PARA FORMAR A EQUIPE

1º Roteiro de Formação: Leitura e dinâmica para verificar as condições socioemocionais dos estudantes

Saiba como os coordenadores podem auxiliar os professores na tarefa de engajar as crianças e os adolescentes com a escola por meio de um passo a passo detalhado para um encontro formativo

Ilustração de alunos e professora em atividade de leitura para verificar as condições socioemocionais dos estudantes.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

Se o período de ensino remoto emergencial foi, no mínimo, desafiador, a retomada das aulas presenciais na escola também inspira cuidados. Para além dos protocolos sanitários, a necessidade de reconectar os alunos com o propósito dos estudos e com as necessidades de aprendizagem passa necessariamente pelo acolhimento. Para receber os estudantes, a equipe gestora, seja o diretor, seja o coordenador pedagógico, precisa avaliar como estão as condições socioemocionais dos professores, e essa atitude por si só já impulsiona a fazer o mesmo – com base na homologia de processos – com os estudantes. 

O objetivo deste roteiro formativo é realizar um trabalho de reflexão, estimulada pelo pensamento do filósofo, médico, psicólogo e educador francês Henri Wallon (1879-1962), para discussão de estratégias e de construção de um instrumento que investigue as condições socioemocionais dos estudantes.

Segundo Wallon, a emotividade humana – mediada pela cultura e interpretada pelo adulto – promove o desenvolvimento cognitivo da criança. Por isso, dar atenção às emoções e às relações entre as pessoas contribui para estabelecer um clima positivo, que incentiva o engajamento e a aprendizagem na escola.  

Acompanhe a seguir como organizar uma reunião com os professores sobre esse tema. O roteiro reúne sugestões de atividades detalhadas, materiais de apoio e referências bibliográficas. Este foi preparado pela especialista Sônia Guaraldo, doutora em Educação pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultora do programa Formar, da Fundação Lemann, mantenedora de NOVA ESCOLA. Com experiência como coordenadora pedagógica e diretora de escolas públicas, Sônia foi também secretária de Educação de Birigui (SP). 

Você encontra neste mesmo Box uma sugestão de instrumento de levantamento das condições socioemocionais dos alunos, que pode ser adaptado de acordo com o contexto da sua escola e segundo as necessidades dos docentes. Além dele, um segundo roteiro orienta como a equipe pode desenvolver estratégias coletivas de planejamento que considerem os componentes curriculares e as atividades de reconexão com a escola e com os colegas.

divisória de roteiro

ROTEIRO DE FORMAÇÃO: CONDIÇÕES SOCIOEMOCIONAIS E ENGAJAMENTO DOS ESTUDANTES 

Organize um encontro formativo com os professores para apoiar e acolher os alunos no retorno à escola


Indicado para: Coordenadores Pedagógicos do Ensino Básico

Objetivo da reunião: Refletir sobre a importância do engajamento dos alunos nas atividades escolares e construir coletivamente um instrumento de levantamento das condições socioemocionais 

Duração da reunião: 2 horas

Materiais e ferramentas:
- Ferramenta de produção conjunta de textos (Google Docs)

- Ferramenta de criação de um formulário (Google Forms)

- Flip-chart, cartolina ou lousa e canetas (ou outro material para anotação)

Leituras prévias para os gestores: Reportagem do site NOVA ESCOLA sobre Coordenação pedagógica: Por que investir em formação continuada em competências socioemocionais?

Leituras e materiais prévios para os professores:
Podcast do Porvir: "De 0 a 5" episódio 3: O que pensam as crianças sobre a pandemia

Texto A indissociabilidade entre afetividade, ação motora e inteligência (páginas 37 a 39 do livro sobre Henri Wallon)


PASSO A PASSO

Antes da reunião

1. Investigue as condições socioemocionais dos professores. Organize uma pesquisa usando o formulário do Google Forms ou outra plataforma de compartilhamento para que os educadores compartilhem suas percepções e sentimentos. Deixe-os à vontade para não se identificarem. Aborde os seguintes aspectos:

- Vivências relacionadas à pandemia (luto, solidão, perdas etc.)

- Angústias sobre a segurança sanitária; sentem-se seguros com as condições sanitárias oferecidas pela escola?

