Educação Física: 5 respostas para replanejar 2020 no Fundamental 1
Confira recomendações de especialistas para redesenhar o ano letivo no contexto da pandemia e das aulas remotas
Ao longo desses seis meses de pandemia, os professores passaram por momentos pontuados por dúvidas, temores e muito trabalho. O primeiro foi o susto: as aulas presenciais foram suspensas logo no início do ano e o que havia sido imaginado para o ano letivo de 2020 precisou ser reformulado, muitas vezes a toque de caixa e sem muitos recursos. Depois, veio a tentativa de conciliar a prática da sala de aula com o novo normal das aulas remotas. Por fim, agora a tendência é que entremos em uma terceira fase: como acolher os estudantes e proporcionar um espaço seguro para retomar o trabalho presencial nas escolas?
No caso da Educação Física, tanto as aulas a distância quanto o retorno exigirão jogo de cintura, abertura para o diálogo com as crianças e muito replanejamento e atenção aos protocolos sanitários. Para ajudá-lo a se reorganizar, conversamos com especialistas para mapear dúvidas comuns e procurar respondê-las. Participaram da construção destes conteúdos Luis Henrique Vasquinho, professor de Educação Física, pedagogo e responsável por fazer a leitura crítica da BNCC para a Educação Física no Ensino Médio; Isabel Filgueiras, formadora e professora de pós-graduação da Universidade São Judas; Marcos Santos Mourão, professor de Educação Física na Escola da Vila, em São Paulo (SP), para os Anos Iniciais do Fundamental; Fábio Marchioretto, licenciado em Educação Física e Pedagogia pela USP e professor do Colégio Rainha da Paz, em São Paulo (SP); e Fábio D’Angelo, professor de Educação Física e coordenador do Instituto Esporte e Educação (IEE).
1.Por onde começar o replanejamento para as aulas de Educação Física com as turmas do 1º ao 5º ano?
Antes de mais nada, Luis Vasquinho recomenda atenção às orientações mais atualizadas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de outros órgãos confiáveis, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, e as recomendações do estado e município em que a escola se localiza. Além disso, é importante acompanhar em qual estágio da pandemia estaremos quando as aulas presenciais voltarem e abrir essa discussão na escola. É essencial também acolher os sentimentos dos alunos ao longo do processo e no retorno às aulas presenciais. Vale lembrar que, para a faixa etária atendida pelo Fundamental 1, a questão do contato, do abraço, etc é muito importante e deve ser considerada.
Para Fábio D’Angelo, não se pode abrir mão do compromisso com a aprendizagem dos alunos e nem romper com a especificidade do componente curricular, que é o corpo em movimento e as práticas da cultura corporal. Ele orienta, ainda, que o professor busque incorporar os conhecimentos das crianças e a experiência acumulada com elas ao longo da quarentena no seu replanejamento. Por exemplo, ao propor práticas corporais individualizadas, como o tai chi ou a ginástica, perguntar para os alunos quais experiências eles já conhecem. “Não podemos mais ser apenas diretivos”, recomenda.
Para Isabel Filgueiras, é importante olhar para o que foi feito até o momento e mapear as conquistas dos alunos. Além disso, a reconstrução do planejamento passa pelo diálogo entre o que estava definido pelo currículo (da escola, da rede e também da BNCC) e o que foi possível trabalhar no contexto das aulas remotas. É importante refletir sobre o que foi feito, se isso atendeu à concepção da Educação Física presente na Base, por exemplo, e também considerar as devolutivas e os registros dos alunos. Isabel também recomenda buscar experiências de outros professores da própria rede, bem como outras inspirações, na hora de elaborar o planejamento para avançar nas aprendizagens dos estudantes.
2. Nas aulas de Educação Física a distância, que tipo de atividade é mais adequada ou possível de ser desenvolvida?
É possível trabalhar com os eixos da cultura corporal previstos pela BNCC de Educação Física remotamente, mas é importante partir sempre da realidade dos estudantes. Uma possibilidade para as turmas do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental é priorizar as brincadeiras tradicionais conhecidas pelas famílias. Solicitar que os alunos conversem com os avós sobre as brincadeiras do tempo deles, por exemplo, é uma possibilidade interessante. A ginástica geral também pode ser trabalhada de forma lúdica, com base em coreografias ou movimentos simples que podem também ser feitos com a ajuda dos responsáveis. Já com os alunos mais velhos, do 4º e do 5º ano, há maior autonomia e os professores podem incentivar que as crianças tragam também suas próprias reflexões. Um exemplo é discutir com eles a retomada dos campeonatos de futebol durante a pandemia.
3. Quais cuidados o professor deve tomar na hora de propor atividades a distância?
No caso das aulas remotas, além de buscar as ferramentas mais acessíveis para o conjunto dos estudantes, como o uso do WhatsApp, por exemplo, é preciso ficar atento aos protocolos de saúde já conhecidos para evitar a contaminação pelo coronavírus. Assim, ao pensar nas propostas e ao gravar uma videoaula, por exemplo, sempre retome as recomendações sanitárias. “Você não pode fazer uma demonstração de atividade sem máscara no meio da rua”, exemplifica Isabel. “Ou não lembrar as crianças, por mais que pareça óbvio, que elas precisam ter cuidados de higiene”. Outra recomendação é utilizar materiais realmente acessíveis e considerar o espaço da casa do aluno: “A criança olhar para o que é possível fazer no espaço em que ela está é uma super aprendizagem”, acredita Isabel.
4. Como avaliar a aprendizagem dos alunos ao longo da quarentena?
O momento pede que os esforços sejam mais concentrados em uma avaliação diagnóstica dos estudantes do que na avaliação por nota. “O acompanhamento precisa ser pautado nos registros do professor e dos alunos, nos dados que foram coletados do que foi possível fazer, na reflexão sobre o que deu ou não certo e nos registros das crianças enviados ao docente. O mapeamento do que as crianças aprenderam é mais importante do que a nota em si”, diz Isabel. Também ajuda ter expectativas de aprendizagem bem definidas e alguns parâmetros ou indicadores para observar se os alunos estão conseguindo acompanhar. Para Marcos Mourão, da Escola da Vila, é interessante ampliar o conceito do que é a avaliação e analisar a própria prática docente, o que deu certo ou não nas atividades propostas: perguntar para os alunos quais práticas eles gostaram mais, quais não gostaram, o que foi fácil ou o que foi impossível de executar.
5. Como começar a me preparar para uma eventual volta às aulas?
Além de observar os protocolos sanitários, é importante antecipar no planejamento questões práticas. Como é o espaço disponível na escola para as aulas de Educação Física? Como será o deslocamento da sala para a quadra, por exemplo? Quantos alunos estarão presentes no retorno - e como garantir o distanciamento social entre eles? Para Marcos, é interessante pensar em propostas que cumpram as normas de distanciamento e higiene, mas que também colaborem para a recuperação dos vínculos das crianças com a escola. Uma possibilidade é recuperar com os alunos as atividades que foram passadas à distância. “Isso dá a eles uma possibilidade de ressignificar o que eles fizeram em uma situação inadequada”, afirma. Por fim, uma recomendação de Vasquinho é valorizar o diálogo e tornar a escola um ambiente acolhedor para as crianças. “Este é um momento psicológico de grande impacto para as crianças, que vêem a escola como um espaço e um momento de interação muito forte. O conteúdo, neste momento, talvez precise ser pensado de forma secundária. Vale mais conversar com as crianças e pensar em como tornar a escola um ambiente seguro e acolhedor, mesmo que esteja cheio de restrições”, aconselha o consultor.
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