O que é o projeto político-pedagógico (PPP) e por que revisá-lo na Educação Infantil
O documento registra o percurso histórico de uma escola, que pode aproveitar momentos como o da pandemia para refletir sobre seus valores e sua proposta
O projeto político-pedagógico (PPP) de uma escola de Educação Infantil pode ser muito mais do que um documento burocrático. Ao abrir-se para o território, os sujeitos envolvidos, o contexto social, e unir histórico e objetivos, ele ganha vida e se torna um norteador dos processos de ensino e aprendizagem e das relações que se dão naquele espaço. Mais importante, ele responde a uma questão crucial para a Educação: o que essa escola pode fazer, para além de observar o cumprimento de objetivos de desenvolvimento e aprendizagem?
“O PPP concentra a missão, os valores, a filosofia, a proposta pedagógica, a identidade e como a escola atua nas diferentes frentes em busca da qualidade da Educação. Mas, para isso, ele não pode ficar guardado em uma gaveta. Ele tem de ser como um membro da escola”, brinca Priscila Arce, diretora da EMEI Borba Gato, em São Paulo (SP).
Isso significa permitir que professores, funcionários, estudantes e seus familiares possam dialogar com esse documento, refletindo em conjunto sobre o que esperam da escola, e quais são os recursos materiais e imateriais que o território, a comunidade e a instituição possuem para apoiar a concretização desses objetivos.
Para além de fazer um balanço do presente e desenhar o futuro, o PPP também registra o percurso histórico de uma escola, evidenciando as conquistas atingidas ao longo dos anos e o que ainda precisa ser superado. Isso facilita, inclusive, a continuidade de projetos e concepções pedagógicas quando ocorre a partir da troca de gestão ou de educadores.
Porém, como lembra Vera Christina Figueiredo, responsável pelo projeto pedagógico do Grão de Vida, que cuida de dois Centros de Educação Infantil em São Paulo (SP), “a experiência nos surpreende”. Por isso, é interessante estabelecer uma periodicidade para revisar o PPP e permitir que este esteja sempre em movimento, acompanhando mudanças na sociedade e no espaço educativo.
“A escola, como é uma coisa viva, se transforma. Novos estudantes, famílias e professores chegam e outros saem, e então é preciso uma visitação coletiva constante a esse ideal de escola que se tem, para que todo mundo compreenda o que ela é e possa dizer o que deseja que ela seja”, explica Joice Lamb, diretora pedagógica na EMEF Professora Adolfina J. M. Diefenthäler, em Novo Hamburgo (RS) e consultora de NOVA ESCOLA.
Para promover essa revisão do documento, Vera sugere começar com uma leitura a partir de três pontos centrais: o que deu certo, o que pode ser adaptado e o que deve ser descartado. “Esse deve ser um momento de autoavaliação da equipe, para refletirmos sobre a nossa atuação, e não apenas para preencher um documento”, diz.
Os impactos da pandemia: um ponto a ser considerado na revisão do PPP
A pandemia do novo coronavírus abalou as estruturas da Educação e exigiu esforço coletivo para planejar e executar formas diferentes de ensinar e aprender. Foi nesse momento que, para a EMEI Borba Gato, o PPP tornou-se ainda mais relevante. “Um dia estávamos na escola e, no outro, estávamos isolados, nos reinventando. Foi aí que o PPP entrou como documento norteador, permitindo essa mudança de rota sem deixarmos de lado a nossa essência”, conta a gestora Priscila.
Esse processo de desestruturação levou muitos educadores a questionarem qual é, afinal, o papel da escola na formação dos sujeitos e na constituição de uma sociedade. “O que estávamos ensinando antes da pandemia que serviu para essas crianças quando elas estavam longe? O que faltou a gente ensinar? Estas são algumas boas perguntas para se fazer”, recomenda Joice.
Neste começo de 2021, tanto sistematizar no PPP as práticas pedagógicas e outras ações exitosas do período de trabalho remoto (saiba mais aqui) quanto acolher no documento as diferentes reflexões feitas acerca do papel da escola pode ser um caminho para desenhar a Educação necessária para o mundo pós-pandemia.
“É importante registrar, colocar na memória da escola, esse momento inédito, que alterou tanta coisa. Assim podemos seguir escrevendo nossa história, ainda que agora com um roteiro totalmente diferente”, diz Priscila.
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