PARA SE INSPIRAR

Atualidades e História: O que você precisa saber sobre a China para suas aulas?

As professoras de Geografia Beatriz Moço Dias e Juliana Flecher selecionaram sete temas atuais e sete curiosidades históricas e culturais sobre o gigante asiático. Baixe também um PDF com competências e habilidades da BNCC para trabalhar o país com os alunos

Ilustração em técnica tradicional chinesa/japonesa de caligrafia mostrando uma professora conversando com seus alunos em frente a um templo.
Ilustração: Victoria Mitie Koki/NOVA ESCOLA

A pandemia do novo coronavirus reforçou a presença da China no noticiário e nas conversas cotidianas. Mas não é de hoje que os olhos do mundo estão atentos aos movimentos do gigante asiático: a dualidade de seu sistema político, a cultura que se contrapõe a muitos dos valores ocidentais, a força de sua economia e a iminente possibilidade de o país tornar-se a maior potência do mundo instigam pesquisadores e são pontos-chave para compreender as dinâmicas do mundo contemporâneo. 

“Esse capitalismo de Estado, como eles chamam, trouxe mudanças para a vida dos chineses nos últimos 40 anos”, conta Lourdes Zilberberg, doutora em Política e Gestão da Educação Superior e diretora local do instituto Confúcio para negócios da Faap. Segundo ela, o processo de abertura do Partido Comunista Chinês (PCC) coincide com os altos investimentos feitos no desenvolvimento das cidades, o que mudou profundamente a sociedade, levando o país ao posto de segunda maior potência do mundo. “Outro ponto crucial para compreender a China é a inovação. Antes a China copiava a tecnologia estrangeira, mas agora se propõe a ser um país de inovação, concebendo a inovação com grande investimento em ciência e tecnologia”, ressalta. 

Ainda no campo da inovação, uma das principais disputas das relações internacionais na atualidade é a chegada da nova tecnologia 5G e as polêmicas que envolvem a novidade, como a disputa entre Estados Unidos e China, as invasões de privacidade e o controle de dados. Ainda no campo do desenvolvimento tecnológico, entram em cena a pandemia e as vacinas, já que esse país asiático é o maior produtor, tanto do produto final quanto dos insumos para a fabricação dos imunizantes. 

O avanço da China no comércio internacional, que tanto incomoda seu principal rival, os EUA, passa também pela chamada Nova Rota da Seda, que promete integrar novas fronteiras comerciais, como o Sudeste Asiático e países da África. “O financiamento, por meio do governo chinês, de telecomunicações e trens de alta velocidade, cria certa dependência geopolítica com relação ao governo chinês”, resume Lourdes. 

NOVA ESCOLA conversou com duas professoras de Geografia do Time de Autores — Beatriz Moço Dias e Juliana Flecher — e elencou os principais pontos para levar a China de forma atualizada e interessante para as salas de aula do Fundamental. Confira abaixo sete temas atuais e sete curiosidades sobre o gigante asiático e um PDF com as principais competências e habilidades da BNCC que podem ser desenvolvidas em suas aulas sobre China (baixe aqui ou ao fim da matéria).

CHINA NA BNCC

divisória

7 TEMAS E 7 CURIOSIDADES PARA ENTENDER A CHINA EM 2021

Por Beatriz Moço Dias e Juliana Flecher


7 TEMAS ATUAIS SOBRE A CHINA

As relações geopolíticas da China na Ásia
Em especial, os conflitos separatistas e as implicações históricas envolvendo a hegemonia da China, com destaque para as questões envolvendo Taiwan, Hong Kong e Tibete.

A guerra comercial entre China e EUA
Há um duelo entre as potências que mostra a fragilidade do comércio internacional dos Estados Unidos em relação à China. Confira reportagem da BBC News Brasil sobre o tema.

O poderio atual da economia chinesa
É fato que o sistema político chinês teve alterações ao longo dos anos para favorecer a abertura de mercados, em especial em 2001, com a entrada para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Entretanto, o país declara ter um regime socialista e uma economia de mercado. Porém, no cenário mundial, há algumas incertezas a respeito da autonomia das empresas chinesas, com destaque para a atual polêmica envolvendo o Tik Tok, com acusação dos estadunidenses de que não há segurança dos dados dos usuários. Entra aí, também, a polêmica em torno do 5G. 

