Quando a Educação Física mexe com a autoestima das crianças
Ao notar que os alunos não gostavam do próprio corpo, Luiz Gustavo Rufino propôs atividades para criar empatia entre os estudantes do Fundamental I
Uma série de perguntas simples feitas aos seus alunos, meninos e meninas do 3º ano com idades de 8 a 9 anos, gerou respostas surpreendentes para Luiz Gustavo Bonatto Rufino, professor de Educação Física da EM Odete Emídio de Souza, em Paulínia (SP). As questões eram diretas: “O que é o corpo? Para que serve? Você gosta do seu corpo?”
A resposta à terceira pergunta foi triste: cerca de 50% dos alunos responderam que não gostavam do próprio corpo. Eles tinham vergonha da cor da pele, achavam-se gordos demais, magros demais, ou não gostavam do próprio cabelo. A parte da turma que se dizia feliz era a que se enquadra em certos padrões de magreza ou eram loiros. “Isso me pegou e era nisso que eu poderia trabalhar”, disse Luiz Gustavo.
Foi assim que o professor criou o projeto “Ressignificando as visões sobre o corpo”, um dos dez vencedores do Prêmio Educador Nota 10 deste ano. Luiz Gustavo afirma que se propôs a conduzir os alunos a mudar a percepção sobre o próprio corpo. “Eles tinham uma visão negativa de si muito baseada em padrões valorizados pela mídia, pelos colegas, pelos pais ou até por influência de alguns professores. Às vezes, nós reforçamos algumas coisas”, reconhece.
Depois dessa primeira sondagem, o professor organizou o projeto em três eixos.
O primeiro, chamado “Eu, meu corpo e minha história”, incluiu atividades de atletismo e ginástica, além de modalidades circenses, como malabares.
No segundo eixo, “O outro e seu corpo”, a observação das formas corporais ganhou materialidade com uma atividade de delinear o contorno do colega com giz no chão da quadra, criando a silhueta dele em um desenho.
Já no último eixo, “O Corpo, suas potencialidades e limitações”, Luiz Gustavo levou os alunos a uma exploração de atividades físicas com restrições sensoriais ou limitações motoras. O professor fez vendas para que os alunos vivenciassem uma corrida sem enxergar, ou amarrou a perna de alguns estudantes para dificultar os movimentos. Além disso, eles também praticaram o parkour, modalidade que ficou famosa nas grandes metrópoles, na qual o praticante precisa usar todo o corpo para vencer os obstáculos.
Os alunos também mantinham registros de todas as atividades e refletiam sobre o próprio progresso, analisando o portfólio que criaram.
Outra preocupação de Luiz Gustavo foi com os alunos mais tímidos, que sentem muita vergonha nas aulas de Educação Física, nas quais o corpo fica mais exposto. “O aluno acaba quase em um palco. E nós, professores, podemos reforçar esse desafio e fazer com que ele se transforme em uma pessoa que odeia a prática de atividade física”, diz o docente. Para evitar o problema, Luiz Gustavo deu preferência a atividades realizadas em duplas, pequenos grupos ou por todos ao mesmo tempo.
Depois do projeto, a relação entre os estudantes na escola ficou mais harmônica. “Eles viram que não é engraçado tirar sarro do outro por causa da cor da pele, por exemplo. Acredito que isso foi um ganho do projeto.”
Aula ponto a ponto
1. Luiz Gustavo realiza uma sondagem inicial e constata que 50% da turma está descontente com o próprio corpo.
2. Os alunos começam realizando atividades de atletismo e ginástica, além de modalidades circenses, como malabares.
3. Depois, os colegas se observam mutuamente e contornam os corpos uns dos outros com giz, no chão da quadra.
4. Por fim, Gustavo propôs experiências para que os alunos reconhecessem as potencialidades e limitações do corpo, incluindo atividades nas quais as crianças tiveram os olhos vendados ou as pernas amarradas.
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