Como diagnosticar os problemas de ortografia de sua turma
Os alunos de Priscila de Medeiros sempre tinham dúvidas diante do desafio da escrita: veja o método que ela criou para resolver o problema
A insegurança na hora de grafar determinadas palavras virou empecilho na rotina de um grupo de alunos do 5º ano da EM Dona Miloca, em Rancharia (SP). A todo momento, eles paravam para perguntar: “Professora, rato começa com dois Rs?”, “Prô, enchente como escreve: com X ou CH?”, “A palavra rosa, estou confuso, mas acho que é com S, né?” Escrever sem saber direito qual letra empregar não faz o texto fluir.
Os próprios alunos se deram conta de que as interrupções atrapalhavam o trabalho. Por essa razão, quando a professora de Língua Portuguesa Priscila de Medeiros propôs em fevereiro deste ano um projeto didático para aprender ortografia, os estudantes gostaram da ideia.
Essa disposição, sem dúvida, facilitou o aprendizado, segundo Priscila. Ela, então, partiu para organizar as atividades do projeto intitulado, não por acaso, de “Professora, como se escreve?” Esse trabalho ficou entre os 50 finalistas no Prêmio Educador Nota 10 de 2019.
Priscila dividiu as atividades em oito etapas, da avaliação diagnóstica ao envio de cartas produzidas pela turma como parte das atividades. Mas a intenção da docente não era trabalhar com as regras da gramática já prontas, mas, sim, ver os alunos construindo essas regras, refletindo sobre a ortografia a partir dos seus textos e dos textos dos outros colegas.
Para realizar a primeira etapa, Priscila utilizou a avaliação diagnóstica da Secretaria Municipal de Educação de Rancharia, divulgada no início do ano, para ver quais as maiores dificuldades dos alunos. A partir dos resultados, a professora identificou os erros mais comuns. Depois, montou uma tabela para agrupar os alunos por tipos de erro. Os critérios da divisão foram elaborados a partir de duas obras de referência: o livro Ortografia, da Coleção Como Eu Ensino (Editora Melhoramentos), de Maria José Nóbrega, e um estudo de Artur Gomes de Morais, intitulado Ortografia: Ensinar e Aprender, da Editora Ática.
“Por isso organizei a sala em grupos, para que eles trocassem suas experiências”, conta Priscila. Assim, foram formados grupos para trabalhar o M antes de P e B; o S, SS e S com som de Z; e o G e J, entre outros.
Com base nas tabelas individualizadas de diagnóstico, ela separou os alunos de acordo com suas dúvidas. “Eles conversaram si sobre suas produções e tentaram encontrar regras para determinadas ortografias”, explica.
Depois do diagnóstico do problema, Priscila desenvolveu atividades separando os alunos em grupos de acordo com as dificuldades em comum que eles apresentavam. Por fim, eles tiveram que escrever uma carta.
Priscila escolheu a carta, pois, segundo ela, nesse gênero há um receptor real e uma função social. Os alunos usam muitas técnicas de revisão, se preocupam com a clareza do texto pois uma pessoa vai ler a carta. “O gênero carta casa bem com os propósitos que eu almejava alcançar”, diz.
O projeto ainda não acabou. Neste segundo semestre a professora está trabalhando com ortografias morfológicas e gramaticais. Na opinião da docente, falta ainda envolver outros alunos no projeto, de outros anos, além da própria escola, para consolidação da proposta. Mas, Priscila já observou no grupo de alunos que realizou as atividades de seu projeto uma tomada de consciência da importância de se escrever corretamente e também a descoberta e uso dos recursos para escrever sem a interrupção das velhas dúvidas.
Projeto ponto a ponto
1. Priscila faz a aplicação de uma avaliação diagnóstica da ortografia dos alunos, a partir de um ditado e da reescrita do conto clássico Ali Babá e os 40 Ladrões. Analisando a escrita dos alunos, a professora confecciona tabelas em que estão os erros mais comuns de cada um;
2. A turma realiza atividades em torno das regularidade e irregularidades, a partir dos dados indicados na análise feita pela professora. Os alunos observam um grupo de palavras, em atividades diversas, para notar se havia regularidade na sua escrita. Em seguida, a turma discute o que observou e os alunos precisam encontrar formas de explicá-las. Depois da explicação das regras coletivamente, elas são registradas por escrito, dessa forma é a própria turma que “elabora” as regras ortográficas e também confecciona cartazes com essas regras. Além disso, para as irregularidades, eles são estimulados a consultar dicionários e criar formas de memorização;
3. Os alunos começam a produção textual, aplicando o que aprenderam. Priscila escolheu o gênero carta e pediu que eles fizessem reflexões sobre a produção de uma carta para familiares ou amigos, contando a eles os aprendizados adquiridos no projeto. Os estudantes redigiram a carta, fizeram uma revisão coletiva de algumas delas com um olhar mais direcionado à ortografia, digitalizam os textos e enviam.
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