A pandemia do novo coronavírus
Para além da situação presente, a abordagem histórica se faz muito necessária, pois várias epidemias virais importantes surgiram na China nas últimas décadas, como o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave(Sars) em 2003; a gripe aviária A (H5N1) em 1997; a gripe de Hong Kong em 1968 e a gripe asiática em 1957. O tema é interessante para se descortinar, pois há muita informação falsa, especialmente sobre o início da pandemia, e pouco se fala em relação à questão das vacinas, produzidas principalmente no país asiático. A questão da pandemia serve ainda para se falar de globalização, de um mundo cada vez mais interligado, onde as pessoas se movimentam nesse espaço geográfico. 

BRICs
Quando falamos sobre as economias em ascensão e os BRICs — grupo de países emergentes em que estão incluídos Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, é fundamental falar também das potências regionais, mostrando o papel que cada país desempenha dentro da economia e do comércio internacional e as relações entre eles, que mudaram muito nos últimos anos. Confira uma reportagem que traz o balanço dos BRICs nas últimas décadas.

Xenofobia e fake news
Desde o anúncio dos primeiros casos de covid-19, na província chinesa de Wuhan, as redes sociais foram invadidas por inúmeras fake news sobre a origem da doença e a responsabilidade dos chineses por sua disseminação, o que fez nascer uma forte onda de xenofobia — em especial de sinofobia, ou de sentimento antichinês — em todo o mundo. “Surgiram muitas notícias e as pessoas realmente falam que a culpa da pandemia é da China, porque o chinês come morcego, o chinês come isso, come aquilo... E o que eu sempre falo para os alunos é que a gente tem de sempre buscar a fonte”, orienta Juliana. “A internet é uma ferramenta importante nesse processo e vale a pena explorá-la de forma mais assertiva com os alunos, dando o caminho das pedras para que eles possam concluir”, afirma.

“O preconceito e a desinformação só podem ser combatidos com conhecimento, portanto, assuntos atuais precisam ser discutidos e incentivados no âmbito escolar”, concorda Beatriz. Ela lembra ser necessário, neste momento, colocar em prática o que está previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ou seja, desenvolver em nossos estudantes o Conhecimento (Competência Geral 1), o Pensamento Científico, crítico e criativo (Competência Geral 2) e a Empatia e cooperação (Competência Geral 9), para que eles possam entender e explicar a realidade a partir da investigação científica, sempre com empatia, diálogo e cooperação, sem espaços para preconceitos os estereótipos.

Confira uma sugestão de atividade de um debate regrado sobre xenofobia e sinofobia aqui.

Para saber mais:
Mesmo sem eleição, fake news e desinformação serão temas em 2021
Cuidado com a fábrica de mentiras
Plano de aula - Fake News: como trabalhar em sala de aula
Plano de aula - Fake news: notícias criadas e falseadas

A relação entre Brasil e China 
O forte desenvolvimento econômico da China nas últimas décadas elevou o país a um dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil. É a China o principal comprador de importantes commodities brasileiras, como o minério de ferro, além dos produtos agrícolas. Na outra mão, o Brasil é comprador de produtos industrializados dos mais variados tipos, de itens de vestuário e brinquedos a produtos de alta tecnologia, como celulares, computadores e equipamentos industriais. Essa relação fez minguar a indústria local e elevar a dependência da balança comercial pelos bens primários. “Essa questão de parceria comercial com a China é muito importante para o aluno entender que a nossa balança comercial com a China não é tão favorável assim. Não compramos muito mais produtos chineses do que eles efetivamente compram de nós”, reflete Juliana. Um primeiro passo para abordar o tema é estimular os estudantes a pensarem nessa relação. “O que nós fornecemos para eles?" 

