PARA REPENSAR A PRÁTICA

Contato com a natureza e atividades ao ar livre: uma boa opção para os alunos em meio à pandemia

Além de serem benéficas para a saúde física e mental das crianças, as propostas em áreas externas minimizam os riscos de contaminação pela covid-19. Mas é importante não deixar de lado a intencionalidade pedagógica ao organizar expedições em espaços abertos

Ilustração de galhos, folhas, plantas e frutos.
Ilustração: Letícia Moreno/NOVA ESCOLA

A natureza está presente em nós mesmos, no que está ao nosso redor e em todos os momentos da nossa vida. Porém, nem sempre as crianças têm essa compreensão, sobretudo para aquelas que nasceram e vivem em regiões metropolitanas. Não é incomum que elas vejam a natureza como algo distante. E no embalo deste outubro que se inicia, nada melhor que tratar do tema no mês em que se comemora o Dia Internacional da Natureza, mais especificamente no dia 4. 

Vale lembrar também que nesta mesma data a Igreja Católica comemora o Dia de São Francisco de Assis, conhecido como protetor dos animais. O santo ganhou essa fama por tratar dos animais como verdadeiros irmãos, com cuidado, respeito e carinho. Não à toa ele é o padroeiro da Ecologia, a ciência que estuda os seres vivos e a relação e influência deles com o ambiente em que vivem.

Para auxiliar você, professor, a incentivar os alunos a explorarem e a conhecerem a natureza, NOVA ESCOLA conversou com dois especialistas no ensino de Ciências para refletir sobre como o educador pode aproveitar espaços ao ar livre para desenvolver atividades pedagógicas sobre os diferentes seres e suas relações com o meio onde vivem. 

Não faltam motivos para que o professor pense e elabore uma ou várias aulas que saiam das quatro paredes da sala de aula e abuse de áreas verdes e ao ar livre, como um jardim ou horta da escola. Caso a instituição não tenha um ambiente como esse, o professor pode programar, com autorização dos pais e responsáveis, uma saída para realizar atividades exploratórias e investigativas com os alunos, em locais como uma praça ou um bosque próximo.

Contato com a Natureza: benefícios físicos e emocionais

Cíntia Diogenes, Mentora de Ciências do Time de Autores de NOVA ESCOLA, e Leandro Holanda, Especialista em Ciências do Time de Autores de NOVA ESCOLA, ressaltam que, depois de meses de ensino remoto e famílias cumprindo normas de isolamento social para evitar a contaminação pela covid-19, as experiências fora da sala de aula são benéficas do ponto de vista físico e emocional para as crianças, além de serem atraentes para elas. 

“Vários alunos viveram situações bem difíceis e talvez até traumáticas com o fato de não poderem sair para canto nenhum. Propor situações em que as crianças possam estar em um lugar aberto e em contato com a natureza, sentir o sol no rosto e conseguir se relacionar com o meio é muito interessante para eles, emocionalmente falando. Fisicamente, sabe-se que muitas crianças e adolescentes ficaram sedentários neste período da pandemia. Com a atividade externa, elas também têm esse benefício”, explica Cintia.

Leandro ressalta que as atividades ao ar livre, ao permitirem a alunos se movimentarem por espaços abertos, também os auxiliam a desenvolver ainda mais a consciência corporal.

Atenção aos protocolos contra a covid-19

Ainda que espaços abertos sejam mais seguros em relação aos riscos de contaminação pela covid-19, vários cuidados precisam continuar sendo tomados para evitar a propagação do vírus, explica Cíntia.

O uso de máscara, mesmo em ambiente aberto, deve ser mantido. As atividades precisam ser pensadas para serem feitas em grupos pequenos. O álcool em gel deve ser levado ao local e utilizado em vários momentos e é importante que cada criança tenha a própria garrafa de água. Além disso, é interessante estabelecer combinados com os alunos, como manter certo distanciamento social e evitar qualquer interação com pessoas que não sejam membros da comunidade escolar. 

