PARA USAR COM OS ALUNOS

Jogos e arte chineses para trabalhar com os alunos de Ensino Fundamental

Com a orientação de Yuan Aiping, diretora da Escola Chinesa Internacional, e o apoio de especialistas, selecionamos passatempos e obras artísticas para trabalhar a cultura do país asiático nas aulas de Arte e Matemática

Ilustração feita a partir de técnica tradicional de caligrafia chinesa/japonesa apresentando um garoto com jogos e instrumentos musicais ao seu redor.
Ilustração: Victoria Mitie Koki/NOVA ESCOLA

Trazer aos alunos tradições, jogos e brincadeiras populares na China têm o claro propósito de ampliar repertório e mostrar às crianças a diversidade cultural. Mas eles são também importantes ferramentas de aprendizagem e de desenvolvimento de habilidades socioemocionais. 

Para o professor de Matemática Fernando Barnabé, do Time de Autores de NOVA ESCOLA, é essencial que os alunos carreguem consigo experiências de outras culturas. Se olharmos as competências gerais, só o fato de trabalhar com outras ideias já é de grande ganho para as competências socioemocionais. “Há o exercício da empatia, a ideia de pensar no coletivo. Se você fica preso somente em sua cultura, você passa a não entender os demais. Então, ampliar esse leque de compreensão é extremamente importante”, afirma Fernando.

Outro ponto essencial, contemplado pela competência geral Repertório Cultural, é Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. “Essa competência deixa clara a necessidade de se pensar essas ações com outras culturas. Além disso, trabalhar com jogos tem a vantagem das boas representações e bons aproveitamentos em relação ao respeito ao próximo, ao diálogo e à resolução de conflitos”, reforça o professor.

Com a orientação de Yuan Aiping, diretora da Escola Chinesa Internacional, selecionamos jogos e obras artísticas para trabalhar a China nas aulas de Arte e Matemática do Ensino Fundamental.

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JOGOS PARA AS AULAS DE MATEMÁTICA


A educação e a tradição chinesas levam as crianças a terem uma intimidade com jogos de tabuleiro e com resolução de problemas muito diferente da que se vê entre os estudantes brasileiros. Por isso, afirma Fernando, é importante pensar no contexto local ao iniciar esse tipo de atividade. “Não é só o fato de trazer a cultura de fora para cá, mas de entender se os nossos alunos serão capazes de desenvolver a atividade ou se o jogo vai ser tão complexo que ele vai acabar desestimulado.” Para o professor, é importante construir a ideia, mas pensar em algo um pouco mais simples. 

Seja qual for o jogo escolhido, o ideal é deixar que os alunos aprendam a jogar e que o professor participe das discussões que a atividade trará. É um trabalho de discussão, de entendimento sobre como o jogo é e que tipo de estratégias podem ser criadas para se alcançar o objetivo. Além disso, o próprio tabuleiro pode ser usado para o estudo das construções geométricas, o trabalho com vértices, arestas e polígonos formados, por exemplo. “Quanto mais jogos diferentes eles conhecerem, mais interessante vai ficar, mais interessante fica a construção de estratégias, mais interessante a elaboração de jogos, por que não?”, afirma Fernando. 

Vale lembrar que só o fato de se propor aos alunos a descoberta e a exploração das regras dos jogos já é um grande avanço. Além disso, a BNCC reforça a questão da resolução de problemas, que extrapolam a Matemática. Ou seja, a criação e aplicação de estratégias para alcançar o objetivo do jogo não se limita ao componente curricular, mas desenvolve o raciocínio do aluno para outros dilemas que ele enfrentará em sua vida.


Go - a partir do 4º ano

Fotografia de jogo de tabuleiro tradicional chinês.
Crédito: Acervo/Escola Chinesa Internacional

Chamado de Yi na China antiga, o Go tem uma história de mais de 4 mil anos, segundo a Escola Chinesa Internacional. Cada jogador usa um tabuleiro de xadrez retangular em forma de grade e peças redondas pretas e brancas para jogar. Existem 19 segmentos de linha vertical e horizontal no tabuleiro para dividi-lo em 361 interseções. O jogador que ocupar mais terreno vence. Ou seja, o objetivo maior não é tomar as peças do adversário, mas sim, expandir a sua própria presença no tabuleiro. O Go é considerado o jogo de tabuleiro mais complexo do mundo.

Segundo Fernando, entre os  jogos sugeridos pela Escola Chinesa, o Go é o mais diferente dos conhecidos no Brasil. “Ele parece simples pela estrutura das peças e das linhas, mas o pensamento do jogo não é simples, pois há a questão de estratégia e construção de territorio”, explica o professor. 

Por isso, para trabalhar com o Go pode ser mais proveitoso utilizar um tabuleiro menor e gradativamente ir ampliando, à medida que os alunos forem compreendendo a estratégia necessária para avançar. É possível construir um tabuleiro simplificado com papelão ou cartolina e utilizar botões ou tampinhas pintadas como peças.