Para Beatriz, uma ótima forma de relacionar os dois países é justamente abordando as relações econômicas e comerciais entre eles, pois os impactos desse cenário internacional acabam gerando consequências no cotidiano dos estudantes. Um exemplo é abordar os preços dos alimentos, como a carne, que sobe devido aos preços das commodities que encarecem o produto no mercado interno. “Além dos produtos chineses que nossos estudantes consomem, afinal de contas, o Tik Tok é uma febre entre a garotada”, lembra a professora.

Para saber mais: 
Qual é a participação da China na economia brasileira?
Planos de aula sobre Estados Unidos, China e Brasil na Ordem mundial
Plano de aula - Guerra comercial entre potências: Made in China x America First
Plano de aula - Problemas relacionados à poluição industrial na China
Plano de aula - Meio ambiente e crescimento econômico da China


7 CURIOSIDADES SOBRE A CHINA 

1. China milenar e moderna. As imagens mais populares da China são da Muralha da China ou das cidades cheias de arranha-céus, O milenar e o supermoderno convivem no vasto território chinês, com uma população de quase 1,4 bilhão de pessoas. Mas esse país é ainda mais diverso. O litoral chinês é a parte do território mais desenvolvida do ponto de vista urbano, mas há desertos, áreas montanhosas, pessoas que ainda vivem em cavernas. “É bem interessante essa questão da diversidade do território, onde se misturam práticas tradicionais com o que há de mais moderno”, pontua Juliana.

2. Diversidade. Muitos alunos acreditam que a China tem uma única etnia, mas são diversas. São grupos distintos entre si que guardam, inclusive, relações de preconceito entre eles. 

3. Aumento dos idosos. Com as políticas de restrição da natalidade e o avanço da medicina e da qualidade de vida dos chineses, o país vive atualmente um aumento expressivo da sua população idosa, o que traz certa preocupação do ponto de vista político e econômico. 

4. Bilionários chineses. A China é o país com a maior população de bilionários do mundo. O gigante asiático somou 253 novos bilionários somente no último ano e domina amplamente o ranking mundial, com um total de 992 super-ricos, número que duplicou nos últimos 5 anos. A economia chinesa é a única que cresceu mesmo em 2020, quando o mundo todo foi duramente afetado pela pandemia do coronavírus.

5. Fuso horário. Embora seja um dos países com grande tensão territorial, ela escolheu adotar um único fuso horário para todo o território. 

6. Potência mundial há séculos. A China sempre foi uma potência mundial. A partir do surgimento do cristianismo, essa nação teve a maior geração de riqueza do mundo até o século 19, tendência interrompida por causa da Guerra do Ópio de 1839. O império chinês tentou impedir o comércio de ópio da Inglaterra aos chineses, ao perceber como aquela droga estava devastando sua população. A guerra foi sangrenta. Apesar de a China ter sido a civilização que inventou a pólvora, não tinha sido inserida na Revolução Industrial europeia e, portanto, tinha evoluído menos seu poderio de fogo. Para não ser totalmente dizimada, fez um acordo com a Inglaterra, cedendo algumas regiões portuárias, entre elas Hong Kong, questão que persiste até hoje. Depois dessa derrota, ainda houve algumas outras batalhas não bem-sucedidas contra o Japão. Isso marcou os anos entre 1839 e 1949 como o século da humilhação chinesa, levando a população a uma miséria extrema.

7. Tecnologia. De fábrica do mundo a referência em tecnologia. Em 2013, o presidente Xi Jinping entendeu que o país precisava investir em tecnologia para se tornar uma nação competitiva no futuro. Começaram a combater a pirataria – centros comerciais foram fechados pela polícia – e a corrupção, com milhares de pessoas desaparecidas. Decidiram apoiar alguns setores que iriam viabilizar essa mudança no país, entre eles, a Inteligência Artificial. A China tem o objetivo de ser potência mundial nesse tema até 2030. Nesse sentido, temos hoje a Huawei, uma das líderes globais na tecnologia 5G.

Para saber mais:
China, uma trajetória milenar
Plano de aula - Paisagens da China
Plano de aula - A Revolução Chinesa
Plano de aula - A tensa relação entre China e Taiwan
Plano de aula - Características e potencialidades dos países emergentes


CHINA NA BNCCdivisória

Mais sobre esse tema