Sugestão de Atividade

Escravidão no Brasil: faça uma visita virtual ao Cais do Valongo e à Pequena África

Dirigida para o 5º ano, atividade visita virtualmente espaços da cidade do Rio de Janeiro ligados à memória negra

Convide a turma para fazer uma visita virtual a locais importantes da cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro. Ilustração: Ana Cardoso/NOVA ESCOLA

Explorar e descobrir locais ligados à memória das populações negras do Brasil é bom ponto de partida para debater com os alunos os patrimônios materiais e imateriais de nossa sociedade nas aulas de História do Ensino Fundamental 1. 

Nesta atividade, produzida pela historiadora e professora Karoline Moreira, a proposta é que você convide a turma para fazer uma visita à cidade do Rio de Janeiro para conhecer a Pequena África e o Cais do Valongo, este último reconhecido em 2017 como Patrimônio Mundial pela Unesco.

Com a ajuda do aplicativo e site Passados Presentes, é possível “caminhar” com a turma do 5º ano pelo local de maneira virtual. A ferramenta é um  recurso interessante de fazer o roteiro sem a necessidade de deslocamento ou de encontros presenciais. 

Acompanhe, a seguir, o passo a passo para desenvolver a atividade com a turma. Ele foi desenvolvido com apoio da consultora Sherol dos Santos, historiadora, especialista do Time de Autores de NOVA ESCOLA e professora da rede estadual do Rio Grande do Sul.

PASSADOS PRESENTES: O CAIS DO VALONGO E A PEQUENA ÁFRICA  

Roteiro virtual por patrimônios materiais do Rio de Janeiro é ponto de partida para discussão sobre memória 


Indicado para: Turmas do 5º ano 

Materiais necessários: Notebook com acesso à internet, Smartphone e app Passados Presentes 

Na BNCC:

EF05HI09 - Comparar pontos de vista sobre temas que impactam a vida cotidiana no tempo presente, por meio do acesso a diferentes fontes, incluindo orais.

EF05HI10 - Inventariar os patrimônios materiais e imateriais da humanidade e analisar mudanças e permanências desses patrimônios ao longo do tempo.

EF05HI07 - Identificar os processos de produção, hierarquização e difusão dos marcos de memória e discutir a presença e/ou a ausência de diferentes grupos que compõem a sociedade na nomeação desses marcos de memória.

EF05HI04 - Associar a noção de cidadania com os princípios de respeito à diversidade, à pluralidade e aos direitos humanos.


PASSO A PASSO

1. Prepare-se e conheça o projeto Passados Presentes: A atividade utilizará a plataforma e o aplicativo Passados Presentes, elaborado com base no Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e na História dos Africanos Escravizados no Brasil, do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), com apoio da Unesco, em 2014. É por ele que você e os alunos farão uma visita virtual ao Cais do Valongo, que fica na cidade do Rio de Janeiro.

Na plataforma, é possível encontrar informações sobre lugares de memória da escravidão no Brasil, bem como verbetes sobre patrimônios imateriais do estado do Rio de Janeiro. No aplicativo para celular e no site, há quatro roteiros disponíveis para a atividade, selecionamos o da Pequena África, região portuária da cidade do Rio de Janeiro no entorno do Cais do Valongo, que foi o principal porto negreiro das Américas. 

Antes da aula, é importante que você acesse e explore os pontos destacados no mapa indicados no Passo 5, tendo assim maior domínio sobre a ferramenta para ajudar os alunos ao longo do roteiro.

O objetivo da atividade é que a turma perceba como os patrimônios materiais são importantes para a conservação da memória de um lugar e de um povo. Caso queira se aprofundar no tema, você encontrará uma bibliografia básica ao final desta sugestão. 

2. Antes de iniciar a aula, baixe e instale o aplicativo ou acesse o site: Caso a aula esteja sendo desenvolvida a distância, mande uma mensagem por WhatsApp, e-mail ou outra plataforma que funcione para a turma e oriente seus alunos a baixar o app ou acessar o site neste link.

3. Localize a Pequena África:
No app ou no site, é possível ver um mapa da região conhecida como Pequena África, localizada na zona portuária no Centro do Rio de Janeiro. Partindo do Cais do Valongo, explique que a cidade era importante centro comercial de negros africanos escravizados e que, ao longo do tempo, várias construções foram feitas para desembarque e venda dessa população, como é o caso do próprio cais, cujo sítio arqueológico foi redescoberto em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, reforma realizada na região portuária da cidade nos últimos anos (para saber mais sobre esse projeto, clique aqui). 


O que foram a Pequena África e o Cais do Valongo? 

Pequena África é uma região localizada na zona portuária carioca, no Centro da capital fluminense. É lá que fica o Cais do Valongo, construído no fim do século 18, e porta de entrada de ao menos 1 milhão de africanos no país. Mas a Pequena África  também foi marcada pela presença da comunidade negra no Rio de Janeiro: ao longo do século 19,  com as leis abolicionistas e o fim oficial da escravidão em 1888, milhares passaram a morar nesse local e arredores. No início do século 20, reformas urbanas soterraram o Cais e sua história, redescobertos recentemente durante obras realizadas na zona portuária carioca. Atualmente, o Cais do Valongo é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco e considerado local de memória e sofrimento pela entidade, assim como o Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia. 


