Para se inspirar

Redes preparam ações para o acolhimento dos alunos

Estratégias incluem oferta de apoio pedagógico e estruturação de ações conjuntas entre diferentes atores sociais

Ilustração abstrata de crianças desenrolando nós com ferramentas de construção.
Ilustração: Juliana Eigner/NOVA ESCOLA

Em 2020, o ensino remoto emergencial obrigou a fazer o que não se sabia. Em 2021, foi preciso atuar na insegurança com a retomada gradual e se adaptar ao ensino misto possível, com uma composição de aulas presenciais e virtuais. Em 2022, com a expectativa da retomada integral das atividades presenciais, gestores, professores, estudantes e famílias terão de conviver com a reconstrução de vínculos e do processo de ensino e aprendizagem. 

Considerando que a pandemia ainda está em curso, o que acarreta incertezas, a meta de 2022 pode ser a retomada da experiência escolar em si, acredita Débora Vaz, coordenadora pedagógica de uma escola particular na capital paulista. “Questões novas sobre a rotina escolar surgem a todo instante e o que nos salvará serão o diálogo e a escuta”, reforça. Para ela, a escola deve abrir ainda mais espaços para que todos discutam e reconheçam tudo o que vivemos nesses últimos dois anos – luto, doença, perdas, angústias, saudade, ausências, medo. Valem todos os formatos: fórum de professores, rodas de conversas com alunos, encontros com os familiares e responsáveis etc.

Diante de tantos abalos, docentes e estudantes, em especial, também necessitam de reconexão: “A educação se dá na presença e no encontro. Professores precisam se reaproximar e se sensibilizar com os ritmos dos alunos, e estudantes precisam voltar a se acostumar à rotina e aos rituais da escola”, afirma Débora.

O emocional como estratégia

Reconhecer a sensibilidade que o momento escolar exige deve também estar no radar do gestor. O protocolo de volta às aulas do governo de Mato Grosso do Sul, lançado em novembro de 2021, por exemplo, indica ações específicas para um eixo denominado socioemocional – o mais detalhado do documento, aliás. Nele há estratégias previstas por meio de uma estrutura de colaboração com outros órgãos, formando uma rede de atendimento para além da área de Educação, com envolvimento de Assistência Social e Saúde.

Desde 2020, já tínhamos o trabalho socioemocional com professores, que foi complementado para as ações pós-retorno”, conta Helio Daher, superintendente de políticas educacionais da secretaria estadual. “Para este ano, permanece o processo com uma rede de psicólogos atuando junto às regionais, além de uma estrutura formativa mais robusta envolvendo coordenadores pedagógicos no trabalho de acolhimento dos estudantes.”

Outra ação fruto desse eixo socioemocional é a colaboração de um grupo com cerca de 30 estudantes de Ensino Médio que, semanalmente, se encontram com a equipe da secretaria para debater as políticas que estão sendo implementadas. Criado inicialmente para discutir a volta às aulas, lá em julho do ano passado, os jovens ganharam um espaço fixo. “Queríamos escutar deles como estavam pensando a volta às aulas, quais eram seus anseios. Agora, eles passaram a ser um grupo de consultores da secretaria, que discutem políticas públicas, como, por exemplo, a recomposição da aprendizagem”, explica o superintendente.

Para direcionar o trabalho consistente de acolhimento e cuidado à saúde mental, a Secretaria de Educação de Mogi das Cruzes (SP) pretende reforçar o time de psicólogos com a abertura de concurso para dobrar a contratação de profissionais. Atualmente, são 14 profissionais atuando na rede, com apoio dedicado a gestores, professores e alunos. “A figura do diretor é central para determinar o bem-estar da comunidade escolar, por isso também eles têm assistência psicológica garantida pela rede municipal”, conta o secretário André Stábile.

Importância do trabalho coletivo

Diante de tantos reveses, o trabalho coletivo, de parceria e articulação, foi um legado importante do período de escolas fechadas. Equipes escolares uniram-se, professores apoiaram-se, assim como alunos e também os gestores. Foi no trabalho dos comitês criados nos dois últimos anos que muitas secretarias estaduais e municipais encontraram soluções para os desafios educacionais na pandemia e, assim, também foram acolhidas. Uma das iniciativas foi a criação dos Gabinetes de Articulação para Enfrentamento da Pandemia na Educação (Gaepes), que existem hoje em três estados Rondônia, Mato Grosso do Sul e Goiás – e, no âmbito municipal, em Mogi das Cruzes (SP), além da governança de âmbito nacional (Gaepe Brasil).

As governanças têm como pressuposto a união de esforços entre todos os poderes e órgãos independentes, e também a sociedade civil em prol da Educação. “O que se propõe é construir uma agenda comum com base nos desafios impostos – da volta às aulas, da recomposição de aprendizagem, do acolhimento e da busca ativa – para pensar junto soluções eficazes e, ao mesmo tempo, garantir um ambiente de mais segurança jurídica para a tomada de decisões administrativas pelo gestor”, avalia Alessandra Gotti, presidente-executiva do Instituto Articule, que é uma das entidades participantes dos Gaepes.

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