Para aprender com a prática

Fundamental 2: Todo aluno tem uma habilidade mais forte

Professor dos anos finais, Jair foca naquilo que os alunos podem se sair melhor e na integração com toda turma

No ensino remoto, o professor Jair tem recebido podcasts do aluno João, do 6º ano. Fotografias realizadas remotamente por Tainá Frota com o aparelho do professor Jair, respeitando o distanciamento social. 

O Ensino Fundamental 2 tem seus desafios e particularidades. Os alunos passam a ter mais professores, mais disciplinas, conteúdos mais complexos… e por aí vai. E para um estudante com deficiência eles são ainda mais ampliados. Só que em 2020 todos os estudantes, sem exceção, estão enfrentando um  obstáculo adicional:  a distância física com os docentes e colegas por causa da pandemia do novo coronavírus. 

Foi com esse cenário que Jair Ferreira, professor de História do Colégio Vida, em Osasco (SP), se deparou em meados de março. “Desde o início do ensino remoto, fiquei pensando em como tornar as minhas aulas mais próximas, assim como eram no presencial”, conta. 

Jair também estava preocupado em garantir que a experiência do ensino remoto fosse acessível a todos. Ele tem dois alunos com deficiência: João, do 6º ano, e Marina, do 9º. “Como eles não são alfabetizados, não entregam a atividade escrita, mas fazem a pesquisa em casa, como toda a turma”, explica.

No último mês, os adolescentes estudaram sobre Roma antiga (6º ano) e Guerra Fria (9º ano). “No caso do João, a gente começou a trabalhar com podcast em vez da entrega do trabalho escrito. Ele tem muitas habilidades com essa parte de tecnologia”, afirma. O garoto tem mais dificuldade de interagir nas aulas ao vivo, então o desafio de Jair tem sido integrá-lo melhor nestes momentos. Sendo assim, ele também faz seminários como toda turma.

Já Marina é mais “faladeira”. Jair conta que ela sempre interage com os colegas nas aulas síncronas e é visível seu desenvolvimento em relação aos outros anos. “Hoje ela entende melhor os conteúdos, as palavras, sempre faz perguntas - nem sempre com tanto foco na aula, mas faz parte”, exemplifica. Para contribuir ainda mais com esse desenvolvimento, Marina faz a apresentação do trabalho para toda a classe. 

Para Carla Mauch, coordenadora geral da Mais Diferenças Educação e Inclusão Social, “um dos grandes ganhos da Educação inclusiva é justamente mostrar que existem muitas formas de aprender e ensinar”. Isso, no entanto, não pode dar margem para objetivos de aprendizagem diferentes - isto é, que subestimem a capacidade do indivíduo só porque ele tem deficiência. O essencial, defende Carla, é garantir que todos os alunos tenham acesso às mesmas oportunidades.

Escuta ativa
Para tirar dúvidas, dar um apoio e ouvir o que tem funcionado ou não, Jair realiza atendimentos individualizados com os alunos depois das aulas ao vivo. “É um bom momento para saber o que eles capturaram da aula. Se for preciso, encaminho outra aula gravada sobre o tema para eles assistirem”, explica.

Praticar o diálogo com os estudantes é uma das estratégias que podem colaborar para a inclusão no ensino remoto ou presencial, segundo Carla. “Não é porque eles são adolescentes que não devemos colocá-los como sujeitos participantes e com voz ativa no processo de aprendizagem.” 

O trabalho de Jair mostra como é possível incluir todos os alunos, mesmo com os desafios do Ensino Fundamental 2.

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