Entrevista com especialista

Professores de Arte podem planejar atividades e depois incluir demandas da BNCC, diz especialista

Em entrevista, Rosa Iavelberg indica fazer o caminho inverso ao planejar para o componente

Professor de Arte tem o papel de promover aprendizagens nas seis dimensões do conhecimento. Ilustração: Rita Mayumi/Nova Escola

Em entrevista a NOVA ESCOLA, a professora Livre Docente e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Rosa Iavelberg, fala sobre avaliação, recursos e plajenamento para adaptar o ensino de Arte à Base. Confira a seguir. 

NOVA ESCOLA: Na sala de aula, qual é o papel do professor enquanto mediador dos processos de criação, expressão, fruição, estesia, reflexão e crítica da Arte?
Rosa Iavelberg: O papel do professor de Arte é o de promover as aprendizagens nas seis dimensões do conhecimento propostas na BNCC, sabendo que elas estão articuladas entre si nas ações do aluno. Entretanto, pode ocorrer que uma das dimensões, a depender da atividade, tenha uma tônica mais acentuada que as demais.

Quais devem ser os limites da mediação entre professor e estudante, para que o propósito didático se mantenha, mas a intervenção não seja excessiva?
O professor não pode conduzir o que o aluno deve fazer ditando o passo a passo, os enunciados das tarefas podem ser interpretados pelos alunos nos atos de criação, ao trabalhar nas seis dimensões do conhecimento. Porém, a orientação e o acompanhamento dos alunos nas situações de aprendizagem é parte do trabalho do professor.

A maneira de planejar as aulas tem de mudar, para que as dimensões e os conteúdos propostos pela Base sejam contemplados?
A BNCC de Arte não descreve conteúdos, mas sim, habilidades. Os conteúdos serão planejados e definidos pelas escolas. O planejamento vai mudar, pois as habilidades e competências gerais e específicas da Arte que incidem sobre os objetos de conhecimento precisam estar associadas aos conteúdos definidos pelas equipes escolares. De qualquer forma, uma maneira de garantir a autoria dos professores no desenho curricular do componente é construir as sequências didáticas antes de consultar a BNCC, ou seja, fazer o caminho inverso do habitual. Planejadas as sequências, pode-se cotejá-las com o documento para verificar encaixes e faltas em relação às demandas da Base. Quando não houver coincidências entre habilidades e competências planejadas e as da BNCC, pode-se passar as sequências para a parte diversificada garantida pelo documento ou incluir alguma habilidade e competência às já planejadas, sem perder a intenção dos professores e suas autorias. Esse trabalho pode ser realizado, pois sua pertinência já foi verificada por nós, junto a grupos de professores de Arte.

As avaliações precisam mudar, para acompanhar as mudanças da BNCC?
Sim. A tônica das avaliações recai sobre as habilidades a serem aprendidas e as competências a serem desenvolvidas. Entretanto, estas só podem ser concretizadas mediante a aprendizagem dos conteúdos a elas relacionados.

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os estudantes estão desenvolvendo competências relacionadas à alfabetização e ao letramento. Como, nesse contexto, garantir que o trabalho com as linguagens da Arte não perca espaço?
Se o desenho curricular abarcar o espaço de tempo adequado ao Ensino da Arte, esse problema não existirá.

A BNCC propõe que diferentes habilidades sejam trabalhadas durante o primeiro e o segundo ciclos do Ensino Fundamental. Que estratégias o professor pode utilizar para garantir que conceitos e processos se aprofundem nos anos finais do Ensino Fundamental?
O número de habilidades do componente não é extenso como o de áreas como Língua Portuguesa, por exemplo. Isso facilita o nosso planejamento, de modo a contemplar o que está proposto no documento.

Como dar conta de tantas práticas em algumas poucas aulas semanais?
Acredito em negociações junto aos pares e gestores para garantir o espaço necessário ao componente. Sabe-se que Associações nacionais e estaduais de arte e de educadores lutam pelo papel da Arte no desenho curricular junto aos órgãos públicos e isso precisa acontecer nas escolas.

Outra questão é a falta de recursos das escolas públicas para permitir a vivência desse leque tão grande de atividades que a Base propõe. Que estratégias podem ajudar o professor a lidar com esses desafios?
A criação didática e a resolução desses problemas competem aos profissionais das escolas, que conhecem as especificidades de cada contexto de trabalho. Nem tudo depende dos professores, mas de políticas públicas. Não temos estratégias mágicas para solucionar o descaso com as necessidades do componente, mas é imperativo que se reivindiquem as condições para que o trabalho possa ter a qualidade que merece.

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