Para usar com as famílias

Coronavírus: como orientar os pais a manter a rotina das crianças em casa

Veja algumas dicas para apoiar pais e mães de bebês e crianças pequenas a criarem nova rotina em casa

Ilustração: Humaaans e Freepik (adaptado por Patrick Cassimiro)

O isolamento social é uma das medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para frear a expansão da Covid-19 no Brasil e no mundo. Com as escolas fechadas e o trabalho transferido para casa, as famílias têm mais uma tarefa a cumprir: redesenhar a rotina doméstica. Aquela, anterior, demarcada pela saída da casa, pelo afastamento por horas e pela participação da escola ou berçário, foi pausada. Com a quarentena, pais e filhos estão aprendendo a conviver juntos por mais tempo.

Para a psicanalista Priscila Venosa, é preciso acolher os limites da situação: “Atividades desempenhadas por um grupo de pessoas – educadores, cuidadores, empregados domésticos e familiares – passaram a ser feitas apenas por duas pessoas (ou até uma só), que são os pais”, afirma. Diante disso, eles podem ficar angustiados com a sobreposição de papéis, mas a especialista alerta: “Pais têm de entender que não precisam ser uma instituição total para os filhos em casa.”

Diante da nova realidade imposta, sem precedentes e sem previsão de resolução, é aconselhável que todos da família trabalhem juntos na construção de um novo cotidiano. “Atividades rotineiras ajudam os pequenos a terem noção da passagem do tempo. A educação infantil já trabalha o cotidiano com as horas do lanche, de brincar fora, de cantar. No entanto, não dá para imaginar que será possível reproduzir isso em casa com esse rigor. É preciso flexibilidade e tolerância para ver o que dá para fazer”, explica Vitória Regis Gabay de Sá, coordenadora pedagógica da Escola Jacarandá, em São Paulo.

“Os horários limitados funcionam para o ambiente escolar; em casa, é outra história. Toda a família está presente e existem outras atividades a serem cumpridas, especialmente as domésticas”, tranquiliza Karina Rizek, consultora da Avante Educação e Mobilização Social e formadora da Escola de Educadores. E reforça: os pais não têm obrigação de oferecer a diversidade de atividades que a escola oferece.

Abortada a ideia de reproduzir em casa o ambiente da escola, os pais devem encaixar tarefas possíveis dentro da realidade de cada família, com tempos mais elásticos ou alongados para uma ou outra atividade, como a de banhos mais lentos para bebês.

Nova rotina

Para facilitar essa reorganização doméstica, os pais podem se apoiar primeiramente naquelas atividades que já são, por si só, reguladoras da rotina de crianças e adultos, como a hora de acordar, a das refeições e a hora de dormir. Para bebês de zero a 1 ano e seis meses, o sono é regulador do cotidiano, com as sonecas diárias.  Entre elas, é possível realizar algumas atividades e brincadeiras. Para bebês que não engatinham, um tapetão colocado no chão ou bebê-conforto com brinquedos dão um pouco de autonomia.

Para crianças bem pequenas, entre 1 ano e 7 meses a 3 anos de 11 meses, é preciso cuidado extra para deixar a casa segura, com retirada de objetos pontiagudos e de materiais que podem quebrar. Uma dica é criar um espaço adaptado no ambiente de convívio da família para que a criança possa ficar, brincar e fazer bagunça – o que, aliás, pode até ajudar na rotina: “Guardar os brinquedos vira uma atividade para incluir nas tarefas corriqueiras. É um momento de reforçar e valorizar o quanto a criança é co-responsável pela casa também”, afirma Karina Rizek,  consultora da Avante Educação e Mobilização Social e formadora da Escola de Educadores. 

Já crianças pequenas, de 4 a 6 anos e 2 meses, o momento pode ser o de trazer a rotina da casa para elas e aproveitar a disposição que têm para o papel de “ajudantes”. Daí o cotidiano pode virar uma grande gincana com o momento de dobrar as roupas secas, lavar a louça, ajudar a picar legumes ou fazer um bolo. O uso de um quadro para planejar e marcar as tarefas do dia pode ser preenchido juntamente com a criança, com a hora de escovar os dentes, do café da manhã de ficar no tablet/celular, por exemplo. Também têm as atividades feitas a distância com familiares e amigos, que também podem incluir brincadeira e jogos. 

Outro combinado a ser feito com crianças pequenas é compartilhar com elas as rotinas dos pais. Decida conjuntamente o que ela fará quando tiver que fazer uma reunião ou ligação de trabalho. Escolham o brinquedo ou o jogo e ajude a criança a engatar na brincadeira. 

Novo momento

Claro que todo planejamento pode ter seu furo, ainda mais com todos da família em processo de adaptação ao mesmo tempo. De qualquer forma, uma atividade é imprescindível neste período, e recomendada por todas as especialistas ouvidas para esta reportagem: brincadeiras. Além de momento único de estreitar vínculos, brincar juntos ajuda os pais a detectarem como filhos estão lidando com o isolamento. Além de atenção a mudanças na alimentação e no sono, é o desânimo para brincar que deve acender luz de alerta. “Crianças não podem parar de brincar. É um importante sinal de saúde mental equilibrada”, destaca Vitória Regis Gabay de Sá.

 Estando mais junto dos filhos, os pais conseguem explicar as especificidades deste novo momento. Mostra que não é algo que atinge apenas aquela criança ou família, mas uma condição global. “É uma boa chance para explicar aos pequenos que é preciso se adaptar a todo momento na vida. A natureza não é algo controlável e esta é a oportunidade para mostrar isso”, alerta a psicanalista Priscila Venosa.  

Para apoiar a construção de uma rotina mais tranquila para pais e crianças pequenas, a NOVA ESCOLA lista alguma atividades voltadas para orientar o cotidiano de família com bebês, crianças bem pequenas e pequenas, seguindo as diretrizes pedagógicas da Base Nacional Comum Curricular. Todas podem ser adaptadas para o ambiente doméstico e conduzidas pelos pais. Se for possível contar com o apoio a distância do professor, melhor ainda.


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