O tão esperado reencontro entre professores e crianças
Depois de quase um ano e meio longe por conta da pandemia de covid-19, educadores falam sobre a emoção de estar novamente na escola
Saudade. Essa é a palavra que a professora Andreia Amorim mais ouviu das crianças na volta às aulas da EMEI Profª Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos (SP). Depois de quase um ano e meio longe por conta da pandemia de covid-19, a emoção de estar novamente na escola tomou conta tanto da professora, que tem 31 anos de experiência na Educação, quanto dos pequenos.
“O que a gente sempre espera, em tempos normais, é que as crianças cheguem à escola e sofram com a separação dos pais. Mas, desta vez, não precisou de nada disso, porque elas vieram com vontade de ficar. Foi um retorno muito feliz, pois a escola vive das crianças. Sem elas, esse espaço não significa nada”, reflete a professora, que é responsável por uma turma de 4 e 5 anos.
Andreia lembra que a vontade de estar na escola era tanta que algumas crianças choraram e pediram para os pais para não irem embora após o término das aulas, que tiveram o tempo reduzido em decorrência dos protocolos sanitários adotados pela unidade. “O que mais percebi em relação ao comportamento das crianças é que elas estavam realmente cansadas de ficar em casa. Elas queriam conviver com os coleguinhas e no espaço da escola”, diz.
Nas primeiras semanas, os pequenos ficaram perdidos, segundo a educadora, mas aos poucos foram se adaptando à nova rotina escolar. Neste período de readaptação, as crianças exploraram, principalmente, os espaços externos e propostas ao ar livre. O maior desafio daquele momento foi manter alguns protocolos contra o coronavírus, como o uso de máscaras e álcool gel e lavar as mãos, o que logo foi entendido pela turma.
Voltar para a escola depois de tanto tempo de isolamento social também foi uma experiência inesquecível para Cristina Said de Souza Almeida, professora no CMEI Hermann Gmeiner, em Manaus (AM), e para as crianças de sua turma. “Foi uma mistura de sentimentos: saudade com ansiedade de poder compartilhar novamente o cotidiano com as crianças, nossas experiências de vida e de crescimento contínuo”, observa.
Para a educadora, o retorno ao presencial foi, sobretudo, um grande desafio que rompeu as barreiras do medo rumo à alegria. “A espontaneidade da criança e sua simplicidade em compartilhar o que viveu é algo que me marcou muito. A criança tem o poder de transformar e, em meio a tantas notícias trágicas, o seu olhar mágico transforma a nossa realidade. Por isso, vida e esperança foram o marco do nosso reencontro”, recorda.
Nesta fase de adaptação a uma série de mudanças que tiveram de ocorrer na escola, a própria relação com as crianças precisou ser construída ou ressignificada. De acordo com Cristina, isso tem ocorrido a partir da descoberta de novas estratégias para conduzir as ações dos professores, o que passa por uma reinvenção do fazer pedagógico, e reafirma: “O potencial da escola na figura da ação do educador de criar e transformar a vida das crianças”.
Andreia Amorim acrescenta que este momento de ressignificação passa pela afetividade e o acolhimento das crianças. “Foi assim que recebi meus alunos, trabalhando primeiro os sentimentos e os afetos para, só depois, pensar currículo, para que se sentissem à vontade na escola”, explica. Ela ressalta que foi preciso, antes, reafirmar a escola como um espaço seguro e divertido. “A afetividade é um instrumento muito importante nesse processo, especialmente na Educação Infantil”, pondera.
A professora Marla Cristina de Leles Pereira, que atua no CEI da Candangolândia, em Brasília, também viveu um misto de emoções com o retorno ao ensino presencial, mas a alegria de reencontrar as crianças se destacou. “Isso aconteceu porque o trabalho na Educação Infantil está muito assentado no vínculo afetivo, no toque, no compartilhar em todos os aspectos: do material pedagógico às experiências vividas”, frisa.
Para Marla, mesmo diante de tantas restrições, com o passar dos dias os educadores foram vendo que era possível realizar o trabalho. “Tem sido um desafio, mas aprendemos todos os dias”, reforça a educadora, que tem 27 anos de profissão.
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