Da casa para a escola: como integrar as crianças à Educação Infantil
Saiba como os professores podem apoiar o início da vida escolar de forma a torná-la mais leve e tranquila para os pequenos e suas famílias
Ao lado da família, a escola é o principal espaço de socialização da criança. Na família, idealmente, elas são cuidadas e se sentem seguras. Já na escola, o cuidado continua e vem acompanhado pelo contato com a diversidade, com outros valores e costumes. Começar a frequentar este espaço, no entanto, pode ser um desafio para os pequenos e também para seus familiares.
Quando se deparam com algo novo, muitos adultos ficam ansiosos. A criança, que ainda está aprendendo a lidar com o mundo, também pode ter esse sentimento e demonstrar dificuldade para expressá-lo ou contê-lo. A primeira experiência social da criança é a família, onde ela se desenvolve rodeada de pessoas que conhece. A escola é um ambiente novo, diferente e com outras pessoas, e por isso, o primeiro contato pode ser angustiante quando não há uma estrutura de acolhimento preparada.
Antes da chegada da criança à instituição, é importante que a família se prepare para passar menos tempo com os pequenos e para o momento de adaptação que ele enfrentará. “Os pais precisam estar seguros de que a criança está pronta para este momento, conhecer e confiar na equipe da escola. E nós [educadores] temos de acolhê-los bem, porque a escola é um espaço da família também, não só da criança”, comenta Elisiane Andreia Lippi, professora de Educação Infantil e assessora pedagógica.
Paula Sestari, professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), explica o que os professores e a gestão da creche ou pré-escola podem fazer para recepcionar as famílias. “O primeiro passo é apresentar o espaço físico da instituição e a proposta pedagógica, com ênfase na importância das interações e das brincadeiras. No atual momento, também é importante explicar os cuidados de segurança contra a Covid-19, assim todos se sentem mais seguros”, comenta ela, que também aponta a necessidade de perguntar sobre o histórico da criança em outra escola e a rotina doméstica de quem nunca a frequentou ou ficou muito tempo em casa.
Em muitos casos, as crianças têm receio de ir para a escola por conta da insegurança da família. Um convívio muito intenso com os pais ou responsáveis, seguido de uma ida aparentemente repentina para outro local pode representar um desligamento ou mesmo um abandono para os pequenos. Por isso, uma vez que confia no trabalho realizado pela escola, a família deve conversar com as crianças sobre esse ambiente, explicando seus benefícios e que a separação é momentânea.
Já os professores precisam planejar espaços, materiais e atividades acolhedoras. “Precisamos de ambientes que despertem a curiosidade para que a criança fique tão atraída e segura que se sinta em casa na escola e queira voltar no dia seguinte para continuar explorando”, diz a professora Elisiane. Segundo ela, também é interessante investir em momentos como conversas, passeios para conhecer melhor o espaço, voltas pelo parque e observação de animais no entorno.
Nos primeiros dias na Educação Infantil, sendo eles de um primeiro contato ou de um retorno, é recomendado que os pequenos não passem todo o período na escola. Quando possível (de acordo com o espaço da escola e os protocolos de biossegurança), é interessante que um dos pais ou um adulto de referência para a criança passem alguns momentos do dia com ela na escola. Todos devem saber que o objetivo das famílias ali não é “vigiar” o trabalho dos professores, mas acompanhar os bebês ou crianças em um momento de adaptação. Por isso, o professor pode organizar atividades nas quais adultos e crianças interajam.
Pandemia e (re)adaptação
Apesar de ter acontecido no mundo todo e em todos os estados do país, a pandemia de covid-19 afetou as pessoas de diferentes maneiras. Enquanto algumas crianças vivenciaram o período de isolamento social em um local seguro, com acesso à alimentação adequada e com o acompanhamento integral de seus pais, outras tiveram perdas próximas na família, vivenciaram processos de luto e problemas socioeconômicos.
É difícil dizer quais serão todos os impactos deste período a médio e longo prazo, mas os professores podem observar alguns comportamentos diferentes no retorno às aulas presenciais ou ingresso no sistema educacional, como uma maior dificuldade de interação com os pares. “Algumas crianças estão chegando na escola com uma carga de emoções fortes que interferirão nas condições de aprendizagem. Não tem sentido insistir em ensinar, em fazer exercícios, em criar situações de aprendizagem da forma tradicional, anterior a essa situação, porque muitas crianças estarão impactadas emocionalmente e não conseguirão deixar o tenso clima emocional para entrar na serenidade do trabalho pedagógico, do brincar, do escutar histórias”, comenta Vital Didonet, educador, filósofo e assessor legislativo da Rede Nacional Primeira Infância.
Segundo Didonet, no retorno ou ingresso na escola, os professores não podem ignorar o momento anterior, ou seja, o que a criança vivenciou fora da instituição escolar. “As experiências que as crianças tiveram ao longo de um ano e meio de pandemia devem ser o currículo a ser trabalhado na escola”, reflete. Para isso, é preciso saber o que elas vivenciaram [através de sondagens com elas e com as famílias] e ressignificar essa vivência em momentos de brincadeiras, explorações e contação de histórias. Por exemplo, experimentar com os colegas um jogo que brincava em casa pode ser uma forma de relembrar o vivido e adaptar a criança mais facilmente na turma e escola.
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