Formação docente

Passo a passo: como elaborar uma formação com o tema igualdade de gênero

Saiba como conduzir o processo para combater a desigualdade de gênero envolvendo todas as instâncias da escola

Animação de um momento de formação sobre igualdade de gênero e preconceitos, com a equipe docente.
Ilustração: Nathalia Takeyama/NOVA ESCOLA

É papel fundamental da escola promover a igualdade de gênero com todos os membros da comunidade em que ela está, para que se transforme em um espaço de enfrentamento de injustiças sociais, discriminações e de diferentes formas de violência. 

Tornar a temática uma cultura da escola exige, antes de tudo, a presença do assunto no currículo. “Isso requer formação docente, preparo sequencial e sistemático do tema, além do desenvolvimento das pessoas adultas de toda a comunidade escolar, para que os estudantes possam se espelhar neles. Muitas vezes, o machismo se propaga por meio de discursos que já estão naturalizados”, diz Danila Di Pietro, mestra e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em gestão escolar e competências socioemocionais, coordenadora do Grupo de estudos de raça e gênero (Gerage)

A pedido de NOVA ESCOLA, Danila elaborou um passo a passo para você realizar um momento formativo com a equipe de professores.

divisória de atividade gestão

Indicado para: Equipe docente da escola.  

Objetivo da proposta: Encontro formativo planejado, considerando os dados e as informações levantados por meio do diagnóstico inicial sobre igualdade de gênero para promover a autorreflexão do grupo.


PASSO A PASSO 

Passo 1 Convite à participação 
Chame a equipe docente para uma conversa inicial apenas para sensibilizar o grupo para o tema que será trabalhado durante a formação. Se não for possível, afixe na sala de professores um cartaz chamando todos. Apresente o tema (igualdade de gênero), alguns dados a respeito e explique que a ideia é promover uma autorreflexão. Reforce que tal pauta faz parte das orientações legais e formação integral que a escola tem como responsabilidade. Entregue o questionário diagnóstico (ou envie por e-mail) e explique sobre a importância de todos responderem para que possam trabalhar de modo mais focado durante o encontro. Entregue também para cada professor informações sobre a carga horária, a data, o horário e o tipo de dinâmica que será realizado, além de indicar materiais para estudo prévio. Algumas sugestões:

- Gênero: a história de um conceito. Diferenças, igualdade (páginas 116–148), trecho de livro de Adriana Piscitelli 

- Gênero: O que é (e o que não é), vídeo de Thais Lima 

Passo 2 Análise das respostas
Tabule os dados recolhidos no formulário de diagnóstico e se debruce sobre eles. Assim, você vai conseguir identificar as principais questões que devem ser trabalhadas na formação docente. Pode ser que vários deles tenham revelado comportamentos machistas nas respostas, que outros, abertamente, tenham declarado ter sofrido violência por conta de seu gênero etc. Essas informações precisam aparecer no momento formativo de alguma maneira, pois são importantes para gerar a autorreflexão. 

Passo 3
No dia do primeiro encontro formativo, apresente uma pergunta disparadora, que pode ser diferente para homens e mulheres. Por exemplo: “Qual situação já vivenciei que, se fosse homem (ou mulher), o resultado seria diferente?” Abra espaço para que todas as pessoas falem. 

Passo 4
Anote as respostas em um local visível, como um cartaz ou o quadro da sala, e problematize as falas da equipe com cuidado e respeito. Algumas possibilidades de intervenção são pedir que todos argumentem por que acreditam que seria daquele modo e não de outro. Pergunte também como acham que as pessoas se sentiriam naquele momento e se é esse tipo de sociedade que queremos ter. Quando notar que as falas se tornam repetitivas ou que tenham cessado, resuma o que foi dito por escrito.

Passo 5
Leve uma notícia em que o tema desigualdade de gênero apareça para apresentar novas perguntas para o grupo. Uma sugestão é explorar o seguinte material jornalístico – Desigualdade de gênero no trabalho só acabará daqui a 257 anos, aponta Fórum Econômico Mundial – e depois perguntar como a escola pode atuar para mudar essa realidade. Nesse momento, pode ser interessante levantar uma discussão sobre as ideias de gênero neutro, não binário ou fluido. Para tal, você pode usar um trecho do podcast Mamilos e perguntar como as professoras e os professores compreendem todas essas letras e o que acham que gera incômodo para as pessoas falarem sobre gênero.

Passo 6
Já se aproximando do encerramento do encontro formativo, proponha que cada docente escreva uma carta para si mesmo, contando o que pensava sobre o tema igualdade de gênero e o que aprendeu durante a formação. A ideia é que todos tenham um tempo para organizar o que aprenderam, debateram e refletiram sobre o assunto. Garanta que ninguém precisará ler em voz alta ou compartilhar sua carta com o grupo nem com você, somente quem se sentir à vontade para se voluntariar. A ideia é realmente provocar um momento de conversa consigo mesmo. 

Passo 7
Convide as professoras e os professores que se sentirem à vontade para ler a carta em voz alta para o grupo e, depois, abra um espaço para debate. Explique que você conta com todos e com cada um para que esse seja um momento bastante respeitoso e de acolhimento. 

Passo 8
Indique referências bibliográficas, como a lista a seguir, para que o grupo possa continuar estudando o tema. Também é importante pedir que todos entreguem para você, em menos de uma semana, um formulário de feedback respondido, para que você compreenda o impacto da formação. Nesse formulário, é interessante perguntar coisas como “O que você pensava antes sobre desigualdade de gênero e o que você pensa agora?”, “De que modo os estudos e discussões feitas durante a formação podem transformar sua prática na escola e sua vida no dia a dia?”, e “Quais ideias de propostas você teria para instituirmos uma cultura de respeito à diversidade de gênero e luta pela sua igualdade?”


PARA SABER MAIS: 

Como se ensina a ser menina, de Montserrat Moreno, Ed. da Unicamp. Disponível em: <http://www.ulissesaraujo.com/wp-content/uploads/2020/05/ComoSeEnsinaASerMenina-MontserratMoreno.pdf>. Acesso em: 07 mar 2022.

Manual para o uso não sexista da linguagem, Secretaria de Políticas para Mulheres, Governo do Estado do Rio Grande do Sul.  Disponível em <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3034366/mod_resource/content/1/Manual%20para%20uso%20n%C3%A3o%20sexista%20da%20linguagem.pdf>. Acesso em: 07 mar 2022.

Um Guia para Professores sobre Orientação Sexual e Identidade de Género, Unesco. Disponível em: <https://healtheducationresources.unesco.org/library/documents/educar-para-diversidade-um-guia-para-professores-sobre-orientacao-sexual-e>. Acesso em: 07 mar 2022.

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