Para saber mais:
Documentário - Jogos da Antiguidade - Go e xadrez chinês
Como Jogar Go


Xadrez chinês - a partir do 4º ano

Captura de tela de jogo de computador que simula uma partida de xadrez chinês.
Crédito: Acervo/Escola Chinesa Internacional

Xadrez originado na China, o jogo exige poucas peças e estrutura para ser jogado e tem uma longa história no país asiático.

Diferentemente do que temos no Ocidente, com o xadrez no tabuleiro de 64 casas, no Oriente cada país tem o seu xadrez. O xadrez chinês tem poucas peças e as regras são menos complexas que a do xadrez internacional. Com isso, é um jogo mais rápido. “Assim como o Go, o xadrez chinês é enquadrado nos jogos que exigem construção de estratégia. Diferentemente do xadrez que a gente conhece, o chinês tem ações acontecendo o tempo todo em todos os pontos do tabuleiro. Apesar de ser um tabuleiro simples, este é muito dinâmico e, assim como o Go, as peças se movimentam pelas linhas e não nos espaços que essas linhas determinam”, explica Fernando. 

Ao trabalhar com as linhas e não com as casas, os jogos chineses abrem a possibilidade de se trabalhar temas como arestas, vértices de um polígono, que serão identificadas de acordo com as jogadas desenvolvidas. “São jogos que favorecem muito a construção de habilidades relacionadas a esses temas”, reflete Fernando.

Para saber mais:
Xadrez Chinês - PARTE 1
Xadrez Chinês - PARTE 2


Habilidades da BNCC que podem ser trabalhadas com os jogos
As habilidades que podem ser desenvolvidas no Go e no Xadrez Chinês a partir do 4º ano estão ligadas às unidades temáticas Geometria e Probabilidade e Estatística:

EF04MA16 - Descrever deslocamentos e localização de pessoas e de objetos no espaço, por meio de malhas quadriculadas e representações como desenhos, mapas, planta baixa e croquis, empregando termos como direita e esquerda, mudanças de direção e sentido, intersecção, transversais, paralelas e perpendiculares.

EF04MA26 - Identificar, entre eventos aleatórios cotidianos, aqueles que têm maior chance de ocorrência, reconhecendo características de resultados mais prováveis, sem utilizar frações.

EF05MA22 - Apresentar todos os possíveis resultados de um experimento aleatório, estimando se esses resultados são igualmente prováveis ou não.

EF05MA23 - Determinar a probabilidade de ocorrência de um resultado em eventos aleatórios, quando todos os resultados possíveis têm a mesma chance de ocorrer (equiprováveis).

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ARTE PARA VIAJAR À CHINA

Para desenvolver as atividades de Arte com base nas sugestões da Escola Chinesa Internacional, NOVA ESCOLA ouviu Luísa Furman, coordenadora da Área de Arte e Cultura da Escola da Vila, em São Paulo. Confira duas propostas em formato passo a passo desenvolvidas pela educadora.

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Atividade: criando uma personagem como Mulan

Dê asas à criatividade dos alunos a partir de uma das lendas mais populares da China


Hua Mulan é uma personagem feminina lendária descrita na canção folclórica Mulan Ci, das Dinastias do Norte. Ela teria servido no Exército em nome de seu pai. Depois de combater, ela se recusou a ser nomeada e pediu para voltar para casa. Só depois disso é que seus companheiros descobriram sua identidade feminina.

Confira um passo a passo sugerido por Luísa de uma atividade de construção de personagem baseada na história de Mulan.


Indicado para: Turmas de Ensino Fundamental 1

Materiais: Textos, filmes e imagens sobre Mulan; roupas e adereços para a criação de personagem fictício; recursos digitais como Jamboard e Padlet

Na BNCC:
EF15AR01 - Identificar e apreciar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, cultivando a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

EF15AR23 - Reconhecer e experimentar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas.

EF15AR26 - Explorar diferentes tecnologias e recursos digitais (multimeios, animações, jogos eletrônicos, gravações em áudio e vídeo, fotografia, softwares etc.) nos processos de criação artística.


PASSO A PASSO

1. Selecione imagens e textos. Selecione materiais que contêm a história de Hua Mulan, a lenda da guerreira que deu origem a diversos filmes, monumentos e peças de teatro. 

2. Analise as diferentes representações da personagem. Liste suas características e virtudes e lance algumas perguntas norteadoras para disparar discussões, como “o que a lenda de Mulan conta sobre a cultura chinesa?”

3. Proponha uma reflexão. Reflita com os estudantes sobre as características e virtudes de si próprio e compartilhe com o grupo usando algum recurso digital – nuvem de palavras, stickers em um Jamboard, Google Slides etc.

4. Debata a identidade e a cultura dos alunos. A partir da análise das palavras, discuta com os alunos questões mais profundas como identidade e cultura e investigue a história e a ancestralidade de cada um. 

