Para aprender sobre a prática

Por que ler e contar histórias em família é um gesto de afeto?

Em tempos de medo e solidão, voar para o mundo da imaginação é um aconchego - para crianças e adultos. E a escola pode ajudar as famílias a fazerem isso

A leitura proporciona a troca de afeto, fundamental para que as crianças se sintam mais seguras. Ilustração: Ana Maria Sena/NOVA ESCOLA

Era uma vez um planeta com 7 bilhões de seres humanos que, um dia, foi atingido por um vírus letal. Com isso, pessoas do mundo todo tinham de ficar em suas casas para não se contaminar. Dentro de seus lares, era preciso que todos usassem a criatividade e a imaginação para passar por aquele momento difícil de isolamento social. Eis que, então, entraram em cena a leitura e a contação de histórias... 

Esse poderia ser apenas o primeiro parágrafo de uma história de suspense lida em voz alta, mas, na verdade, é um breve resumo do atual momento, em meio à pandemia do novo coronavírus. Nesse período longe da escola, auxiliar as famílias a realizarem momentos de leitura e contação de histórias pode ser uma ótima opção para atravessar a quarentena com imaginação, diversão e troca de afetos. 

“A leitura estabelece essa relação entre pais e filhos, um momento de aconchego em que as pessoas da casa param para ler e estar juntas”, afirma Carla Tocchet, professora da pós-graduação em Alfabetização do Instituto Vera Cruz, em São Paulo (SP). De acordo com a educadora, a ideia é que pai, mãe ou responsável se coloquem como leitores e aproveitem aquele momento com a criança, pondo-a no colo ou o mais perto possível. 

Elizabeth Cardoso, escritora e professora doutora da pós-graduação em Literatura Crítica da PUC-SP, explica que apoio emocional e aprendizagem caminham juntos, muitas vezes de modo imperceptível. “Ler para a criança e com a criança é um gesto de amor. Ler é compartilhar, acolher, refletir e se divertir juntos”, diz. Estar “juntos” significa conviver com o outro, compartilhando espaços e objetos, ao mesmo tempo que se garanta espaço para a individualidade e a imaginação das crianças. 

Para Denise Guilherme, formadora de professores e curadora da rede de leitura A Taba, a fantasia é necessária para que pais e filhos se mantenham saudáveis: “Se já precisamos da leitura em condições normais, em uma situação como esta, que gera altos níveis de estresse, é mais importante ainda. Isso é bom tanto para os pequenos quanto para nós, adultos.”

Para as famílias que toparem a proposta, a primeira dica é reservar um espaço de leitura na casa. Carla Tocchet sugere sentar em um tapete, em uma almofada ou até mesmo montar uma cabana de lençol no quarto ou na sala, e sempre deixar o livro ao alcance dos olhos da criança. Outra dica é, sempre que possível, combinar um horário fixo de leitura, da mesma forma como, na escola, se estabelece uma rotina. 

Tempo de se aproximar das famílias

Inserir a hora da história na rotina é desafiador. Isso porque muitas famílias estão sobrecarregadas com demandas domésticas, falta de dinheiro e outras preocupações. Por isso, o professor deve propor a leitura e a contação de histórias, não como uma espécie de “obrigação curricular”, de tarefa a ser cumprida, e sim, como uma pausa, um momento para relaxar e estar juntos. Para a atividade ser gostosa, os familiares precisam ter vontade de realizá-la. Do contrário, é melhor esperar o melhor momento. Não adianta forçar.

A educadora Denise Guilherme acredita que esse momento precisa ser encarado como uma oportunidade para os professores se aproximarem das famílias, mantendo uma escuta ativa. “Do mesmo modo que os professores tiveram uma mudança abrupta em suas rotinas e se viram obrigados a adaptar suas práticas de ensino, pensar em atividades a distância etc., as famílias também estão passando por um período de muita instabilidade”, explica. Por isso, os educadores precisam ser compreensivos. Em vez de mandar diversas atividades de uma hora para a outra, crie antes um canal de escuta juntamente com a escola para ouvir os pais e responsáveis. Proponha um momento de conversa para entender o que está acontecendo, compartilhar as angústias e criar uma rotina de atividades possível.

Nesse sentido, as atividades de leitura têm posição privilegiada. “Se eu tivesse de recomendar uma única ‘lição de casa’ para realizar neste tempo, diria: que as famílias leiam com as crianças literatura de qualidade”, defende Denise. Sugestões de leituras e materiais disponíveis na internet também são ótimos caminhos para driblar a quarentena, segundo Carla Tocchet. O professor pode fazer uma lista de sites com indicações de leitura ou sugerir algumas páginas no YouTube que comentam sobre livros ou que fazem a leitura por vídeo, o que pode ser um bom recurso caso a família não tenha o livro físico. Nesta caixa, você encontra vídeos e materiais de leitura prontos para compartilhar até por WhatsApp.

Elizabeth Cardoso pondera que, em tempos de coronavírus, os professores também podem ensinar técnicas de leitura e mediação para os adultos. Mas, acima de tudo, dedicar algum tempo para falar com os pais. “Agora que as escolas estão nas casas, deve-se aproveitar este momento para ampliar o diálogo e a troca entre familiares e professores”, finaliza.



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