Para pensar a prática

Anos Iniciais: foco na alfabetização e na autoestima dos alunos

Nessa etapa, o acolhimento deve incluir a demonstração de que professores e gestores estão atentos às defasagens acumuladas nos últimos anos e que incluirão todos no trabalho de recomposição de aprendizagem

Ilustração animada de alunos do ensino fundamental 01, chegando a escola durante momento de acolhimento.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA

Desde a retomada das aulas presenciais no segundo semestre do ano passado, as escolas passaram a ter mais clareza sobre os impactos da pandemia nos estudantes dos Anos Iniciais. A alfabetização foi atingida em cheio, milhares de crianças brasileiras do 1º ao 5º ano demonstraram grande dificuldade na compreensão leitora e de escrita. Outro desafio para este ano será receber os alunos egressos da Educação Infantil que chegam ao início do Ensino Fundamental também com formação diferente da esperada e registrada antes da pandemia. 

Em discussão desde o ano passado, a recomposição curricular para essa faixa etária já passou a demandar que professores do 3º ao 5º ano retomassem, desde 2021, conteúdos e práticas pedagógicas alfabetizadoras nos currículos desses anos – o que não era usual antes do ensino remoto emergencial. A falta de formação alfabetizadora entre todos os professores dos Anos Iniciais, aliás, voltou a ser discutida no novo cenário desta etapa de ensino (o tema foi detalhado neste NOVA ESCOLA BOX).

Neste retorno com as turmas, o professor deve repensar a rotina e ser mais criterioso, analisa Walkiria Rigolon, formadora de professores e de coordenadores pedagógicos. “Os educadores precisam apoiar os estudantes na leitura e na escrita em todos os conteúdos. E rever algumas práticas, como, por exemplo, não investir em exercícios de cópia sem contextualização, e que pouco vão agregar para o processo de aprendizagem”, afirma.

Não deixar ninguém para trás

“Temos percebido, desde o ano passado, grande fragilidade nas aprendizagens. Por isso já sabemos do trabalho intenso que teremos no novo ano letivo. Além disso, será imprescindível trazer as famílias para a escola para informar e passar tranquilidade sobre os próximos passos”, afirma Cleide da Silva Sousa, coordenadora pedagógica da EE Professora Josefina Maria Barbosa, na cidade de São Paulo. A educadora tem expectativas positivas sobre a reversão do atual quadro negativo das aprendizagens em 2022: “Quando retomamos o presencial em 2021, em pouco tempo, tivemos grande avanço na aprendizagem, apenas pelo fato de ter voltado a estudar na escola, com o professor ao lado”, conta.

Para Sônia Guaraldo, formadora de gestores escolares, os estudantes dos Anos Iniciais precisam entender que vão ter a ajuda da escola para aprender. “O acolhimento para esses alunos precisa ser muito cuidadoso. Crianças do 1º ao 3º ano podem estar com medo. Já as do 4º e do 5º ano também podem estar com receio de ter ficado para trás no processo de aprendizagem”, avalia. Para ela, os professores precisam transmitir a clareza e a segurança de que todos serão compreendidos e não serão cobrados da mesma forma que antes da pandemia. “Os alunos do 5º ano, aliás, merecem atenção redobrada, já que se preparam para nova etapa de ensino e, caso estejam inseguros, podem cogitar interromper os estudos”, analisa.

De volta à escola

Com o fechamento das escolas, muitas crianças dessa etapa de ensino podem ter mais referências do ensino remoto do que do ensino presencial. Para apoiar os alunos ainda pouco habituados à rotina na escola, a professora Laís Michelle de Souza Araújo Bandeira, da EM Professora Maria Lúcia de Macedo Leite, de Nísia Floresta (RN), gosta de demarcar bem as atividades do dia com as suas turmas do 2º e do 3º ano, incluindo os protocolos sanitários vigentes: os locais para guardar os materiais da sala, a hora para pegar o lanche no recreio e também os momentos de lavar as mãos e trocar as máscaras, entre outros.

Ainda na época da escola fechada, Laís conta que o ensino remoto emergencial distanciou os estudantes, mas a aproximou das famílias, que passaram a contar mais sobre a vida da criança e sobre as dificuldades e conquistas. As relações continuaram com a volta às aulas em 2021. “Nem 30% dos meus alunos conseguiram fazer as devolutivas de atividades no ensino remoto. A questão da infraestrutura era um problema, sim, aqui na zona rural, mas na maioria dos casos havia a dificuldade dos pais em apoiarem os filhos com as atividades. No entanto, com o contato maior com eles pelas redes e pelo WhatsApp, foi possível apoiar, por exemplo, aluno que perdeu o pai. Alertei que as tarefas dele seriam pausadas e que, na volta, daria atenção maior aos conteúdos que ele não tinha conseguido acompanhar”, conta.

Para o início do ano letivo, a professora Laís planeja uma atividade de recepção com música, distribuição de doces e momentos de leitura, que deve ser um pouco menos preocupante em termos sanitários, já que, desde janeiro, as crianças de 5 a 11 anos foram incluídas na campanha de vacinação contra a covid-19. Já Andréa Maia de Araújo, professora coordenadora na EE Solange Apparecida Landeiro Aguiar - Sul 2, localizada na capital paulista, pretende realizar uma proposta para oferecer um momento de escuta e reflexão à turma. A seguir, leia o passo a passo.

divisória de atividade

Coloque a turma para refletir sobre atitudes e desejos

Momento permite que professor e colegas se conheçam melhor


Indicado para: 1º ao 5º ano  

Material: Folha com desenho do corpo humano


PASSO A PASSO

1. Reúna a turma e convide-a para realizar a atividade. Conte para os alunos que a proposta é para que pensem a respeito dos próprios desejos e atitudes. Cada estudante receberá uma folha de papel com um corpo humano desenhado. Para os maiores, pode-se pedir que eles mesmos façam o desenho.

2. Coloque a turma para refletir. Estimule os alunos a identificarem as partes do corpo humano. A cada parte identificada, faça uma pergunta, de acordo com as orientações a seguir. Você pode colocá-las no quadro ou pedir para que anotem. Peça que reflitam individualmente e registrem as respostas. 

CABEÇA: um sonho

BOCA: um elogio

CORAÇÃO: uma atividade a cultivar

BRAÇO DIREITO: uma atitude boa

BRAÇO ESQUERDO: uma atitude a melhorar

PERNA DIREITA: um objetivo a ter

PERNA ESQUERDA: uma dificuldade a vencer

3. Estimule o compartilhamento das respostas. Convide os alunos a compartilharem suas respostas com a turma. O professor deve conduzir as interações de maneira a exaltar as escolhas, habilidades e metas indicadas pelo grupo.

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