5. Criação de uma personagem fictícia. Em seguida, cada estudante deve escolher algumas das características listadas pelo grupo para criar uma personagem fictícia e o lugar onde habita, com a possibilidade de misturar outras referências de seu interesse e universo particular. Proponha a execução de um texto descritivo do personagem com o máximo de detalhes, além de um esboço utilizando cores e legendas para indicar cada detalhe: as peças de roupa que formarão o figurino e os adereços e objetos que auxiliarão na representação. 

6. Descrevendo a personagem. Depois disso, os alunos devem escrever um pequeno texto, de três ou quatro linhas, indicando apenas as principais características da personagem, com informações sobre sua maneira de ser, seu humor e seus interesses. Em seguida, eles podem procurar em casa, roupas, adereços e objetos, que possam ajudar na composição da personagem (chapéus, óculos, pedaços de pano, sobreposições de peças de roupa etc.). A ideia é chegar o mais próximo possível do que foi planejado no desenho.

7. Hora de se fantasiar Os estudantes podem se caracterizar como o personagem em um encontro remoto ou realizar uma fotografia em que explore expressões faciais e corporais do personagem. O cenário também pode entrar na composição ou ser feito depois com técnicas de colagem e desenho digitais Para finalizar, crie uma galeria de fotos ou mural utilizando o programa Padlet.


Para saber mais:
Conheça a verdadeira e trágica lenda da guerreira chinesa
A balada de Hua Mulan – a lenda da guerreira mais famosa da China

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Atividade: descobrindo a arte chinesa

Ajude os alunos do Fundamental 2 a criarem diferentes tons de cinza a partir do nanquim e a desenvolverem sua própria obra artística


Pinturas tradicionais chinesas.
Crédito: Acervo/Escola Chinesa Internacional

A pintura tradicional chinesa é rica em detalhes, definidos por nuances que variam do branco ao preto. A variação de tons é determinada pela diluição do nanquim em níveis diferentes.  

Confira o passo a passo de uma atividade sugerida por Luísa sobre Arte Chinesa para alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental.


Indicado para: Turmas de Ensino Fundamental 2

Materiais: Tinta nanquim, papel canson, pincéis macios, potes com água e papel toalha.

Na BNCC:
EF69AR01 - Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético.

EF69AR04 - Analisar os elementos constitutivos das artes visuais (ponto, linha, forma, direção, cor, tom, escala, dimensão, espaço, movimento etc.) na apreciação de diferentes produções artísticas.

EF69AR05 - Experimentar e analisar diferentes formas de expressão artística (desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, performance etc.).


PASSO A PASSO

1. Busque pinturas tradicionais da China. Selecione na plataforma Google Arts & Culture pinturas tradicionais chinesas que utilizem tinta nanquim e peça aos alunos que façam uma observação atenta dos elementos visuais que as compõem. Para isso, podem usar o recurso de zoom, para observar os detalhes e fazerem uma investigação de cores, formas, texturas e tipos de imagem que aparecem. 

2. Peça que os alunos analisem uma pintura. Cada estudante deve escolher uma imagem para descrever como observou a relação entre forma e conteúdo — e explicar como os elementos visuais colaboram para a percepção do sentido da imagem. O que ela simboliza?

3. Apresente os elementos básicos da pintura tradicional. Explique como as pinturas tradicionais chinesas valorizam a simplicidade, o simbolismo e a naturalidade, e também discuta com os alunos o que cada um representa e como podemos identificá-los nas imagens observadas. 

4. Preparando diferentes tonalidades de cinza. No próximo encontro, prepare os materiais que serão utilizados para a prática: tinta nanquim, papel canson, pincéis macios, potes com água e papel toalha. Os alunos devem preparar três tonalidades diferentes de cinza a partir da diluição do nanquim com água (quanto mais água, mais clara a tonalidade). No primeiro momento, incentive os alunos a explorarem as diferentes tonalidades, utilizando pinceladas variadas, adicionando mais ou menos água de acordo com o efeito desejado. Eles podem experimentar sobreposições sobre fundo molhado e fundo seco, diferentes texturas etc.

5. Escolhendo uma imagem de casa. Em seguida, eles devem escolher uma imagem da sua casa que represente bem o que viveram durante o isolamento. Por exemplo: a paisagem da janela de seu quarto. Eles devem escolher os principais elementos que vão aparecer na composição e tentar utilizar os elementos principais da pintura chinesa: simplicidade, simbolismo e naturalidade. Quais símbolos mais representam o que você está vivendo?

6. Desenhando um esboço. Em papel canson, eles devem fazer um esboço com lápis grafite 6b, bem suavemente, marcando a estrutura principal do desenho, delimitando uma área para a imagem (não é necessário usar todo o papel).

7. Pintura com nanquim. Em seguida, é hora de fazer a pintura com a tinta nanquim, muito cuidadosamente, tentando controlar a diluição, dosando intencionalmente a quantidade de áreas escuras, médias, claras e até os espaços vazios, usando o branco do papel.

8. Compartilhando a obra artística. Ao final, os alunos podem criar uma legenda para a pintura e compartilhar a imagem no mural do grupo em recursos digitais como Jamboard e Padlet.

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