7 livros para pensar sobre si, sobre o outro e sobre o tempo no Fundamental 2
Confira uma seleção de obras que valorizam o lugar do eu e ajudam a ampliar o olhar dos alunos sobre eles mesmos, sobre o mundo ao redor e encarar os percalços impostos pela pandemia
Embora qualquer gênero literário tenha o poder de gerar reflexões e sentimentos no leitor sobre si mesmo e o outro, os gêneros confessionais podem tornar os laços entre quem lê e quem escreve mais estreitos, com resultados ainda mais eficientes no desenvolvimento das competências gerais 8 e 9 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que tratam de autoconhecimento, autocuidado, empatia e cooperação.
Para Rafael Palomino, professor de Língua Portuguesa e selecionador do Prêmio Educador Nota 10, o momento da leitura literária é bastante especial na promoção do diálogo, o que ganha novos ares no atual contexto vivido por alunos e professores. “Um bom trabalho de leitura é aquele que constrói certa comunidade de leitores na classe, convidando os alunos a compartilharem impressões diversificadas, pontos de vista, trazendo suas lembranças pessoais à discussão.”
Nesse sentido, os gêneros confessionais tornam-se excelentes meios para a autorreflexão e a elaboração de experiências, além de promoverem o contato com o universo interior do outro e o estímulo à empatia e à construção de vínculos.
É claro que o ensino híbrido ou remoto dificulta a interação e a socialização tão importantes na hora do trabalho de leitura. Mas, contraditoriamente, quando se consegue levar os alunos a envolver-se com essa troca de impressões, a leitura torna-se significativa para todos. “Pode funcionar como um antídoto contra a tendência alienante da educação remota”, reflete Rafael.
Mazé Nóbrega, assessora pedagógica e consultora em metodologia de Língua Portuguesa de NOVA ESCOLA, Alex Nogueira, professor de Língua Portuguesa do Colégio Rainha da Paz, em São Paulo, e Rafael Palomino indicam sete títulos dos gêneros confessionais para serem trabalhados no Fundamental 2. Todos eles contam com aspectos que estimulam o autoconhecimento e a empatia. Depois das resenhas e de orientações para trabalhar com os alunos, você encontra uma ficha sobre cada obra para compartilhar com os alunos e despertar neles o interesse pelos títulos.
DIÁRIO
Sobre o livro: Traduzido em 14 idiomas, o diário da autora, uma catadora de papel, dá origem à obra, que apresenta o cotidiano triste e cruel da vida na favela. Com linguagem simples e contundente, Carolina fala sobre os anos em que morou no bairro do Canindé, em São Paulo, com os três filhos.
Por que vale ler com turmas do 6º ao 9º ano: Para conhecer um texto que rompe com a literatura canônica e que faz uso da palavra como meio de autorreflexão para superar o contexto de dificuldades que a autora enfrenta. Ótima oportunidade para explorar a empatia e conduzir o olhar para uma realidade social muitas vezes esquecida.
DIÁRIO
Sobre o livro: Trata-se do diário de uma garota da província do fim do século 19. Publicado pela primeira vez em 1942, antecipa a moda das histórias do cotidiano e dos relatos confessionais de adolescentes ao traçar um retrato bem-humorado da vida em Diamantina (MG) entre 1893 e 1895. De lambuja, o leitor é apresentado às inquietações de uma jovem espevitada às vésperas de um novo século.
Por que vale ler com turmas do 6º e do 7º ano: Para fazer uma viagem no tempo e reconhecer a vida de uma adolescente, com pontos em comum com a vida contemporânea, apesar da distância histórica.
MEMÓRIA
Sobre o livro: A cada receita, a autora conta "causos" de sua vida. Na obra, o leitor entra em contato com lendas da tradição popular brasileira e europeia, mitos indígenas, contos de fadas e histórias consagradas da mitologia grega.
Por que vale ler com turmas do 6º ano: Para despertar os sentidos para a alimentação como algo vital e cotidiano e que pode ser trabalhada por meio do relato de experiências e da troca da cultura alimentar que cada um carrega.
MEMÓRIA
Sobre o livro: O autor apresenta memórias de seus primeiros anos de vida, cheias de humor. Fala sobre o quintal de casa, os amigos da vila, as férias na praia, o divórcio dos pais, o cometa Halley, os desenhos animados que via na tevê, a primeira paixão, o sexo descoberto nas revistas pornográficas.
Por que vale ler com turmas do 9º ano: Para se deleitar com um texto em que o humor ajuda a rever e, por vezes, reelaborar experiências difíceis, e possibilita o estabelecimento de vínculos com as experiências que ele relata. Além disso, as reflexões do autor podem ser úteis e também criar identificação imediata com as lembranças ainda recentes dos estudantes.
MEMÓRIA
Sobre o livro: A autora apresenta suas memórias em quadrinhos, revelando que foi obrigada a usar o véu islâmico, embora nascida numa família moderna e politizada. Conta também sobre o que viveu e viu no início da Revolução Iraniana, em 1979.
Por que vale ler com turmas do 9º ano: Para discutir autobiografia por meio da política e a política por meio da autobiografia. E também porque o livro trata da questão do adolescer – com isso, muitas das questões são ligadas às mudanças corporais, à autodescoberta e à constituição do sujeito. A obra permite trabalhar a empatia em diferentes níveis, por conta da realidade de tempo e espaço diferente, e também o autoconhecimento.
AUTOBIOGRAFIA
Sobre o livro: Com humor e sensibilidade, a autora revela aos leitores que meninos que vivem na rua, tal como ela viveu, conhecem o significado de palavras como amizade, solidariedade e amor. Ela conta das brincadeiras com os amigos, do banho de balde, das histórias da avó...
Por que vale ler com turmas do 6º e do 7º ano: Para desconstruir preconceitos geralmente atribuídos às crianças que vivem nas ruas, a obra é uma ferramenta importante para o conhecimento de realidades diversas e para o exercício da empatia.
AUTOBIOGRAFIA
Sobre o livro: O texto conta sobre a ditadura civil-militar: Fernando Gabeira apresenta, em primeira pessoa, o sequestro do embaixador americano em 1969 realizado por jovens guerrilheiros, que reivindicavam a liberação de 15 presos políticos.
Por que vale ler com turmas do 9º ano: Para conhecer parte importante da história do Brasil de forma significativa, já que o autor conta sua história. A experiência pessoal reelabora dores, sofrimentos e perdas pessoais do autor, travar contato com isso ajuda a construir o sentimento de empatia e a ver nos fatos históricos mais do que apenas seu caráter factual. É possível entrar em contato com a dimensão humana que eles encerram e restabelecer os pontos de contato entre a vivência individual e a social.
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