PARA REPENSAR A PRÁTICA

5 respostas para replanejar Língua Portuguesa para o 3º, 4º e 5º anos

Entenda os desafios e os caminhos possíveis para repensar o ano, tanto no contexto de ensino remoto quanto de uma possível volta às aulas presenciais

É importante ter um olhar sensível para as dificuldades dos alunos. Ilustração:Nathalia Takeyama

Em tempos de pandemia e ensino remoto, o que deve ser considerado prioritário no ensino da Língua Portuguesa para 3º, 4º e 5º ano? NOVA ESCOLA ouviu quatro especialistas para saber o que é prioridade neste período em que escolas de todo o país estão fechadas, considerando tanto o contexto de uma possível volta às aulas quanto o de continuidade do ensino remoto.  

Maria José Nóbrega, Heloísa Jordão, Cláudia Vóvio e Fernando Rodrigues de Oliveira comentam os desafios do momento e propõem caminhos possíveis para se construir o replanejamento de 2020. Confira abaixo.

Por onde começar o replanejamento do ano letivo?

Considere as experiências dos alunos

O primeiro passo é ter um olhar sensível para as dificuldades dos alunos neste período de pandemia. Maria José Nóbrega, professora de pós-graduação no Instituto Vera Cruz e assessora pedagógica dos Planos de Aula NOVA ESCOLA, sugere que o professor organize rodas de conversa para ouvir e acolher os estudantes. Em relação ao desenvolvimento dos conteúdos, tanto agora quanto no retorno às aulas, é preciso diagnosticar o que cada criança conseguiu aprender durante a quarentena. “Sem julgamento, o professor precisa, no primeiro momento, saber em que ponto as crianças estão para poder organizar seu trabalho”, diz Mazé.  

Priorize atividades que trabalhem a leitura e a escrita 

Especialista em Língua Portuguesa e doutora em Educação pela USP, Heloísa Jordão lembra que o 3º ano é uma etapa crucial, em que deve haver uma consolidação das aprendizagens sobre o sistema de escrita. Isso porque espera-se que, depois do 1º e 2º ano, o aluno já esteja alfabetizado - tanto que a BNCC prevê que no 3º ano os estudantes comecem a aprender as regras ortográficas e as crianças passem a refletir sobre as convenções da língua. Isso pode ser feito por meio de jogos nos quais estejam envolvidas questões ortográficas que os alunos precisem resolver como cruzadinhas e jogos de completar letras. “Ao automatizar algumas regras básicas de ortografia os alunos ganham mais fluência na leitura e na escrita. Por isso, nossa meta é garantir que os alunos terminem o ano com esses saberes”, afirma Heloísa.

Comece a desenvolver habilidades voltadas à alfabetização digital 

Embora ainda haja muitos desafios a respeito da democratização do acesso à internet e a equipamentos eletrônicos, o contexto da pandemia pode ser o momento propício para começar a desenvolver com as turmas de 3º, 4º e 5º ano habilidades voltadas à alfabetização digital. Cláudia Vóvio, doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp e professora da Unifesp, diz que as tecnologias digitais favorecem atividades de diferentes práticas de linguagem. As crianças podem, por exemplo, registrar o cotidiano delas, fazer relatos orais, diários de descobertas e até mesmo saraus virtuais em que possam compartilhar algum talento. 

Aposte na ampliação do repertório leitor da criança

Com experiência nos anos finais do Fundamental 1, Fernando Rodrigues de Oliveira, doutor em Educação pela Unesp e professor da Unifesp, recomenda levar em consideração no replanejamento os limites de acesso de cada aluno e adaptar as atividades para o contexto familiar. “A BNCC sugere que os estudantes assistam a vídeos sobre culinária infantil, por exemplo. Mesmo uma criança que não tem acesso à internet consegue ver na tevê um programa desse gênero, observar, fazer anotações e, na sequência, trabalhar um texto instrucional”, garante o especialista. Além disso, o professor pode partir de textos de fácil circulação em casa, como um panfleto de supermercado, encartes e cartazes com informações sobre a pandemia. 

Devo considerar a colaboração das famílias no replanejamento?

A participação de pais ou responsáveis é importante nesse anos do Ensino Fundamental, mas é preciso ter bom senso. As famílias passam, neste momento, por uma situação de estresse provocada pelas mudanças na rotina, a crise econômica etc. Nem todas terão tempo e atenção suficientes para acompanhar as atividades escolares dos filhos. 

A recomendação é negociar acordos no sentido de garantir um espaço em casa para fazer as lições. 

Maria José Nóbrega sugere a criação de um canal de comunicação com as famílias pela internet. “Com tudo que está acontecendo, os pais também estão precisando falar e ser ouvidos.” 

Como trabalhar as habilidades socioemocionais?

O isolamento social nos colocou não só em uma situação inédita, como também em um contexto que pode causar muito sofrimento. Cláudia Vóvio aponta que é essencial que a escola acolha de algum modo essas vivências das crianças, especialmente por meio de uma escuta atenta e sensível. Por isso, é interessante proporcionar aos alunos espaços de fala, momentos e atividades para que possam se expressar. “Língua Portuguesa é a disciplina da expressão por excelência”, destaca Heloísa Jordão. 

Como avaliar os alunos de forma remota?

“O que seria avaliado exatamente? É difícil dizer, já que ainda estamos discutindo sobre o que trabalhar no ensino remoto”, questiona Cláudia Vóvio. As informações que mais podem ajudar os professores são aquelas que vêm das próprias tarefas. Para Mazé, mais do que atribuir nota, o educador deve fazer uma avaliação de caráter diagnóstico. “O mais importante é saber o que eles conseguiram aprender neste período para pensar no replanejamento”, afirma. 

Uma maneira de fazer isso, segundo Heloísa, é trabalhar com portfólios, que nada mais são do que um registro das atividades dos alunos, que pode ser feito em fotos, vídeos ou até em arquivos digitais de texto.

Qual o foco de cada um desses três anos?

Nesses três anos, espera-se a consolidação de habilidades que começaram a ser desenvolvidas no ciclo de alfabetização. 

No 3º ano, além de proporcionar atividades que trabalhem a expressão oral e escrita de cada criança, é importante que o professor se atente à ortografização para que os alunos reflitam sobre as convenções da língua escrita. 

No 4º e no 5º ano, se o professor identifica que o aluno já tem uma leitura e uma escrita fluentes, pode intensificar o trabalho com o campo da vida pública e campo das práticas de estudo e pesquisa. “[Nesse último caso] os caminhos da pesquisa e do trabalho em grupo devem ser bem delimitados pelo professor, com roteiros definidos e registro sistemático em um diário de bordo”, explica Heloísa Jordão. 

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