Para repensar a prática

Como planejar festas juninas (e julinas!) cheias de conteúdo e diversão na sua escola

As celebrações populares do meio do ano são parte do repertório cultural do Brasil e podem inspirar atividades e reflexões mesmo em tempos de pandemia

Ilustrações de milho, balão e maçã caramelizadas, objetos e alimentos típicos das festas juninas.
Ilustração: Paola (Papoulas Douradas)/NOVA ESCOLA

As celebrações de festas populares sempre são motivo de grande expectativa para a comunidade escolar. Em muitas regiões do Brasil, os meses de junho e julho são marcados pelas tradicionais festas juninas (e julinas): aquele tempo gostoso para comemorar com danças, bandeirinhas, fogueiras, comidas típicas e muita música. 

Esses ícones presentes no imaginário coletivo podem inspirar atividades para a escola envolver as crianças, os alunos e toda a família, mesmo em tempos de pandemia.

Para além das festas, é fundamental estudar, organizar e se planejar para explorar com a classe o repertório cultural, a valorização e fruição das diversas manifestações artísticas e culturais, tal como prevê a competência geral Repertório cultural descrita pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

“O Brasil tem uma cultura muito rica. É importante que tenhamos consciência do que são nossos festejos populares, como surgiram e quais foram as influências, o contexto histórico por trás das danças, das músicas”, diz Janaina Peresan professora de expressão corporal no Colégio Oswald de Andrade, na capital paulista. 

Mas como explorar tudo isso de um modo que faça sentido para as crianças e adolescentes? divisória

Raio X - Festas Juninas e Julinas (dentro e fora da escola)

O que são: Festividades populares brasileiras celebradas nas diferentes regiões do país. São uma expressão da cultura popular que abarcam influências europeias, indígenas e africanas. Também estão ligadas aos movimentos naturais, representando o tempo da colheita de alimentos no campo, além de representar os dias de alguns santos no catolicismo. Conheça um pouco mais sobre a história das festividades com os textos abaixo.

Influência europeia 

"Na Europa, os festejos do Solstício de Verão foram adaptados à cultura local, de modo que em Portugal foi incluída a Festa de Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua, em 13 de junho. A tradição cristã completou o ciclo com os festejos de São Pedro e São Paulo, ambos apóstolos da maior importância, homenageados em 29 de junho. Quando os portugueses iniciaram o empreendimento colonial no Brasil, a partir de 1500, as festas de São João eram ainda o centro das comemorações de junho. Alguns cronistas contam que os jesuítas acendiam fogueiras e tochas em junho, provocando grande atração sobre os indígenas."

- Trecho do livro Festas Juninas, Festas de São João: Origens, tradições e história, de Lucia Rangel (Editora Casa do Editor, 2002). 

Influências africana e afro-brasileira

A Festa de São João realizada pela Comunidade Quilombola do Mato do Tição, em Jaboticatubas (MG), é exemplo do encontro das tradições de matrizes africana e afro-brasileira com os festejos juninos. Celebrada há pelo menos 100 anos, a festa inicia-se com uma grande fogueira, inclui rezas e cânticos, uma pequena procissão e dança de origem africana nas brasas da fogueira. 

“Minutos antes da meia-noite as brasas são espalhadas pelo chão, formando um incandescente tapete por onde os fiéis caminham. Segundo a tradição, qualquer pessoa de muita fé pode caminhar sobre as brasas sem risco de se queimar”, descreve o site da prefeitura de Jaboticatubas. O artigo Festas Juninas e o Incremento da Cultura Afro-Brasileira, de Nicolau Neto, também traz reflexões sobre a presença negra nas festas juninas. 

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Ao promover pesquisas sobre as festas juninas e julinas que acontecem no entorno e Brasil afora (clique aqui para conhecer uma lista de materiais informativos) no contexto escolar, é fundamental não apenas dar acesso à informação, e sim, impulsionar a turma para transformar tudo isso em conhecimento e criação. Isso quer dizer propor experimentações, com direito a misturas, mudanças e espaço para questionamentos e reflexões. 

“Muitas vezes, na escola, só reproduzimos o que é pesquisado. É uma armadilha. Reproduzir não é necessariamente valorizar a cultura. A grande questão da arte é fomentar a criação e recriação”, explica (clique aqui para conhecer uma proposta de atividade virtual).

E não só o componente curricular de Arte pode ser colocado em cena para ir a fundo na temática. História, Geografia, Educação Física, Língua Portuguesa… Todos estão convidados! 

É possível colocar muitas habilidades da BNCC em jogo, inclusive as que tratam de problematizar questões sociais e culturais, por meio de exercícios, produções, intervenções e apresentações artísticas, e de analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional, seja ele material, seja imaterial, com suas histórias e diferentes visões de mundo.

E na pandemia? Como ficam as festas?

Mesmo com cada um na sua casa, é interessante propor que a tradição das comemorações juninas e julinas siga acontecendo na comunidade escolar. “Afinal, uma das marcas mais fortes desses eventos é a coletividade. E, no contexto do ensino remoto, o que há de mais coletivo é a família e as pessoas com quem se convive no dia a dia”, diz Marisa Szpigel, professora na escola da Vila, em São Paulo. 

De qualquer forma, é importante ter sensibilidade sobre o momento delicado vivido no país, por causa da pandemia. “Professores e profissionais da gestão escolar precisam saber das condições dos estudantes para não fazer exigências que não cabem na realidade deles”, diz Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC e consultora de gestão escolar. Isso envolve, inclusive, falar sobre pratos culinários típicos, já que nem todas as famílias têm condições de provê-los.  A recomendação é evitar propor atividades relacionadas a isso neste momento - mas, como sempre, não existe fórmula que funcione para todos. Assim, é importante que o professor olhe para sua escola e turma e faça as escolhas mais adequadas para a realidade delas.

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