Diferentes estratégias de escuta ativa
Muito além do sentido da audição, escutar é estar presente diante do que o outro está comunicando, seja com palavras ou não
Alguns dicionários definem a palavra “escutar” como “ouvir prestando atenção; prestar atenção ou dar atenção a”. Ou seja, para além do sentido da audição, escutar é estar presente no que o outro está comunicando, seja com palavras ou não. É o que defende Beatriz Ferraz, psicóloga e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
“A escuta é muito mais ampla do que ouvir. Até porque ouvir, na maioria das vezes, implica diálogo falado, e quando trazemos a ideia da escuta, nós consideramos toda a linguagem – verbal e as não verbais também”, explica.
Mas como fazer isso no dia a dia da Educação Infantil? Quais estratégias podem ajudar os educadores a terem uma escuta ativa, afetiva e verdadeira com bebês (zero a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)?
“Quanto menor a criança, maior tem de ser o exercício do professor de se sensibilizar, de criar uma relação que permita a ele fazer uma interpretação, já que as crianças menores utilizam mais linguagens não verbais para se comunicar”, explica a educadora. Por isso, segundo ela, é importante que o professor tenha muita sintonia com a turma para entender o que essas manifestações não verbais querem dizer.
Neste contexto, o professor é um intérprete. Mas vale pontuar que é preciso, também, se certificar de que o que foi interpretado faz sentido. “O educador interpreta e devolve, dando continuidade a essa comunicação. A partir da reação da criança, ele vai fazendo novas interpretações e análises para ver se faz sentido o que ele está entendendo”, comenta Beatriz.
Ao considerar a escuta dos bebês, por exemplo, é preciso entender que eles precisam se movimentar livremente, mas de forma protegida para explorar seus corpos, limites, espaços e materiais que, ao mesmo tempo, não ofereçam perigo e estimulem a diversidade de experiências a partir dos sentidos, segundo Adriana Friedmann, doutora em Antropologia, mestre em Educação e pesquisadora do tema.
Esses pontos, segundo ela, representam o básico para que a criança tenha oportunidades de vivências significativas. “Cuidar dos ritmos, rituais, perceber necessidades individuais, conhecer os diversos temperamentos e respeitar preferências e habilidades, assim como dificuldades, faz parte de algumas das estratégias possíveis para uma escuta ativa”, garante.
Para Beatriz, o papel do professor de bebês e de crianças bem pequenas é o de poder dar voz às diferentes formas de comunicação das crianças, de forma a ajudá-las a construírem significado ou aprender essa linguagem verbal que permite nomear e identificar emoções.
Para as especialistas, uma das formas mais ricas do professor se valer desse contexto de escuta é quando ele busca conhecer o grupo. Além disso, outros caminhos podem ser trilhados pelo educador para compreender os interesses e necessidades de sua turma e incentivar sua participação. Confira algumas dicas:
1. Convide as crianças a participarem da criação de espaços comuns na escola. Escute suas ideias e proponha a construção de maquetes, desenhos, modelagens etc. Essas são algumas das ideias que garantem a participação, os interesses e as necessidades das crianças de todas as idades.
2. Observe o que as crianças trazem de curiosidade e que perguntas fazem, por exemplo. Todas as propostas em que as crianças estão na liderança, escolhendo a atividade e o como fazê-la a partir dos elementos disponibilizados pelo professor, são momentos muito ricos para observação e escuta atenta que podem apoiar a continuidade do planejamento.
3. Atente-se às outras formas de expressões para além da verbal, principalmente com os bebês e crianças bem pequenas. Gestos, balbucios, risadas, choros, desenhos e brincadeiras são algumas das linguagens que merecem atenção por parte dos educadores para compreender o que dizem as crianças.
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