Para repensar a prática

Andrea Luize: “Rever palavras e compreendê-las é mais importante do que decorar regras”

A pedagoga do Instituto Vera Cruz afirma que a iniciativa da professora Priscila de Medeiros torna o trabalho mais assertivo no ensino da ortografia

Letras em 3d na cor lilás em um fundo branco
Ilustração: Duda Oliva

Uma das qualidades do projeto de Priscila de Medeiros, professora do 5º ano da EM Dona Miloca, em Rancharia (SP), foi conseguir dar conta de demandas tão diferentes dos alunos de forma equilibrada. É o que observa a pedagoga Andrea Luize, do Instituto Vera Cruz, selecionadora do Prêmio Educador Nota 10 que avaliou o trabalho da professora. “Para implantar um projeto desse é preciso que o professor considere o currículo de ortografia da escola e vá fazendo revisões com os alunos. No 5º ano, o que se espera é que eles já estejam vendo ortografia desde o 2º, pelo menos”, diz.

Andrea falou à NOVA ESCOLA BOX sobre esses e outros pontos positivos do trabalho, e deu dicas preciosas para quem precisa trabalhar ortografia com seus alunos.

NOVA ESCOLA BOX - Em tese, os alunos do 5º ano já sabem algumas regras, certo?
Andrea Luize: Existem algumas regularidades que os meninos já conhecem. Mas é claro que existe uma diferença entre saber uma regra e utilizá-la corretamente em um texto. O mapeamento que acho interessante é considerar o que a escola já trabalhou com esse grupo de alunos até aqui e ver quais as suas dificuldades. Tem aluno que está no 5o ano, mas ainda não domina o uso do M e do N, por exemplo. Então é preciso fazer uma retomada com esses estudantes. Outros apresentam demandas diferentes, e é importante levar essa heterogeneidade em consideração. 

NEBOX: Essa é uma forma de personalizar o diagnóstico de problemas ortográficos?
AL: Não sei se dá para personalizar, nem acho que dá para chamar esse projeto de personalizado. O diagnóstico que a Priscila fez está a serviço de tornar o trabalho mais assertivo, de verificar conteúdos ortográficos trabalhados no currículo e lidar com eles ao longo dos anos. É importante ressaltar que ela ampliou um pouco isso. Priscila mapeou outros aspectos, como conteúdos novos de ortografia [acentuação, por exemplo], e os trouxe para o grupo. Com esse mapeamento, é possível levantar os saberes que estão ali ocorrendo na fala e que não necessariamente são saberes convencionais. É uma forma interessante de aprendizado, no qual os alunos se apropriam dele. 

NEBOX: A professora usou como ponto de partida a reescrita do conto Ali Babá e os 40 Ladrões e, ao final, a escrita de uma carta. Quais outras estratégias os professores podem usar?

AL: Um ditado é algo interessante, porque a partir dele o professor consegue avaliar ortograficamente as mesmas palavras. Priscila aplicou um ditado também, pois no conto as palavras usadas não são iguais. O ideal é que esses trabalhos resultem em revisão. Claro que no início não esperamos que as primeiras palavras apareçam grafadas corretamente. A revisão em grupo permite que os alunos discutam as possibilidades entre si. Quanto à carta, a professora valeu-se dela porque achou que precisava de um produto final, mas o trabalho com ortografia não demanda isso. Ele se dá por meio de sequências, uma relação das regularidades e a tomada disso com a revisão no dia a dia. A carta é dispensável.

NEBOX: Em um grupo grande, como o da professora Priscila, o que pode ser feito para envolver os alunos e evitar dispersão?
AL: O objetivo final desse trabalho é fazer com que os alunos aprendam ortografia e não que saiam recitando regras. Queremos que eles aprendam as palavras para uso diário e se apropriem da ortografia, que isso lhes faça sentido. Nesse contexto, o trabalho em grupo é imprescindível, porque suscita mais reflexões, mais trocas. Mas existe a questão da dispersão, claro. Priscila, no entanto, apesar de ter uma sala numerosa, trabalhou muito bem a gestão do grupo. Ensiná-los a trabalhar em grupo é um desafio, mas, delegando funções a cada aluno, envolvendo todos, ela conseguiu se sair muito bem nisso.

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