Caso o ambiente escolhido para o desenvolvimento da atividade seja fora do espaço escolar, é preciso que o professor planeje detalhadamente toda a logística de deslocamento e de monitoramento dos alunos É importante que o educador conte com o auxílio de outros funcionários da escola. Uma opção, ainda, é fazer um chamamento dos familiares adultos, aponta Cíntia. “A escola também tem a função de envolver a comunidade e as famílias. Pode haver uma praça que muitas famílias utilizam nos momentos de lazer. Algum adulto pode auxiliar e também se engajar com as propostas das escola.”

Intencionalidade pedagógica no contato com a Natureza

Apesar de ser tentador simplesmente transpor uma aula que seria desenvolvida dentro da sala de aula para um ambiente aberto, tanto Cíntia quanto Leandro ressaltam que é necessário planejar e ter uma intencionalidade pedagógica na hora de planejar atividades em espaços abertos. 

“Todo mundo ficou muito tempo em casa por conta da pandemia, então as crianças vão querer aproveitar o retorno das aulas para poder participar de uma atividade externa. Mas é importante que a proposta tenha um objetivo. Não é só sair por sair, mas realmente elaborar uma atividade que tenha finalidade, explica Leandro.

Quando as saídas da sala de aula não trazem uma proposta pedagógica definida, o aluno pode acabar se perdendo. Para evitar isso, o educador costuma seguir um método de trabalho.

“Quando organizava essas saídas pedagógicas, eu fazia algumas perguntas, sentava numa roda e organizava uma discussão com os alunos. Às vezes, saímos com a premissa de que vamos pegar os dados, levar pra sala e depois vamos conseguir desenvolver um monte de aprendizagens, mas na aula seguinte pode ocorrer de o aluno esquecer tudo. Então, concretizar a sistematizar com ele no próprio espaço, fazendo uma conversa e levando as perguntas planejadas, faz toda a diferença”, conta Leandro.

Para ele, é fundamental a construção de um plano. “Na questão do preparo pedagógico, é importante construir um roteiro, definir quais as perguntas que serão feitas, quais serão as ações dos estudantes, separar os materiais necessários para, por exemplo, observar plantas e animais no espaço externo.”

Cíntia defende os benefícios de atividades ao ar livre com planejamento e muita atenção por parte do professor.

“O espaço aberto deve ser usado com uma intencionalidade pedagógica para desenvolver conceitos e habilidades nos alunos. O professor pode trabalhar psicomotricidade no espaço aberto, localização espacial, observação de mundo. Em Ciências, especialmente, eu trabalhava muito com a observação da natureza. É o que o cientista faz: ele é um apreciador, um observador e um analista da natureza", explica.

Na BNCC

A ideia do que é ser um cientista e o que ele faz, refleteCintia, é uma das competências gerais da Educação Básica previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): a do Pensamento Científico, Crítico e Criativo. Essa competência estabelece a importância de estimular a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções.

Para se preparar, o professor que pretende usar um espaço aberto para desenvolver atividades precisa fazer desse local um ambiente capaz de estimular essa competência e outras habilidades da BNCC. 

“Não é somente transferir a sala de aula para um espaço aberto. É interessante que o aluno use o espaço aberto como um recurso a mais. O professor vai permitir que o aluno explore esse espaço, mediando as ações dos alunos de modo que eles consigam desenvolver habilidades que ele estabeleceu ao planejar aquela atividade em espaço aberto.” 

Para além das orientações passadas pelos professores, é inegável que atividades ao ar livre bem mediadas promovem aspectos positivos para além da intenção dos professores. “Quando você estimula essa aprendizagem ao ar livre, você está vinculando o jovem ao território, ele tem aquela sensação de pertencimento: 'Eu pertenço a este local'. Além disso, o ambiente aberto estimula o cuidado e a preservação da natureza. Todos esses aspectos acabam favorecendo o desenvolvimento integral dessa criança”, resume Cíntia. 

Neste Box, preparamos sugestões de atividade e materiais exclusivos para você, professora e professor, desenvolver atividades ao ar livre com seus alunos que estimulam o contato com a natureza sem deixar de lado a intencionalidade pedagógica. Confira abaixo:

Atividade de Ciências: O que os dinossauros têm em comum com os animais de hoje?

Atividade de Geografia: A relação com a natureza no campo e na cidade

Para baixar: Fichas de registro para os alunos observarem e classificarem animais e plantas

Mais sobre esse tema