Para usar com as crianças

Atividade: como criar um Conselho Mirim na Educação Infantil

Implemente esta importante instância participativa para incluir as crianças no planejamento e na organização da rotina da escola

Ilustração de crianças participando de um conselho mirim sobre fundo verde.
Ilustração: Juliana Eigner/NOVA ESCOLA

“Não gostamos de dormir na sala.” “O colchonete é quente e todo mundo fica suando.” “É muito ruim o cheiro de chulé que fica.” “É chato ficar sem falar e não poder fazer nada.” Essas foram algumas reclamações feitas pelas crianças da EMEI Dona Leopoldina, em São Paulo (SP), sobre a “hora do sono”, durante as primeiras assembleias realizadas para ouvir os pequenos. As manifestações, que partiram especialmente das crianças de 4 a 5 anos e 11 meses, foram possíveis graças a uma iniciativa da gestão escolar: a criação de um Conselho Mirim. 

“Esse foi o caminho mais bonito que encontrei para manter um diálogo sensível com as crianças”, diz a diretora Marcia Covelo Harmbach, que está à frente da gestão da escola há quase 10 anos, mas que como professora e diretora de escola pública utiliza essa prática desde 1984. Ela lembra que ao ingressar na unidade sua primeira ação foi ouvir a comunidade escolar com o intuito de fazer um diagnóstico. Nesse processo de escuta sensível, as crianças foram as primeiras a serem ouvidas. 

De lá para cá, os pequenos têm voz ativa na escola. “O Conselho Mirim busca construir com as crianças um lugar para a participação democrática na escola, contribuindo para o diálogo entre elas e os adultos, respeitando a cultura infantil e fomentando a tomada de decisões sobre assuntos de interesse da escola, das crianças e do entorno, com igualdade de condições e respeito às ideias e proposições, mesmo que inicialmente parecessem descabidas, pois as crianças transitam entre o imaginário e a realidade”, explica a gestora. 

A “hora do sono” foi uma das primeiras pautas das assembleias e rendeu muitas discussões não só entre os pequenos, mas também, entre os adultos. Isso porque as crianças eram condicionadas a dormir, mesmo sem vontade. As professoras apagavam as luzes e cuidavam para que todos ficassem em silêncio e tentassem repousar. De acordo com a diretora, a falta de condições para o sono e a obrigatoriedade não incomodavam as educadoras e famílias, mas o fato de discutir ou retirar a hora do sono, sim.  

Foi então que alguns questionamentos vieram à tona: “O que as crianças nos diziam? Por que as incomodava e aos adultos não? Por que não era possível pensar em tempos e maneiras diferenciadas para o repouso? Por que a percepção da criança nunca foi levada em consideração? Por que as crianças precisam dormir ao mesmo tempo, sem vontade?”

Os questionamentos geraram inúmeras discussões com a comunidade escolar. Marcia conta que os adultos não conseguiam admitir a retirada da hora do sono e as crianças, por sua vez, continuavam insistindo. Na reunião do Conselho Mirim, a resposta certeira, mais uma vez, partiu dos pequenos: “Dorme quem quer. Quem não está com sono vai brincar”. A proposta convenceu crianças e adultos, colaborou para a construção de diferentes tipos de repouso, como descansar na rede ou à sombra de uma árvore.

Conselho Mirim na EMEI Dona Leopoldina, em São Paulo (SP), discute coletivamente atividades, espaços e tempos da escola.
Conselho Mirim na EMEI Dona Leopoldina, na capital paulista, discute coletivamente atividades, espaços e tempos da escola. Foto: Acervo Pessoal

Além da “hora do sono”, o Conselho Mirim pode ser de extrema importância para planejar e organizar outros momentos coletivos da escola. Que tal colocá-lo em prática? Abaixo, elaboramos um passo a passo baseado na experiência da diretora Marcia Covelo Harmbach, da EMEI Dona Leopoldina. Confira:

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1. Conheça o grupo para entender suas necessidades. Para começar, é necessário ter sensibilidade para entender o grupo, suas necessidades e o que manifestam através de brincadeiras, diálogos, gestos e outras linguagens que denotam diferentes formas de participação das crianças para então dar visibilidade às suas percepções sobre as experiências de vida. 

2. Convide as crianças a participarem das decisões da escola. Converse com elas para entender seus problemas. Ouça-as nos diversos espaços: no tanque de areia, no refeitório, no parque e também nas assembleias.

3. Defina o papel de cada um. Na EMEI Dona Leopoldina, três pessoas da equipe gestora coordenam o Conselho Mirim: uma fica responsável por conduzir o grupo, outra por registrar as falas e a terceira, por fotografar. É importante explicar para as crianças que os registros do que elas falam e fazem servem para que os adultos não se esqueçam, da mesma forma que elas desenham em um caderno de memórias para lembrar depois. Cada sala conta com dois representantes. Sugere-se a escolha de um menino e uma menina, de modo que um representante seja escolhido pelas crianças e outro pelas professoras.

4. Construa vínculos a partir da escuta ativa. Os educadores responsáveis pela coordenação do Conselho Mirim precisam construir vínculos com as crianças, ouvindo suas falas, observando seus gestos, encontrando um sentido para o fazer conjunto, para que não percam a espontaneidade apresentada entre seus pares no contato com os adultos.

5. Realize assembleias envolvendo todas as crianças. Antes das reuniões de cada turma, reúna as crianças para uma assembleia no pátio a fim de levantar os assuntos para discussão. Na impossibilidade da realização das assembleias, as educadoras podem conversar com pequenos grupos de crianças para levar as temáticas à equipe gestora. Após a definição dos temas levantados, cada turma deve fazer sua roda de conversa e registrá-la, utilizando-se das várias linguagens, e trazer a devolutiva na reunião com os conselheiros.

6. Atente às falas das crianças. Estas servem de mote para as discussões com o Conselho de Escola. As crianças trazem ideias não somente no Conselho Mirim, mas durante as interações nos diferentes espaços, pois elaboram pensamentos e emitem opiniões o tempo todo. Através da metodologia dialógica, as crianças conselheiras observam a realidade, opinam, discutem coletivamente, sonham, projetam e são convidadas, em parceria com os adultos, a concretizar seus sonhos.

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