Anos Iniciais: explore o Carnaval nas aulas de Arte

Assim como outras festas populares, o Carnaval é considerado patrimônio imaterial com potencial para expandir a expressão cultural dentro do ambiente escolar, onde ganha intencionalidade pedagógica e promove habilidades ligadas a todas as linguagens artísticas.

“O Carnaval é tão amplo que permite trabalhar todas as habilidades previstas pela Base Nacional Comum Curricular para o componente de Arte dos anos iniciais do Ensino Fundamental”, explica Inaê Coutinho, coordenadora de projetos do Instituto Arte na Escola. Inaê diz que o Carnaval permite a exploração da experiência criativa, que engloba todo o pensamento artístico. “Todas as habilidades falam de processo de criação e de elementos de linguagem, que são essenciais para a Arte”, diz.

Com esse ponto de partida, as quatro linguagens apontadas na BNCC – teatro, artes visuais, música e dança – podem integrar uma proposta de trabalho tendo o Carnaval como pano de fundo. Inaê alerta que, independentemente da atividade, o processo de criação deve ser o alvo – e não o produto final.

“O aluno precisa se sentir representado e a Arte é o lugar onde, dentro de uma proposta educacional, ele tem liberdade criativa”, destaca Inaê, que completa: “É por meio desse processo que a criança vai transformar essa experiência em uma expressão artística dela”.

Expressões e recursos variados

No campo das artes visuais, um dos pontos que a temática favorece é a possibilidade de investigação de diferentes materiais, como papéis, tecidos e tintas, o que cria, por sua vez, diversos desafios para os alunos. “As crianças podem confeccionar máscaras, fantasias e adereços inspirados em diferentes manifestações culturais relacionadas ao Carnaval”. Como exemplos, Inaê cita as máscaras usadas no Carnaval de Maragogipe (BA), considerado patrimônio cultural imaterial do estado, os estandartes que fazem parte de cortejos populares e também do Carnaval na avenida, e os bonecos mamulengos do Carnaval do Recife. No âmbito da música, do teatro e da dança, é possível buscar referências de escolas de samba ou de festas populares, com representatividades que vão do Norte a Sul do país. Do Nordeste, além do Maracatu, podem ser usadas referências como o frevo ou o coco, uma dança de roda.

O aluno também pode navegar pela cultura nacional com referências como o catira, do Centro-Oeste, ou a tradição dos bois, que acontece no Sul do país. É ainda possível ampliar para representações de outras regiões. Por exemplo, o boi-bumbá do Norte brasileiro ou ainda o Carnaval de rua do Sudeste, que pode ser explorado quanto à variedade de movimento, dentre outros aspectos. “O papel primário do trabalho deve ser lidar com esses objetos de conhecimento, com a materialidade e com o processo de criação, presentes em tudo.”

O papel do Carnaval na Arte e na sociedade

Ainda de acordo com Inaê, a liberdade criativa permitida pela temática do Carnaval tem relação direta com o lugar que a festividade ganhou na sociedade. “A experiência de brincar de pular, fantasiar-se, colocar máscara, cantar e dançar, ao mesmo tempo tem uma função de reequilíbrio interno, que atravessa o ser como um todo, e coloca a pessoa que passou por essa experiência física, emocional, psicológica, mental e intelectual em outro lugar”, revela.

Para ela, também existe uma conexão entre o papel do brincar para a criança e o papel social do Carnaval, que é desafogar as tensões impostas pela vida cotidiana dos adultos. “A arte tem esse papel secundário, terapêutico.” Para a criança, essa relação é muito útil porque se encaixa no processo de reelaboração de si própria. O papel da Arte na escola, nesse sentido, é que ela é o componente curricular mais integrador. Confira, a seguir, o passo a passo da sugestão de Inaê.

Vamos criar uma célula de dança!

Escolha uma música de Carnaval e estimule as crianças a se expressarem por meio do corpo

Indicado para: Anos Iniciais do Ensino Fundamental 

Material: Selecione uma música de Carnaval adequada para a faixa etária da turma. Por exemplo, a versão de Samba Lelê, do grupo Barbatuques.

Na BNCC: Todas as habilidades de Arte para os Anos Iniciais podem ser trabalhadas para a vivência da temática.

PASSO A PASSO

1. Convide a turma para curtir a música. Em roda, convide as crianças para a experimentação individual da música. Permita que elas dancem, movimentem o corpo. Observe e procure não intervir nos gestos.

2. Explique como vai funcionar a dinâmica. Após alguns minutos de experimentação, convide cada criança para apresentar um passo simples e autoral. Em sentido horário, peça que o aluno sentado ao lado refaça o movimento do colega, do seu melhor jeito e, logo em seguida, complemente com um passo criado por ele.  Assim, a complexidade da dança vai aumentar conforme os estudantes vão ampliando a coreografia com os passos adicionados por cada um deles.

3. Estimule os alunos a dançarem em grupo. Depois que todos tiverem participado, motive as crianças a seguirem a dança em conjunto, criando, desse modo, uma coreografia exclusiva da turma. Lembre-se: o processo de criação de cada aluno é mais importante do que o produto final. Nesse sentido, em vez de cobrar perfeição nos passos e sincronismo nos movimentos, analise se todos têm a chance de se expressar livremente, reflita sobre a variedade de passos sugeridos pelos estudantes, tome nota do repertório criado por eles etc.

4. Amplie a experiência. Caso seja possível, amplie a vivência com outras linguagens artísticas, convidando o grupo para criar adereços ou instrumentos musicais, por exemplo, para agregar à dança.