Para repensar a escola

Como explicar às crianças que a higiene previne doenças?

Conversar com sinceridade, clareza e sem drama é o melhor caminho

Ilustração: Marcella Tamayo/NOVA ESCOLA

Como na antiga cantiga infantil A Velha a Fiar (“Estava a velha em seu lugar / Veio a mosca lhe fazer mal / A mosca na velha e a velha a fiar...”), estava tudo em seu lugar até que veio o coronavírus e nada mais permaneceu do jeito que era. As escolas fecharam, os amigos não podem se ver nem se visitar, os avós têm de curtir os netos pelo celular e todos precisam permanecer em casa. A chegada da pandemia impôs rigorosa mudança de hábitos sociais e elevou a higiene ao mais alto patamar de condição vital à sobrevivência. 

Como falar dessa ameaça às crianças que já enfrentam um bombardeamento de informações sem assustá-las ainda mais? Uma conversa direta, com linguagem apropriada à idade, ajuda a afastar o medo e a insegurança que o momento impõe. Não fugir das perguntas nem fornecer informação desnecessária são importantes para angariar a confiança dos pequenos e passar a certeza de que são cuidados e estão seguros. 

Sinceridade, honestidade, clareza e naturalidade ao lidar com o momento delicado são essenciais. Nada de drama. Assim como os adultos alertam as crianças sobre como atravessar a rua ou entrar no elevador, devem falar sobre os riscos do coronavírus de modo simples. “Não é para ser algo extraordinário, mas parte da nossa relação dialógica com a criança, que desde cedo brinca de cuidar. O mesmo fazemos ao explicar a vacina ou a coleta de sangue. A doença faz parte do cotidiano, as crianças ouvem que o avô adoeceu, que a tia foi operar no hospital, elas sabem quando estão com febre, e que cuidamos delas, damos medicamentos, passam pelo médico. Esta é mais uma doença e precisamos nos proteger”, diz Damaris Gomes Maranhão, mestre em Enfermagem Pediátrica, doutora em Ciências da Saúde, consultora e formadora do Instituto Avisa Lá.

O cuidar de si, do outro e do ambiente faz parte das indicações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), relembra a especialista. E, portanto, deve entrar no planejamento do professor de maneira intencional. “Desde bebê, a criança aprende ao perceber o outro cuidando dela, depois pela atenção, imitação, repetição, pensamento e linguagem. Se na cultura da família e da escola os hábitos de higiene são praticados desde antes da crise do coronavírus, não serão uma novidade”, diz Damaris. 

Também para Ana Paula Yasbek, diretora do Espaço Educação Infantil, em São Paulo, conversar com as crianças sobre a importância da higiene na prevenção de doenças deve estar na rotina do professor e não é algo a se fazer somente numa situação fora do comum como uma pandemia. “As crianças não conseguem ter uma dimensão sobre essa questão da sujeira, até porque têm uma relação diferente com ela. Sentem prazer ou desprazer quando manipulam alguma coisa, algumas se lambrecam inteiras quando comem, pintam ou brincam na areia e outras têm aflição. Por isso a necessidade de o adulto falar continuamente sobre limpeza.”

É na repetição da fala que se constrói o hábito, afirma Ana Paula. A diferença, agora, é que a distância exige que os professores envolvam ainda mais as famílias na construção desses conhecimentos. Orientar pais e responsáveis a ensinarem as crianças a lavar corretamente as mãos e incluí-las em tarefas domésticas de limpeza são métodos eficazes. “Com as crianças bem pequenas, entre 1 ano e meio e 3 anos, a questão maior é essa de criar os bons hábitos em casa. Opções são tornar a pia acessível para lavar as mãos, conversar e ensinar a imitar os adultos na limpeza, como o ato de passar um paninho com álcool na mesa e outras tarefas cotidianas simples”, diz a diretora. “Crianças maiores precisam de uma inclusão ainda um pouco mais intensa. Vale um convite para que lavem os brinquedos e a louça do café e participem de outras ações de higiene”, completa. 



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