Gestão Escolar

Roteiro de formação: Como fazer a transição do 5º para o 6º ano em 2022?

Em cinco encontros com filmes e contato com leituras de referência, educadores devem refletir sobre o papel docente e trocar experiências para viabilizar melhores práticas no Ensino Fundamental

Ilustração de aluna utilizando modelos matemáticos e maquetes do sistema solar.
Ilustração: Yasmin Dias/NOVA ESCOLA. Fotografia: Roberto Setton/NOVA ESCOLA

A formação continuada pode ser entendida como condição para a mudança das práticas pedagógicas em relação a dois aspectos centrais: como processo crescente de autonomia do professor e da unidade escolar e como reflexão sobre a ação docente. 

Neste roteiro de formação, elaborado pela diretora escolar e consultora pedagógica Renata Borges, especialista em transição, essa reflexão debruça-se especialmente sobre a atuação dos professores do 6º ano do Ensino Fundamental. Saiba mais sobre o momento de transição entre etapas também nos outros conteúdos da edição, listados abaixo:


Transição entre etapas: como ajudar na adaptação das turmas
Transição entre etapas: 7 dicas para apoiar os alunos do Fundamental
Chegando ao 6º ano: 5 pilares para pensar uma transição cuidadosa e intencional
Transição para o Ensino Médio: como ajudar os alunos do 9º ano


A formação continuada é, antes de tudo, uma releitura das experiências que ocorrem na escola, com atenção especial às práticas dos professores. Dessa forma, segundo a consultora, a escola é o espaço de formação continuada do professor, nas dimensões coletivas, profissionais e organizacionais, concebendo essa formação como uma intervenção educativa solidária aos desafios de mudanças das escolas e dos professores.  

A formação dos professores deve ser articulada ao contexto de trabalho. Para ele, só é possível deslocar-se da lógica da reciclagem (perspectiva cumulativa da aquisição de conhecimentos, formação continuada como extensão e complemento da formação inicial) para a lógica da recursividade (perspectiva que valoriza os saberes adquiridos pela experiência e atribui papel central ao sujeito do aprender), a partir do momento em que o exercício contextualizado do trabalho passa a ser a referência principal das práticas e modalidades de formação.

“Os professores aprenderem a sua profissão na escola não significa que eles só aprendam a sua profissão na escola. A aprendizagem da profissão e o desenvolvimento profissional correspondem a um percurso pessoal e profissional, que supõe a combinação de diferentes modalidades da formação”, argumenta Renata. 

Quando se fala em formação centrada na escola, entende-se que a escola se transforma em lugar de formação prioritária diante de outras ações formativas. “A formação centrada na escola é mais do que simples mudança de lugar da formação”, defende a consultora. 

Com base nessas recomendações, esse processo de formação foi dividido em quatro fases:

1. Preparação

É o momento de acolhimento do grupo, para a devolutiva do diagnóstico, incluindo partilha de experiências positivas e negativas e expectativas com relação à formação.

2. Desconstrução

Reflexão para desconstruir alguns conceitos já consolidados na prática docente, no que diz respeito a padrões de comportamento e relação professor–aluno.

3. Desenvolvimento

Planejamento e implementação de ações. 

4. Avaliação

Conclusão crítica do processo de formação.

divisória de gestão

ROTEIRO DE FORMAÇÃO – COMO FAZER A TRANSIÇÃO DO 5º PARA O 6º ANO EM 2022


Indicado para: Professores polivalentes e professores especialistas do 1º ao 9º ano do Fundamental

Objetivo: Conhecer as dificuldades vividas pelos professores na relação com os alunos em transição, refletir sobre os processos de mudança necessários à reconstrução dessa relação e promover um espaço de reflexão coletiva, de autorreflexão, discussão e de proposição de ideias.

Duração: Cinco encontros formativos com a duração de duas horas cada.


Encontro 1: As relações interpessoais e a profissão do professor

1. Antes de começar a planejar a formação, leia o depoimento a seguir, da professora Socorro Silva, que atua em Ipixuna (PA). Ele ajuda a ilustrar a importância da reflexão sobre a prática do professor e a iniciar o diálogo sobre o tema: 

“Falar da própria prática é muito interessante, uma vez que nos conduz a pensar com uma profundidade sobre a mesma, ou seja, nos dá a chance de percorrer um caminho trilhado por nós mesmos, e, com isso, passamos a ter um olhar observador, e mais atento e denunciador, de tudo que nos incomoda e angustia. Quando aprendemos a exercitar esse olhar reflexivo sobre a nossa prática pedagógica, abrimos várias janelas para nos tornarmos melhores profissionais da educação.”

2. Prepare-se e organize os encontros: pesquise sobre transição, tire dúvidas e defina como será a parte operacional da formação (on-line ou presencial, na escola ou em outro espaço etc.), inclusive considerando os protocolos sanitários e a situação da sua escola.

3. Indique uma leitura prévia para que os participantes se apropriem do assunto: a sugestão de Renata Borges é o texto "O Professor, Um Profissional" (páginas 19 e 20), do livro Ensinar: Tarefa para profissionais, de Beatriz Cardoso (Record, 2007).

