Para levar para a prática

4 dicas para trabalhar as inseguranças e a autoestima dos adolescentes na escola

Livros e filmes sobre o tema, discussão sobre conceitos como equidade e inteligências múltiplas, lista de qualidades, show de talentos e mural de fotos são algumas das sugestões para organizar um projeto que valorize o autoconhecimento e o autocuidado dos estudantes

Ilustração de três alunos preocupados com suas mudanças corporais relacionadas à aparência física como o tamanho do nariz, necessidade do uso de aparelhos ou peso.
Ilustração: Clara Gastelois/NOVA ESCOLA

Cada território, escola e grupo de estudantes demanda projetos e atividades diferentes, de acordo com suas especificidades. Alguns procedimentos e orientações gerais, contudo, podem servir de base para inspirar os trabalhos.

O primeiro dos pontos diz respeito ao protagonismo e o engajamento dos estudantes na construção e desenvolvimento de todos os processos. “Não podemos perder de vista que eles são nossos parceiros e devem ser convocados como sujeitos que pensam, que atuam, para que possam ajudar nessa transformação”, orienta a psicóloga Viviane Neves Legnani.

Para conquistar essa participação, vale a pena começar por um mapeamento das questões que a turma está enfrentando. Para tanto, há um questionário que preparamos especialmente para essa ocasião, com orientações de como aplicá-lo e do que fazer com os resultados. Confira aqui.

Identificados os pontos centrais ligados à autoestima dos estudantes, é interessante compartilhar o levantamento com eles. Sem violar o acordo de anonimato, é possível apresentar um perfil das questões que surgiram. É uma forma para eles perceberem que há um problema concreto a ser abordado.

“Todo projeto tem de nascer da identificação de um problema real. Como ele carrega a ideia de sonhos compartilhados, é preciso convencer os alunos de que aquilo é uma questão que precisamos lidar juntos. O professor, inclusive, tem a aprender com eles e com o projeto”, afirma Fábio Augusto Machado, coordenador pedagógico na rede pública de São Paulo (SP).

Mostre livros e filmes sobre autoestima

Ainda neste momento inicial de sensibilização, é possível trazer algumas produções literárias e audiovisuais para provocar reflexões e sentimentos, seguidos por conversas entre a turma. 

Dentre as indicações, os especialistas recomendam documentários como A Máscara em Que Você Vive, especialmente importante para debater a construção das masculinidades, e O Dilema das Redes, que oferece outro ponto de vista a respeito das redes sociais. Curtas-metragens como Pode me Chamar de Nadí e Hair Love, podem apoiar conversas sobre negritude e autoestima, e o poema O Corpo É uma Festa, de Eduardo Galeano, também tem o potencial de disparar reflexões.

Traga conceitos-chave como equidade e inteligências múltiplas

Em sua experiência conduzindo projetos de valorização da identidade de seus estudantes, Fábio também percebeu que é produtivo compartilhar com eles alguns conceitos-chave em torno da questão, como educação integral, equidade, inclusão e inteligências múltiplas, uma concepção desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

“Antes de explicar o que são essas múltiplas inteligências, coloquei para tocar a música Índios, do Legião Urbana, e perguntei quantos violões eles ouviam. Um aluno disse que identificava dois violões e eu compartilhei com ele que sempre achei que era um só. São coisas assim que vão mostrando para eles suas potências em diferentes áreas, a complexidade dos seres humanos, e que o desenvolvimento de determinada inteligência tem a ver com uma série de questões individuais e contextuais. Cada um tem suas próprias potências e fragilidades”, relata o educador.

Incentive os alunos a fazerem uma lista de suas qualidades

Outra atividade que permite às crianças e jovens entrarem em contato com suas questões de autoestima é pedir que eles façam uma lista de suas qualidades, especificamente, já que eles costumam ser muito rápidos em apontar seus defeitos. “E são pontos que muitas vezes só tem a ver com o próprio jeito de se enxergar. Mas quando o aluno diz que não tem nada de bom para dizer de si, peço que seu melhor amigo da sala liste suas qualidades e eu mesmo vou apontando o que vejo neles, para ajudá-los a fazer esse trabalho de autorreflexão”, esclarece Fábio.

Organize um show de talentos e proponha produções digitais para estimular a autoestima

Feito o mapeamento e as conversas iniciais, é hora de planejar quais são as intervenções possíveis, que fariam sentido para lidar com as questões trazidas pelos estudantes e colocar a mão na massa. 

Como produto final, o educador Fábio sugere um show de talentos, para que cada um possa se destacar por algo que constitui sua individualidade. “É um trabalho de um olhar sensível para enxergar a potência de cada um e contribuir para que cada estudante seja capaz de encontrar a própria potência”, ressalta.

Outra possibilidade, indicada pelo professor Luiz Gustavo Rufino, da rede pública de Paulínia (SP), é aproveitar o interesse que boa parte dos estudantes tem em fotografar e filmar e propor um projeto que traga as tecnologias digitais como aliadas do fazer pedagógico.

O educador sugere atividades como pedir para os estudantes fazerem pequenos vídeos ou autorretratos que representem quem eles são e mostrem algo que gostam e não gostam em si, e em diferentes momentos: após uma aula de Educação Física, ao acordar, arrumados para sair. Eles também podem fotografar e filmar seus colegas. 

“Depois, é fazer disso tudo uma apresentação, uma feira de diversidade de corpos, com as fotos impressas, ou um mural virtual, para que esse conjunto de registros evidencie como a pessoa descabelada e suada também é bonita e arrumada em outro momento, que tem partes que gostam e não gostam. Tudo isso se compõe no mosaico que nós somos”, reflete Luiz.

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