- Dúvidas e anseios quanto às formas de organização do trabalho pedagógico

- Expectativas dos professores sobre as possibilidades de aprendizagem dos alunos

2. Faça um convite aos educadores. Para promover o início de um trabalho coletivo de replanejamento das atividades, dispare convite para toda a equipe de educadores, por e-mail, aplicativo de mensagens ou por outro meio que seja usual entre vocês.  

3. Prepare os professores para participar. Este convite deve conter o tema e os objetivos da reunião (importância do engajamento dos estudantes e construção de instrumento de levantamento de condições socioemocionais) e a recomendação de atividades para preparar o educador para a reunião. São elas:

- Responder à pesquisa enviada (pelo Google Forms ou outra plataforma)

- Escutar o podcast do Porvir sobre o que as crianças pensam sobre a pandemia

- Fazer a leitura do texto sobre a centralidade da afetividade na construção do conhecimento, na visão de Henry Wallon 

Durante a reunião

1. Faça um bom acolhimento. Atendendo aos protocolos de afastamento, receba os professores um a um, pessoalmente, em um espaço organizado e acolhedor. Você poderá utilizar áreas abertas da escola para que todos se sintam mais à vontade e seguros.

2. Promova um momento de check-in. Apresente aos docentes imagens ou memes indicando emoções diversas e peça que escolham aquela que melhor os representa. Em seguida, peça àqueles que se sentirem à vontade para que compartilhem com o grupo a emoção que os caracteriza no momento.  

3. Contextualize o momento pedagógico atual e abra a palavra. Permita àqueles que quiserem que manifestem seus sentimentos e, em seguida, apresente a temática a ser discutida e os objetivos da reunião. Caso você tenha percebido, consultando o levantamento prévio, que os professores têm dúvidas quanto à organização das rotinas formativas da escola, esse pode ser um excelente momento para dar visibilidade sobre como o trabalho será organizado. Também pode ser importante contar à equipe docente sobre as intenções da gestão em oportunizar que todos participem da definição das demandas formativas, esclarecendo que estarão alinhadas às necessidades sentidas pelo grupo de professores em sala de aula. 

4. Sensibilize os educadores com um vídeo: Exiba o vídeo abaixo sobre as principais ideias de Henri Wallon.

5. Provoque a reflexão com o grupo: Lance a seguinte pergunta: Sabendo da estreita relação entre afetividade e cognição, que desafios imaginam enfrentar na tarefa de reconectar os estudantes com a escola no momento do retorno presencial? 

Os professores devem levantar os principais desafios, que podem girar em torno das defasagens de aprendizagem, da evasão escolar, do medo de algumas famílias em enviar as crianças à escola, da necessidade de criação de vínculo entre estudantes e escola. Anote esses desafios em um mural (lousa, cartolina ou flip-chart). 

6. Questione os professores. Lance mais uma pergunta: o que precisamos saber sobre nossos alunos para adequar as condições de acolhimento e reconexão dos estudantes com a escola? 

Peça que primeiro reflitam individualmente e, na sequência, expressem suas ideias sobre esse ponto. Enquanto isso, vá registrando e agrupando as ideias dos professores em categorias num mural (papel ou lousa) visível para todos. Muito provavelmente, serão criadas categorias relacionadas a:

- Modificações no contexto de vida das crianças na pandemia;

- Rotinas de estudos durante a pandemia;

- Interações sociais durante a pandemia;

- Casos de covid-19 e perdas familiares (condições emocionais);

- Percepções e expectativas sobre o futuro e sobre a escola.

É importante que as categorias levantadas deem conta de oferecer elementos que sinalizem para questões que podem impactar as condições emocionais dos estudantes, indicando formas de organizar o trabalho pedagógico em sala de aula para estimulá-los a se reconectarem com a escola e com os colegas. 

7. Trabalho em grupo. Proponha aos professores que se agrupem por ano/etapa e desdobrem as categorias, indicando possibilidades de perguntas que poderão compor cada uma delas. Solicite também que indiquem as principais fontes desse levantamento. Crie uma pasta compartilhada no Google Drive e peça para que os docentes registrem suas ideias por grupo de discussão.

8. Promova uma socialização das ideias. Ao final, abra espaço para trocas e questionamentos.

Depois da reunião 

1. Sistematize as contribuições em um instrumento. Compartilhe um instrumento que será usado pela equipe para acompanhar as condições socioemocionais e o nível de engajamento dos alunos e peça que os professores o validem no próximo encontro. Você pode, ainda, usar como referência os instrumentos sugeridos por Sônia Guaraldo neste Box.

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