Para repensar a escola

Quais as mudanças que a BNCC traz na Educação Infantil?

O documento destaca a importância das experiências para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças

Crédito: Roosevel Cássio

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNE), de 2009, já colocavam a importância de colocar as crianças bem no centro do processo de aprendizagem. A BNCC amplia e aprofunda essas propostas.

A Base também reforça a ideia de especificidade do processo de ensino e aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos ao organizar os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento em três grupos de faixas etárias: bebês (zero a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). “Criar essa divisão é colocar uma lente de aumento inédita em bebês e crianças bem pequenas. Antes, a ênfase maior era nas crianças de 4 e 5 anos”, diz Karina Rizek, formadora da Escola de Educadores e especialista do Time de Autores de Educação Infantil de NOVA ESCOLA. Essa atenção inédita é uma maneira de valorizar e nomear o que é próprio dessa idade.

“O atendimento público obrigatório começa aos 4 anos, mas a infância não. Os processos que uma criança vai viver nessa faixa etária têm início na fase anterior. Assim, o modo como a Base sugere que os currículos sejam pensados aponta para o entendimento da necessidade de um percurso que vai do bebê até a criança de 5 anos e 11 meses”, explica Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá e coordenadora da pós-graduação em Educação Infantil no Instituto Singularidades. É concretizar a ideia de que a progressão das aprendizagens e das conquistas deve ser desenvolvida ao longo deste segmento da Educação.

Estrutura da Base

O documento reconhece e registra o trabalho que já vinha sendo proposto por educadores e pesquisadores no qual a criança, em especial as experiências dela, é protagonista do processo de aprendizagem e desenvolvimento. Essa indicação de protagonismo já está contida nas dez competências gerais – que asseguram e promovem as aprendizagens essenciais para toda a Educação Básica. Na Educação Infantil, também se reflete na definição dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Colocá-los como parâmetros para a prática já traduz a ideia de uma criança com papel ativo. “Não é à toa que todos são verbos. Eles indicam que as experiências vêm da ação, de um fazer que está junto com sentimento, cognição etc.”, diz Silvana. Os professores precisam conhecê-los para garantir que eles estejam articulados, intencionalmente, em todo o planejamento pedagógico.

O documento também traz um arranjo composto de cinco campos de experiências, que englobam situações e experiências e aprendizagens essenciais para que a criança aprenda e se desenvolva. São eles: (1) O eu, o outro e o nós, (2) Corpo, gestos e movimentos, (3) Traços, sons, cores e formas, (4) Escuta, fala, pensamento e imaginação e (5) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Neles estão definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para cada grupo etário. Os campos enfatizam noções, habilidades, comportamentos e valores a serem desenvolvidos ao longo da Educação Infantil e devem nortear o trabalho pedagógico. “Essa estrutura preserva a identidade da Educação Infantil e o modo próprio como a criança pensa o mundo, tem ideias e sente”, afirma Silvana. “É também um avanço por dialogar mais com questões do mundo contemporâneo, que é mais complexo e nos remete a pensar com mais atenção nas qualidades das nossas experiências. Hoje, as maneiras de aprender são mais diversificadas, pois atuamos com um número maior de linguagens e nos relacionamos com o tempo de maneira diferente”, completa.

Para completar, direitos, campos e objetivos giram em torno de dois eixos estruturantes para a elaboração dos currículos locais: interações e brincadeiras. “A criança pequena organiza ideias e sentimentos, compreende o mundo por meio da brincadeira. Com isso, não quero dizer que ela vai brincar para aprender. Ela já brinca e, porque faz isso, ela aprende. De certa maneira, brincar é a linguagem da criança”, explica Silvana. É por meio do brincar que a criança representa, imita, incorpora valores e hábitos culturais e aprende a conviver socialmente. E isso vale mesmo para o bebê, embora ele não brinque de faz de conta. “Até os 2 anos, a brincadeira é mais sensorial e exploratória com o próprio corpo, com objetos, adultos e outras crianças. A partir daí evolui para um jogo simbólico”, diz Karina.

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