos casos -, o que encanta as crianças e as faz memorizar rapidamente o conteúdo, ainda que não compreendam em detalhes o que estão cantando. Ainda que um adulto não tenha o hábito de cantá-las, não vai ser muito difícil para ele puxar pelas lembranças de infância o que aprendeu com seus pais, avós, vizinhos… “Por isso, as cantigas são um prato cheio para propostas remotas nestes tempos de isolamento social que estamos vivendo com a pandemia do novo coronavírus”, reflete Karina.

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