Para se inspirar

Juntos novamente! Como tem sido voltar a conviver com os outros educadores

Professores e gestores falam sobre o sentimento de voltar ao ambiente físico da escola e reencontrar os colegas de equipe

Ilustração abstrata de gestores e professores se abraçando e se cumprimentando ao redor da palavra acolhimento.
Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Salas e corredores vazios, luzes apagadas, portões trancados e muito silêncio. Se alguém entrasse no CMEI Pio Bittencourt, localizado na capital baiana, entre março de 2020 a junho deste ano, esse seria o cenário encontrado. A escola, assim como a maioria das unidades educacionais do país, manteve-se fechada por mais de um ano em decorrência da pandemia de covid-19 e voltou a funcionar presencialmente há apenas dois meses.

Durante esse período, os encontros virtuais foram os fios que sustentaram o vínculo entre os educadores da escola, que atende crianças de 2 a 5 anos em tempo integral. Mas nada se compara à emoção sentida pelos educadores ao voltarem ao ambiente físico e reencontrarem os colegas de equipe. É o que conta a diretora da unidade, Consuelo Almeida, que há 28 anos atua na educação pública da Bahia. “Nosso primeiro encontro presencial foi muito emocionante, todos choramos muito”, lembra.

A equipe dedicou duas semanas para conversar, ouvir os colegas, planejar, entender os protocolos sanitários para receber as crianças e, sobretudo, matar as saudades. “Sentimos medo por ainda estarmos vivendo a pandemia, mas nesses dois meses sinto que estamos nos fortalecendo, acolhendo uns aos outros e procurando, enquanto grupo, esse apoio mútuo para seguirmos adiante e fazer um trabalho de qualidade para essas crianças e suas famílias”, ressalta a gestora.

Reencontro entre educadores no CMEI Pio Bittencourt, em Salvador (BA).
Reencontro entre educadores no CMEI Pio Bittencourt, em Salvador. Foto: Arquivo pessoal

A professora Rita Miranda, que dos 19 anos de profissão 13 são no CMEI Pio Bittencourt, emociona-se ao lembrar o reencontro com os colegas. “No começo de 2020, eu estava de licença médica e ia voltar a dar aula quando a pandemia começou. Então, voltar e poder olhar para as pessoas, mesmo sem poder tocá-las, ver todos bem e com saúde, foi uma bênção, pois aqui nós somos uma família”, recorda a educadora.

Para ela, outra grande emoção foi ver as crianças voltando para a escola. “É lindo vê-las dando vida à escola, com seus movimentos, gritos, risadas e até choros”, diz Rita. Além disso, a professora afirma que tem se sentido cada vez mais segura, uma vez que a escola segue rigorosamente os protocolos contra a disseminação do coronavírus, o que, segundo ela, tem tornado a volta menos difícil.

De acordo com a diretora Consuelo, hoje a equipe está mais solta e, respeitando as orientações sanitárias, os educadores têm conseguido se reunir para compartilhar o almoço e também discutir sobre os desafios da retomada presencial. As refeições acontecem no refeitório, com distanciamento social, e as reuniões realizadas nas áreas externas da escola. O planejamento também tem sido construído coletivamente entre os professores, o que tem feito os dias serem mais leves na unidade, segundo a gestora.

Para a diretora do CMEI Pio Bittencourt, Consuelo Almeida, nada se compara à emoção de voltar ao ambiente físico da escola e reencontrar os colegas de equipe.
Para a diretora do CMEI Pio Bittencourt, Consuelo Almeida, nada se compara à emoção de voltar ao ambiente físico da escola e reencontrar os colegas de equipe. Foto: Arquivo pessoal

Os professores da NEIM Doralice Teodora Bastos, em Florianópolis (SC), também estão vivenciando esse processo de retorno ao ensino presencial. Desde maio, a escola está com as portas abertas, mas somente em setembro passou a atender todas as crianças novamente. Durante o período longe, os educadores percorreram uma jornada de formação, fizeram rodas de conversas on-line e discussões sobre os próximos passos da equipe. “Mesmo na distância, foi um trabalho lindo e muito produtivo em termos de estudo”, pontua a diretora Cláudia Ten Caten, com 27 anos de experiência na Educação.

Mas a retomada presencial foi marcada por uma série de desafios. “A intenção era de que, quando voltássemos, tudo seria mil maravilhas porque fizemos uma caminhada linda, mas não foi”, reflete. Os educadores voltaram à escola após uma greve de mais de 40 dias e uma batalha por vacinas contra a covid-19. “Muitos professores estavam abalados, voltamos de supetão, sem a perspectiva de cuidado e acolhimento dos anos anteriores. Então, foi muito pesado e difícil”, relembra.

Passados alguns meses desde a volta, os dias na escola vão ganhando novos contornos, segundo a diretora. A partir de um trabalho coletivo, gestão e corpo docente seguem empenhados no acolhimento e cuidado com o outro, apostando na cooperação mútua para dar conta das demandas desse momento. Boa parte dos encontros de toda a equipe ainda está sendo virtual em respeito aos protocolos de segurança. Por isso, as ocasiões em que se reúnem na escola é motivo de comemoração.

“É muito gostoso quando temos a oportunidade de ter esses encontros. Afinal, o que mais fez falta nesse período de pandemia foi a presença e o contato físico, brincar, estar junto, dividir um pouco do que acontece na relação com as crianças e até sofrer junto com o outro. Agora estamos tentando retomar isso com muito carinho e cuidado, aos poucos, e lembrando sempre que todos são importantes e têm o seu valor na escola”, ressalta Cláudia.

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