Diversidade

Festa junina, sim, mas sem estereótipos. 4 dicas para respeitar e incluir a todos

A quebra de preconceitos acontece quando o conhecimento entra em cena. Várias características ímpares da cultura popular marcam as comemorações dos meses de junho e julho. Saber respeitá-las é fundamental

Ilustração de uma viola, de um caipira e de um tecido xadrez, objetos e personagens típicos da cultura caipira e das festas juninas.
Ilustração: Paola (Papoulas Douradas)/NOVA ESCOLA

Não fazer das marcas culturais e históricas elementos que segregam, ridicularizam ou envergonham algumas pessoas é um dos pontos mais importantes do planejamento das atividades em tempos de festas juninas e julinas. 

Para contribuir com a prática docente, NOVA ESCOLA reuniu quatro dicas de Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC e consultora de gestão escolar;  Sérgio Tück, professor de Arte na EMEF Prof. Hélio Damante, em São Jesus dos Perdões (SP); e Valéria Pimentel,  coordenadora de Arte na Escola Verde Que Te Quero Verde, de São Vicente (SP). 

A ideia é refletir com a turma sobre as temáticas apresentadas, colaborando para que os estudantes conheçam mais sobre as diferentes manifestações culturais do país, bem como aspectos de nossa história e riquezas. Além de se divertir, é claro!

1. Desmitifique a figura do caipira ignorante

Essa figura tão típica da cultura brasileira não pode ser vista a partir de uma perspectiva preconceituosa nem como um personagem fictício. Ele precisa ser valorizado como homem (ou mulher) do campo, detentor de muitos saberes e responsável por tarefas importantes - afinal, é do campo que vêm os alimentos que abastecem a mesa de todos. Muitas vezes, a figura do caipira sem dente, que não sabe nada e é ingênuo, é uma imagem passada de geração em geração, mas o estereótipo não pode definir a realidade. Vale conversar com os alunos a partir da apresentação de contexto histórico e do atual, apontando os valores que o homem do campo carrega consigo e que podem ser muito diferentes daqueles que vivem nas grandes cidades, mas não são menos importantes. É interessante perguntar para as crianças como enxergam o caipira, e quem é ele? A partir das respostas, questione por que acham isso. Elas conhecem algum caipira? A partir daí, a porta para a reflexão e investigação se abre. Vale ainda questionar como é o homem do campo da atualidade e pesquisar sobre isso.

2. Explore o respeito e à tolerância à liberdade religiosa

É importante compreender que para além de as festas juninas e julinas no Brasil terem forte influência católica e vários elementos dessa linha cristã façam parte delas (como as músicas que se referem a São João, Santo Antônio e imagens deles), essas comemorações simbolizam também o movimento e ciclos da natureza, o tempo da colheita e da fartura. Sim! As festas enaltecem a época das colheitas do milho, do amendoim, representando o mês da fartura do alimento. Então, é possível afirmar que o momento junino se tornou uma instituição e perdeu o vínculo puramente religioso. Ainda assim, há de se levar em consideração que algumas famílias podem não se sentir à vontade com o uso de imagens nas comemorações, por serem adeptas de outras religiões. E pode ser que acabem não participando das comemorações. É preciso então dialogar com a comunidade escolar a respeito. 

3. Diga não ao preconceito linguístico

Não raro, durante o casamento caipira, encenado em muitas escolas e festas comunitárias, o noivo, a noiva e o padre mudem a maneira como falam, tentando se aproximar de uma imagem preconcebida do caipira. Eles mudam o sotaque, subtraem fonemas, utilizam conjugações verbais em desacordo com a norma culta da língua... É interessante conversar com a garotada sobre o assunto, propondo reflexões sobre a diversidade linguística no português do Brasil. Quanto ao sotaque, uma pessoa do Rio Grande do Sul fala e utiliza palavras diferentes de quem vive em São Paulo, na Paraíba, no Acre etc. E essas diferenças não têm nada de errado. Sobre a norma culta, esta existe e deve ser usada em determinadas ocasiões, mas outras formas de se expressar fazem parte da cultura de cada região e são patrimônios culturais das comunidades locais. Para aprofundar a conversa sobre o que se fala e como se fala, explique também a origem do “r” puxado (o chamado “r” retroflexo), utilizado em muitas regiões do interior de São Paulo. Ele faz parte de um dialeto da época dos bandeirantes, no período colonial, que exploravam o interior do território em busca de riquezas. Muitas das origens da fala caipira também têm raízes com o encontro de alguns povos indígenas com os portugueses. Naquela época, parte dos indígenas não conseguiam pronunciar fonemas com “lh”. Assim, “mulher” era falado “muié” e “olho” era dito “oio”, por exemplo. Esses exemplos revelam o quanto a língua portuguesa do Brasil é rica e como a língua tupi foi se misturando com o português de Portugal. Outra possibilidade interessante é conversar com o grupo sobre os diferentes nomes que o mesmo prato típico tem, a depender da região. Por exemplo, canjica e mugunzá. 

4. Enalteça as vestes caipiras 

Se o chapéu de palha do caipira pode parecer estranho aos olhos de crianças que moram nas metrópoles, explique o motivo pelo qual esse acessório é importante para o homem do campo, que passa o dia exposto ao sol e às intempéries do tempo, como vento e chuva. Você também pode tratar dos materiais que compõem o adereço: a palha tem origem indígena e era utilizada para a produção de utensílios domésticos. Conversar com os alunos sobre a variedade do visual caipira ao redor do Brasil é outro ponto riquíssimo. Na Região Sul, por exemplo, os homens usam uma calça chamada bombacha, abotoada no tornozelo, e lenço no pescoço. Já no Nordeste, o chapéu mais comum é o de cangaceiro, de couro, usado pelos vaqueiros do Agreste. Sobre a questão das roupas a serem usadas, é fundamental que a escola também tenha a sensibilidade de não obrigar as crianças a usarem trajes típicos caso não queiram, tal como não fazer pintinhas, barba ou bigode. E mais: tudo bem permitir que meninas experimentem calças, camisas e lenços e meninos, vestidos.

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