4. Destaque a importância da memória: Já na aula, explique para a turma que é importante entender e visibilizar as memórias dos africanos, de diferentes países, que foram trazidos para o Brasil e escravizados. 

Lembre-os de que, ao longo dos séculos em que vigorou o tráfico negreiro, 11 milhões de africanos foram transportados coercitivamente para as Américas destes, 4,9 milhões, isto é, algo em torno de 45%, tiveram como destino o Brasil. A informação é do livro Brasil, Uma Biografia, da historiadora Lilia Schwarcz. 

Além disso, destaque que a escravidão no Brasil vigorou por mais de 300 anos e que seus efeitos na sociedade podem ser observados até hoje.

PONTO DE ATENÇÃO: Você pode usar este momento para estimular o debate sobre a cultura negra dentro da cidade e da importância da patrimonialização de bens culturais ligados à população negra. Trabalhe como a construção da memória é feita por meio de disputas de narrativas, e que a patrimonialização de bens culturais negros ajuda a reverter as inúmeras invisibilizações que vêm sendo impostas a essa população, que compõe a maioria dos brasileiros.

5.
Trabalhe a curiosidade e a criatividade da turma: Caso esteja trabalhando remotamente, peça aos alunos para que imaginem que fizeram uma viagem até o Centro do Rio de Janeiro e que decidiram visitar a Pequena África. Convide-os a escolher outros três pontos que gostariam de visitar. Caso a atividade seja presencial e você esteja com a turma no local, leve o mapa impresso e faça um roteiro em grupo.

6. Explore a Pequena África: No site ou no app, clique no local indicado no mapa como a Pequena África. Peça para os alunos acessarem os seguintes pontos: Cais do Valongo (5), Docas André Rebouças (6), Quilombo da Pedra do Sal (2), Largo João da Baiana (3) e Mercado de Escravos (1). Observe com eles as imagens e leia os textos de apoio.

PONTO DE ATENÇÃO: Os locais selecionados fazem referência a diferentes períodos históricos. Caso julgue necessário, organize uma linha do tempo para que a turma visualize melhor. Por exemplo: o processo de instituição do Quilombo da Pedra do Sal acontece somente nos anos 2000, mas refere-se a uma ocupação negra do espaço bem anterior e a ela faz referência.

7. Construa um diário de bordo: Nos dois cenários (on-line ou presencial), incentive que cada aluno construa um “diário de bordo” – pode ser no caderno ou em um arquivo de texto – para anotar pontos de referência e cenas que chamaram atenção deles. Os alunos podem fazer as anotações ao longo do roteiro, que poderão ser consolidadas até o momento do compartilhamento. O diário servirá de registro da atividade e também como possibilidade de avaliação. Ao final do passeio, promova o debate e discuta com a turma sobre o roteiro visitado.

8. Faça uma sistematização:
Inicie a sistematização com o compartilhamento entre os alunos dos seus diários de bordo. Você pode fazer isso em uma aula síncrona, durante uma videochamada, pedindo para que cada um mostre o caderno e conte o que foi anotado. Outra possibilidade é pedir para os estudantes enviarem os trechos destacados nos Diários de Bordo previamente, de forma assíncrona, pelo WhatsApp (você pode criar um grupo específico para organizar a discussão) ou outra plataforma de sua escolha. 

Após esse compartilhamento, e com base nas percepções da turma sobre o que foi visitado, dê início ao debate sobre as relações raciais no Brasil, destacando novamente a importância desses marcos de memória. Aproveite de debate para destacar alguns pontos com a turma:

Foi possível identificar nessa visita alguns patrimônios imateriais? Quais?
Espera-se que a turma identifique e relacione o samba ao Largo João da Baiana e também faça referência à organização da comunidade Quilombola da Pedra do Sal como guardiã das memórias orais do local.

Temos alguma personagem de destaque nesse passeio?
Espera-se que a turma identifique a atuação do engenheiro André Rebouças na construção das docas e também a referência a um dos pioneiros do samba, João da Baiana, no local que leva seu nome.


PARA SABER MAIS 

A utopia da Pequena África: os espaços do patrimônio na Zona Portuária carioca
Disponível aqui

Tese de doutorado em Sociologia e Antropologia escrita por Roberta Sampaio Guimarães, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2011.

Valongo: o mercado de escravos do Rio de Janeiro, 1758 a 1831
Disponível aqui

Dissertação de mestrado de Cláudio de Paula Honorato, Universidade Federal Fluminense (UFF), 2008. 

Por uma história pública dos africanos escravizados no Brasil
Disponível aqui

Artigo publicado por Milton Guran, Martha Abreu e Hebe Mattos, na revista Estudos Históricos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), 2014.

Esta sugestão de atividade foi produzida por Karoline Martins Moreira, historiadora licenciada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e mestranda em História Social pelo programa de Pós-graduação em História da UNIRIO. E-mail: karolinemoreira@edu.unirio.br 

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