4. Inicie uma discussão entre o grupo a partir da afirmação: para que alguém se veja como profissional, é preciso que tenha a oportunidade de ser reconhecido como tal, inclusive no seu processo de formação.


Encontro 2: Aluno ideal x aluno real – Teorias psicogenéticas em discussão

1. No segundo encontro proponha que os professores participantes assistam ao vídeo EX-E.T., do canal Educação Livre Crianças Felizes, como ponto de partida para reflexão.

2. Na sequência, promova a leitura e análise de textos acadêmicos ou livros que aprofundem a discussão. A sugestão são os títulos Afetividade e Inteligência, de Yves de La Taille e Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão, de Heloysa Dantas, Marta Kohl de Oliveira e Yves de La Taille (Summus, 2019). 


Encontro 3: Intervenções possíveis no contexto escolar olhando especificamente para o 5º e o 6º ano

1. Para o terceiro encontro, a proposta é de que o grupo faça a leitura individual e análise do texto "A Criança e o Adulto", do livro A Evolução Psicológica da Criança, de Henri Wallon.

2. Logo após a leitura, o grupo deverá socializar suas impressões e experiências pessoais com a temática e a fase de transição entre etapas que acontece no 5º para o 6º ano.  


Encontro 4: Repensando a prática para a implementação de ações concretas e relevantes

1. A proposta é assistir e fazer uma análise reflexiva acerca do filme Pink Floyd - The Wall (Dir: Alan Parker, 1982), que mostra uma escola e professores tradicionais. Veja a seguir o trecho do filme e leia alguns pontos provocadores da discussão levantados pela produção audiovisual:

- O filme Pink Floyd - The Wall foi produzido em 1982 pelo diretor britânico Alan Parker e com base no álbum The Wall, da banda Pink Floyd. O roteiro foi escrito pelo vocalista e baixista da banda Roger Waters.

- O roteiro tem poucos diálogos, um sentido metafórico e apresenta as músicas de fundo sendo interpretadas com sequências de animação, dirigidas pelo cartunista político Gerald Scarfe.

- No filme, Pink é um roqueiro que apresenta comportamento depressivo. Começa o filme em um quarto de hotel, que acabou de devastar, ao som de Vera Lynn cantando The Little Boy that Santa Claus Forgot.

- Mais à frente o filme apresenta cenas de escola onde o protagonista é humilhado por compor poemas. Entre várias situações de sofrimento e depressão, julgamento e humilhação, o filme trata da construção de um "muro" imaginário, que representa os obstáculos a serem derrubados ao longo da vida das pessoas.

- Numa visão geral, o tema central do filme é a decadência de um músico, provocada pela depressão e pelo abuso de alucinógenos, decorrentes da sofrida infância de Pink, que viveu no pós-Guerra.


Encontro 5:  Avaliação e tomadas de decisão

1. Para fechar, promova uma roda de conversa entre os educadores participantes a partir da leitura do poema Mestra Silvina, de Cora Coralina:

Vesti a memória com meu mandrião balão.
Centrei nas mãos meu vintém de cobre.
Oferta de uma infância pobre, inconsciente, ingênua,
revivida nestas páginas.

Minha escola primária, fostes meu ponto de partida,
dei voltas ao mundo.
Criei meus mundos...
Minha escola primária. Minha memória reverencia minha velha Mestra.
Nas minhas festivas noites de autógrafos, minhas colunas de jornais
e livros, está sempre presente minha escola primária.
Eu era menina do banco das mais atrasadas.

Minha escola primária...
Eu era um casulo feio, informe, inexpressivo.
E ela me refez, me desencantou.
Abriu pela paciência e didática da velha mestra,
cinqüentanos mais do que eu, o meu entendimento ocluso.

A escola da Mestra Silvina...
Tão pobre ela. Tão pobre a escola...
Sua pobreza encerrava uma luz que ninguém via.
Tantos anos já corridos...
Tantas voltas deu-me a vida...

No brilho de minhas noites de autógrafos,
luzes, mocidade e flores à minha volta, bruscamente a mutação se faz.
Cala o microfone, a voz da saudação.

Peça a peça se decompõe a cena,
retirados os painéis, o quadro se refaz,
tão pungente, diferente.

Toda pobreza da minha velha escola
se impõe e a mestra é iluminada de uma nova dimensão.

Estão presentes nos seus bancos
seus livros desusados, suas lousas que ninguém mais vê,
meus colegas relembrados.

Queira ou não, vejo-me tão pequena, no banco das atrasadas.

E volto a ser Aninha,
aquela em que ninguém
acreditava.

- Mestra Silvina, Cora Coralina. Encontrado no livro Melhores Poemas (Global, 2009) 

2. Para fechar o encontro, abra o diálogo sobre o poema e conecte-o com o tema da transição: avalie com o grupo o trabalho realizado até aquele momento com os alunos que farão as transições e como viabilizar práticas que podem colaborar nesse processo. Ao final, é sempre interessante colher as impressões dos educadores participantes sobre como foi a experiência do encontro e os possíveis pontos de melhoria.

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