Como ensinar

Confira 3 etapas para elaborar aulas e avaliações alinhadas à Base

Base prevê atenção especial ao processo criativo e sensível, mais do que ao resultado das atividades na aula de Arte

BNCC: alunos devem assumir o papel de protagonistas. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola 

A proposta da BNCC é romper com uma linha de planejamento muito comum nas escolas: pedir para que os alunos produzam a partir de um tema proposto pelo professor e para que façam depois uma exposição para os pais e para a comunidade.

A Base propõe que os alunos assumam papel de protagonistas e que possam não só ajudar a definir os temas a serem tratados, mas sentirem-se mais livres para criar, dando vazão à sensibilidade de maneira mais plena. O desenho das aulas deve ser feito considerando também o interesse dos alunos, assegurando o desenvolvimento das habilidades essenciais. "A partir de agora, o primeiro passo é fazer um círculo na sala de aula, dialogar, escutar os alunos. Tem de ter um planejamento, de onde consta o que precisa ser apresentado”, afirma o educador e formador Henrique Lima, do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte.

O artista plástico e educador Carlos Barmak, coordenador do educativo do Museu da Casa Brasileira, afirma que o professor nem sempre deve direcionar, ou seja, lançar um tema sobre o qual as crianças devam refletir e pesquisar, até que elas mesmas sejam capazes de construir suas próprias produções. “A criança pode trazer alguma informação de algo que ela viu e, assim, pode-se dar início a um longo processo de investigação. O professor pode acolher essa demanda, socializar, fazê-la reverberar. As falas dos alunos podem enriquecer muito o processo”, reflete.

A seguir, veja como elaborar aulas de Arte alinhadas à Base em três etapas


Trabalho em etapas
A proposta é estruturar as aulas em sequências didáticas ou projetos, em modalidades que permitam organizar o tempo didático para enfatizar o processo de criação, algo que pede a Base. “Não é tarefa fácil olhar para o processo, pois as sociedades contemporâneas valorizam os produtos e as ações objetivas para se chegar a resultados. Mas quando pensamos o processo e organizamos as aulas com esse objetivo, possibilitamos o contato dos estudantes com conteúdos em diferentes dimensões, o que favorece a construção de conhecimentos mais profundos, aprendizagens mais significativas e complexas”, afirma Marisa Szpigel, formadora e professora de Artes na Escola da Vila.

Ao professor, cabe o papel de observador atento, em todas as etapas do trabalho. Ele pode tanto estimular o diálogo sobre desafios e descobertas individuais e coletivas quanto pode apresentar referências que alimentem e ampliem os conhecimentos dos estudantes, dentro de seus próprios processos de pesquisas. “Além de potencializar as aprendizagens, esse acompanhamento, durante um tempo mais longo, faz com que os professores conheçam de fato os estudantes, intensificando vínculos”, diz Marisa.

A mesma visão de processo pode ser adotada quando se trabalham obras de outros autores. Mais do que refletir sobre o produto final, os alunos podem pensar sobre como foi feito, com quais motivações e por quem. Sob essa perspectiva, fica mais fácil ler a poética do outro e até encontrar a própria. “Os alunos também precisam aprender sobre generosidade, amor, poesia, algo que só é traduzido pela arte. As artes ajudam a sensibilizar as pessoas. Quando o estudante percebe as nuances da obra de arte, percebe, ao mesmo tempo, a delicadeza do outro”, explica Lima.


Na prática
Marisa Szpigel dá exemplos práticos de como abordar diversas dimensões de um mesmo tema em sala de aula, em uma sequência didática. Se o professor vai trabalhar com performance, uma linguagem menos presente no cotidiano dos estudantes, por exemplo, pode ser interessante abordá-la inicialmente pela fruição, apresentando pelo menos dois vídeos de performances para um primeiro mergulho na linguagem. Os alunos, em pequenos grupos, podem conversar sobre suas impressões, analisar semelhanças e diferenças. A elaboração de um texto individual, com o desafio de explicitar sensações e sentimentos, pode levar à reflexão sobre a linguagem e suas potencialidades. Essas experiências são fundamentais para dar recursos para os estudantes criarem suas próprias performances.

Porém, a maneira de estruturar o processo deve variar, de acordo com o conteúdo e os objetivos definidos. Se o conteúdo for grafite, por exemplo, a primeira dimensão a ser acionada pode ser a criação, principalmente se a escola estiver em um grande centro urbano, uma vez que a linguagem é muito presente na vida deles.

O mais importante é que cada tema seja abordado em mais de uma dimensão. “Essa tomada de decisão sobre as dimensões que serão abordadas e de que forma precisa ocorrer no momento do planejamento”, recomenda Marisa.


Avaliação
Evite aplicar uma avaliação única, ao final da sequência. Uma possibilidade é propor que os alunos se autoavaliem a cada etapa do processo. “Mas para isso é preciso uma mudança de atitude por parte do professor, que terá de compartilhar com os estudantes, desde o início de cada projeto ou sequência didática, os critérios de realização, mesmo que eles sejam modificados ao longo do percurso”, explica Marisa. O portfólio é outro instrumento interessante para avaliar o processo, pois evidencia as diferentes trajetórias dos estudantes.

Para Lima, é preciso deixar bem claros os critérios de avaliação e observar os alunos a cada dia, acompanhando passo a passo o desenvolvimento deles. Também é função do professor desmitificar a ideia de bonito e feio, e acolher os erros que eventualmente possam ocorrer no processo. “Se for preciso, ajustar a rota com o aluno, fale com ele reservadamente. Às vezes, retomar um conceito e deixá-lo mais claro é o bastante para que o aluno seja capaz de encontrar um caminho melhor por si só”, afirma Lima.

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