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Como o vínculo entre professores e famílias vem se fortalecendo

De casa, o contato com as famílias foi crucial para que os educadores pudessem acompanhar a aprendizagem dos pequenos. Como está a relação no retorno?

Ilustração abstrata de crianças, familiares e professores interagindo em volta da palavra colaboração.
Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Grupos no WhatsApp, áudios, fotografias, vídeos e videochamadas foram algumas das formas encontradas por pais, responsáveis e professores para manter a comunicação no decorrer de uma quarentena que parecia não ter fim. Com as crianças em casa, o contato com as famílias foi crucial para que educadores, sobretudo da Educação Infantil, pudessem realizar o desafiador trabalho de acompanhar o processo de aprendizagem dos pequenos a distância. Agora, com a retomada gradativa do ensino presencial, o que ficará de legado na relação entre professores e familiares?

A professora Rosângela Aparecida Ribeiro atende uma turma de 4 e 5 anos em uma escola municipal de São Francisco Xavier, distrito de São José dos Campos, no interior de São Paulo, e garante que o contato mantido virtualmente com as crianças ao longo do período de afastamento tem feito toda a diferença na volta às aulas presenciais.

“Reencontrar as crianças foi muito emocionante. Senti uma mistura de alegria e medo, mas com muita esperança. Eu já os conhecia porque temos um grupo de WhatsApp e ver cada pequenino chegando fazia o coração bater mais forte. Percebi o quanto foi importante manter esse contato virtual durante o distanciamento social, pois foi um preâmbulo que facilitou muito a ambientação na escola”, comenta a educadora, que atua na Educação há 34 anos.

Com as crianças pequenas e em fase de desenvolvimento da própria autonomia, coube às famílias a missão de fazer a ponte com a escola. “Por mais que meus braços, olhos e ouvidos não as alcançassem, eu tinha os familiares que as alcançavam por mim. O valor dessa parceria entre família e escola nunca foi tão evidente. Esse contato por meio da internet não substituiu a escola, mas ter essa possibilidade fez a diferença na vida dessas crianças”, afirma Rosângela.

Além de conversar, tirar dúvidas e passar informações, durante essa troca com as famílias, foi possível também conhecer a realidade das crianças, segundo a professora. Como o distrito é cercado de montanhas, muitas delas moram em sítios, chácaras e fazendas, de modo que ao longo das vivências on-line puderam compartilhar um pouco da vida próxima aos rios, cachoeiras, matas, hortas e animais.

No dia a dia da professora Marla Cristina de Leles Pereira, essas percepções sobre a relação entre escola e família também ficaram mais evidentes, tanto no decorrer do período de isolamento quanto na retomada presencial das atividades. “Percebemos que o vínculo família-escola se estreitou. Vejo que muitos pais passaram a valorizar mais o nosso trabalho. O contato mais direto com os filhos no modelo remoto permitiu reflexões que não eram feitas pelas famílias anteriormente. É sempre válido ressaltar que um processo educacional com qualidade exige essa parceria”, observa.

Para Marla, que tem 27 anos de atuação, a pandemia ampliou as lentes de desafios que os educadores já enfrentavam há muitos anos no sistema educacional brasileiro. “Em um país com a desigualdade social que temos, muitas vezes assumimos funções que não dizem respeito à prática pedagógica, mas que se não existirem comprometem significativamente nosso trabalho”, pontua.

A professora acrescenta que, com o ensino remoto, muitas famílias se depararam com situações que desconheciam, pois passavam parte do dia longe de seus filhos, numa vida automatizada. “Hoje as crianças vivem uma infância muito distinta da nossa. Muitas são filhas únicas, não têm muitos espaços de interação com seus familiares e a escola se torna lugar, por excelência, para estar com seus pares e viver sua atividade principal que é o brincar”, pontua. “Não é possível conhecer alguém se não se convive, se não há interação. Assim, vejo que muitas famílias tiveram novas aprendizagens, ampliaram o olhar sobre a escola e a importância da Educação Infantil”, completa.

Para a professora Rosângela, esse contexto deixou mais evidente o papel do professor no desenvolvimento da criança, o que a faz se sentir mais valorizada profissionalmente. “Durante o período em que acessavam as propostas remotamente, as famílias deram seu melhor, mas comentavam sempre que não viam a hora de poder levar seus filhos para a escola, uma demonstração de confiança e grande responsabilidade para nós professores”, reflete.

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