Alfabetização depois de dois anos de pandemia é prioridade!
Como debater e definir estratégias com os pares e os gestores para ajudar as crianças a lerem e escreverem com competência e autonomia mesmo diante de tantos desafios
Em 2020, o mundo foi pego de surpresa pela pandemia da covid-19 e educadores de todas as partes do planeta depararam-se com desafios. Ninguém estava preparado para alfabetizar as crianças a distância, ainda mais quem trabalha valorizando as interações dos alunos, as duplas produtivas formadas por alunos com hipóteses de escrita diferentes etc.
Com o passar dos meses, os docentes que lidam com turmas de alfabetização desenvolveram uma série de estratégias para trabalhar com os alunos e reforçaram a exploração de outras. No entanto, muitas crianças tinham dificuldades para acessar os conteúdos on-line ou realizar as atividades impressas sem o acompanhamento do professor lado a lado, presencialmente. Por isso, em 2022, é imprescindível focar no ensino da leitura e da escrita.
Mais do que nunca, as turmas serão heterogêneas. “Numa turma, metade das crianças vai dominar o sistema de escrita e poder ser desafiada com questões ortográficas, enquanto a outra metade dos alunos estará dividida em grupos de silábicos com valor sonoro, sem valor sonoro e pré-silábicos, explica Selene Coletti, professora alfabetizadora, vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba (SP) e colunista de NOVA ESCOLA.
Além de ficar de olho nas turmas do 1º e do 2º ano, é imprescindível que a escola também inclua crianças de 3º, 4º e 5º anos nas estratégias e projetos de alfabetização, já que o período de afastamento das aulas presenciais foi longo e afetou muitas delas. Para tal, é importante que logo na semana pedagógica haja um ou mais momentos para que os professores realizem trocas entre si. “Para aqueles que nunca trabalharam com alfabetização, vai ser realmente mais difícil. É interessante que o professor converse com os colegas sobre como se alfabetiza, quais atividades são básicas e permitem os avanços das crianças”, sugere Selene. Também é válido indicar para os colegas bons livros e artigos sobre o tema.
Ainda durante a semana pedagógica, vale dedicar tempo para organizar o acolhimento e a avaliação diagnóstica das crianças. Ditado de palavras e frases, escrita de texto de memória e reescrita de texto de um gênero predeterminado são algumas estratégias que ajudam a diagnosticar o que os alunos já sabem e o que ainda precisam avançar. Com base nesse resultado, a escola poderá desenvolver projetos de alfabetização com base nas necessidades reais das crianças.
A professora Kely Cristina Nogueira Souto trabalha no Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Em 2021, ela deu aulas para o 3º ano e agora se prepara para assumir o 2º ano. Kely conta que atender alunos que ainda não consolidaram habilidades previstas é uma prática da escola. “Dentro do horário regular de aula temos três momentos de 1 hora e 30 minutos, em que dividimos as crianças em subgrupos e desenvolvemos um trabalho diversificado com elas.”
Três pontos de atenção para debater na semana pedagógica
Com a ajuda de Sele Coletti, NOVA ESCOLA elaborou uma lista sobre alfabetização em tempos de pandemia.
A. Trabalho com suporte da tecnologia
Provavelmente, as aulas voltarão ao formato presencial ou, no mínimo, num esquema de rodízio. Mesmo assim, não deixe de investir nas metodologias ativas e no uso da tecnologia em sala de aula. Use o celular para apresentar desafios para a turma, levar os alunos para fazerem atividades na sala de informática, trabalhe com jogos e atividades virtuais para tornar a aprendizagem mais dinâmica, atrativa e para ajudar os estudantes alunos a estabelecerem uma continuidade com os dois anos anteriores.
B. Contato com os alunos
Ao diagnosticar um estudante com dificuldade na leitura ou na escrita, não caia na tentação de pedir que ele refaça as atividades do ano anterior sozinho. Invista em estratégias e intervenções personalizadas e acolha a criança.
C. Contexto de cada família
Mesmo quando o foco é alfabetizar, o professor não pode perder de vista as outras habilidades importantes que os alunos precisam desenvolver e o contexto social em que a criança vive. Por exemplo, se um aluno do 3º ano ainda não está alfabetizado, o que acontecia ao redor dele nos anos anteriores? Ele conseguia acessar as aulas on-line? A família podia ajudá-lo nas tarefas? As atividades propostas o desafiavam, realmente, na medida certa?
Mais sobre esse tema