História

Como abordar o Carnaval com os alunos dos Anos Finais

Conhecida desde os povos antigos, a festividade de Carnaval permite explorar diferentes aspectos de identidade das comunidades

Colagem digital de alunos estudando sobre a história do carnaval.
Ilustração: Laissa Moreira/NOVA ESCOLA

Expressão cultural que permeia a sociedade ocidental há pelo menos seis milênios, o Carnaval é uma das festas populares mais conhecidas no Brasil. Por isso o tema pode enriquecer as aulas e permitir aprendizados que perpassam as comemorações e ajudam a contextualizar as mudanças históricas.

“O Carnaval vai além da festa em si. Envolve a questão da identidade comunitária, história das comunidades, relações econômicas, sociais e políticas. É um universo muito amplo”, reflete Danilo Eiji Lopes, coordenador de pesquisa e produtor de conteúdo do Museu da Pessoa, em São Paulo.

Justamente por se tratar de uma manifestação comunitária, o Carnaval permite que, na escola, se estude desde a história dos grupos envolvidos até a música, a oralidade, a vestimenta e seus significados. “É possível explorar também o rito que se perpetua ao longo dos anos, a religiosidade, a identidade de grupos e a compreensão de mundo”, aponta Danilo.

Por envolver um repertório amplo de significados, o tema permite o aprender a fazer, como preconizado nos pilares da educação da Unesco, além de identificar, comparar, contextualizar, interpretar e analisar um objeto de estudo. 

O folguedo do Cavalo Marinho na escola

Conheça a experiência do professor de História Bruno Rafael de Albuquerque Gaudêncio para alunos da EEEF Alceu do Amoroso Lima, em Campina Grande, na Paraíba, ao explorar uma festividade desconhecida pelos alunos. 

“Já explorei o Carnaval em diferentes perspectivas na escola. Um dos tópicos foram as manifestações e as festas populares, que abordei com os alunos. Era o início do ano letivo e a comemoração foi um ponto de partida para um projeto com cultura popular que já estava previsto no planejamento.

Selecionei sete festas populares da região da Paraíba e de Pernambuco que pudessem expandir as referências da turma. Dentre elas, a manifestação do Cavalo Marinho, que é da região, mas pouco conhecida entre os alunos. É um folguedo que mescla referências de outras manifestações. É muito colorido, brincante, tem o uso de máscaras e um roteiro teatral com personagens bem definidos. Junto com outras festas populares, o Cavalo Marinho também acaba sendo relembrado em desfiles na época do Carnaval.

Foi um trabalho que durou algumas semanas e, para cada festividade, eu apresentei um vídeo curto. No caso do Cavalo Marinho, usei um vídeo de Mestre Salustiano, uma das principais figuras dessa manifestação em Pernambuco. Busquei mostrar como a dança é configurada para ser uma brincadeira e, ao mesmo tempo, está relacionada a uma identidade cultural muito forte.

Inicialmente, os estudantes acharam muito engraçado e estranho, aquilo não fazia parte da realidade deles. Talvez, se fosse em uma comunidade rural onde a manifestação existisse, o estranhamento da turma não tivesse ocorrido. Estudamos também a região onde o Cavalo Marinho é mais forte, na zona da mata pernambucana e paraibana, onde se cultiva cana de açúcar. Com isso, chegamos a um ponto bem interessante: relacionar História com Geografia, as condições políticas e geoeconômicas do canavial e como essas festas eram uma espécie de refúgio, em geral negros escravizados, que encontravam viam na dança um modo de exorcizar a dor e demonstrar alegria.

A turma ainda pôde conhecer alguns instrumentos, como a rabeca, o pandeiro, o ganzá e o reco-reco. Também falamos sobre os elementos e os personagens da festividade, dentre eles, o Capitão, o Bastião, o Catirina, o Boi etc.

Na época que realizei o trabalho na escola, fiz questão de mostrar que, mesmo que estivéssemos na área urbana, havia todo esse histórico cultural a conhecer. Os alunos que moram na cidade, em geral, não conhece esse tipo de manifestação. E é realmente importante apresentar para eles as festas, as brincadeiras, analisar o que significa a cultura chamada popular e como as manifestações acabam sendo incorporadas por outros artistas e apropriadas por gêneros musicais ou culturais com o passar do tempo.”

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