PARA SE INSPIRAR

Comunicação e Cultura Digital: uma rádio escolar sintonizada na BNCC

Com o apoio da professora Andreia Simon, alunos de Jundiaí (SP) escreveram, dirigiram e apresentaram um programa radialístico com curiosidades, notícias, entrevistas e músicas

Ilustração de uma mão segurando um fone de ouvido. Ao lado é possível ver um celular sobre a mesa com símbolo de reproduzir de uma plataforma de streaming musical
Ilustração: Julia Coppa/NOVA ESCOLA

Nos primeiros meses de 2019, bastava o sino do intervalo ressoar pelos corredores da EM Prof. Luiz Biela de Souza, em Jundiaí (SP), para que os corações de alguns estudantes disparassem também. Esse era o aviso sonoro de que estava na hora de começar mais um programa da Rádio Informe Biela, projeto criado pela professora Andreia Simon, uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2020. Escrito, dirigido e apresentado por alunos do 2º ao 5º ano no decorrer daquele ano, a atração midiática incentivou os estudantes a superarem a timidez e desenvolverem outras formas de se comunicar. Tudo alinhado às competências gerais Comunicação e Cultura Digital, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

“Quando soube que tinha sido encarregada de dar uma oficina de comunicação, não imaginei outra coisa: queria colocar no ar a rádio escolar”, lembra Andreia, que é professora de Língua Portuguesa dos anos iniciais e hoje atua na EM Carlos Foot Guimarães, também em Jundiaí. 

Ela explica que a ideia surgiu para que as crianças participassem da construção de todo o projeto, mas, principalmente, para diversificar a atuação delas na área da comunicação. “Se tivéssemos feito um jornal, por exemplo, teríamos pouca oralidade. Então, criei a rádio para trabalharmos com várias habilidades relacionadas à leitura, escrita e fala, todas voltadas à comunicação”, ressalta. 

O primeiro passo para a criação da rádio foi a escolha do nome. A partir de um concurso, a sugestão de uma aluna do 4º ano foi a vencedora da votação realizada entre estudantes e funcionários da escola. Na segunda etapa, os cerca de 60 participantes foram divididos em dois grupos e cada um criou uma vinheta diferente. Em seguida, passaram a se dedicar à estruturação dos programas, pesquisas sobre assuntos e notícias. 

Com uma curiosidade, três notícias, uma entrevista e uma música, cada programa tinha 15 minutos de duração. Os conteúdos eram escolhidos com a participação de toda a escola. Por exemplo: se alguém quisesse saber quem era o homem mais velho do país ou quem era o presidente da Bolívia, os pequenos comunicadores iam em busca de respostas. 

Para isso, tinham de fazer pesquisas na internet por meio de tablets, celulares, computadores e notebooks e, claro, com a supervisão da professora Andreia. Os conteúdos eram discutidos com o grupo antes de irem para os programas. 

As entrevistas eram feitas a partir de perguntas enviadas pelos alunos sobre personagens da comunidade escolar. Se algum estudante praticava um esporte ou tocasse um instrumento, por exemplo, era mais um motivo para ser entrevistado pelos radialistas. Nem mesmo os pais escaparam da curiosidade das crianças. Alguns foram até a escola para falar sobre suas profissões no programa. 

Com o tempo, os resultados do projeto iam aparecendo. “Eles melhoraram a leitura, a oralidade, a interpretação de texto e foram amadurecendo, também, na parte comportamental”, relata a educadora. “No início, tudo era novo e muitos tinham dificuldades para lidar com os equipamentos eletrônicos. Conforme íamos organizando a dinâmica, eles já foram pegando a prática com mais facilidade.”

Sintonia com a BNCC

“O projeto da professora Andreia contempla de forma exemplar o desenvolvimento da competência Comunicação”, explica Maria Paula Zurawski, doutora em Educação pela USP, formadora do Coletivo Curió e selecionadora do Prêmio Educador Nota 10. Um dos motivos é porque, segundo Maria Paula, as crianças precisaram identificar, selecionar e organizar informações para decidir de que forma seriam transmitidas, via rádio, para a comunidade escolar. 

A competência também é vivenciada na expressão e partilha de saberes na tutoria pelos colegas mais velhos: “Ou seja, envolve o exercício da comunicação entre as próprias crianças, que também precisam exercitar sua compreensão, formas adequadas de se fazerem entender, turnos de fala, perguntas e respostas, além de experimentar o que muda quando se está no papel de quem sabe mais ou é mais experiente”, diz Maria Paula.

Sobre a competência Cultura Digital, a especialista pontua que, para realizar os objetivos do projeto, as crianças realmente tiveram oportunidade de aprofundar sua compreensão e utilização dessa forma de comunicação, de alcance social tão democrático que é o rádio, acessando tecnologias a ele relacionadas, resolvendo problemas e se apropriando desse tipo de mídia.

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