Planejamento

O que é importante ter em vista nas devolutivas das avaliações para os alunos e pais e responsáveis?

Acolhimento e transparência na comunicação devem conduzir as conversas de encerramento do ano, tanto da escola com os estudantes quanto com os pais e responsáveis

Ilustração abstrata de reunião com os familiares em área esportiva da escola.
Ilustração: Rafaela Pascotto/NOVA ESCOLA

Em um ano em que metodologias pedagógicas foram reavaliadas, reorganizadas e remodeladas, não daria para pensar que as devolutivas de fim de ano também não deveriam ser alvo deste novo olhar da escola.

Especialistas ouvidos por NOVA ESCOLA apontam para a necessidade de uma compreensão mais profunda das questões socioemocionais dos alunos neste fechamento de ano letivo.

“Houve um estacionamento das relações interpessoais na pandemia, que afetou o desenvolvimento emocional dos estudantes. As aprendizagens e os conteúdos acadêmicos poderão ser recuperados, mas a saúde mental é a maior questão neste momento. A defasagem de ensino é o menor prejuízo”, analisa Adriana de Melo Ramos, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral - Unicamp/Unesp (Gepem) e integrante da consultoria Convivere Mais.

Rodrigo Fonseca, professor de Matemática nos ensinos Fundamental, Médio e Superior e consultor pedagógico, com atenção especial às dimensões curriculares de metodologia, planejamento e avaliação do trabalho docente, concorda: “O momento agora é de acolhimento, é essencialmente humano. Não há nada perdido. Na Educação, a gente lida com cenários diferentes sempre. Então agora não seria diferente.” 


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Por isso, no fechamento das avaliações, é importante passar nitidez nas comunicações sobre os desempenhos. Para Adriana, a devolutiva pode começar com a tomada de consciência do próprio aluno, com a realização de uma autoavaliação, abrindo espaço para que ele exponha suas dificuldades. 

“A partir daí, quando o aluno se percebe no processo, o professor pode se colocar nessa devolutiva e estabelecer um diálogo franco”, analisa. Com cuidado para evitar o tom de culpabilização, alerta Rodrigo, mas de forma que o docente também mantenha a sua autoridade enquanto profissional que conduz o processo educacional. 

Para o especialista, o estudante não pode sair das devolutivas com a sensação de que não é capaz de aprender, e que isso é legitimado pela escola. “É preciso muito cuidado”, afirma Rodrigo. 

Além das conversas individuais, os professores podem estimular rodas de conversa com a turma para ouvir os estudantes neste encerramento, dar espaço para falarem sobre a volta da convivência escolar e retomada do processo formativo, além de deixar claro também para eles quais as tomadas de decisão da escola para o próximo ano letivo – ou mesmo incluí-los nessa etapa, se for da cultura da escola. 

“É importante imprimir a mesma qualidade de comunicação que é feita entre os profissionais da escola, até para os estudantes compreenderem melhor os planos previstos”, explica Rodrigo. 

Num planejamento desejável, as devolutivas de avaliações formativas deveriam ser contínuas por etapas ou bimestres, ao longo de todo o ano letivo, e não apenas no final dele. 

“Escolas que não se estruturaram dessa forma neste ano podem pensar em incluir tal estratégia no planejamento para 2022”, indica Adriana. Com avaliações regulares, é possível ter mais elementos para avançar em questões inter-relacionais e de aprendizagem. 

“Com os intervalos menores entre elas, é possível que os alunos se lembrem mais facilmente dos cenários anteriores, para fazerem comparações e reconhecerem os próprios avanços”, avalia.

Retornos com a família

Estabelecer também uma rotina de devolutivas com a família pode até representar um alívio para muitas, que se queixam de que as escolas procuram os pais apenas no fechamento do ano letivo. “Muitos reclamam do volume grande de informações acumuladas, o que torna o processo muito exaustivo”, conta Adriana, especialmente após dois anos de uma rotina escolar estressante e que gerou muitos conflitos entre família e escola.

Nas devolutivas com os responsáveis, é importante incluir a família como colaboradora do processo de aprendizagem dos estudantes, imprimindo desde o início um diálogo e não uma prestação de contas ou um momento de justificação. “Professores e gestores precisam deixar claro qual o plano da escola para o filho e também pedir a participação dos responsáveis para apoiar o desenvolvimento do aluno. Lembrar sempre que o único beneficiário será a criança”, analisa Rodrigo.

Adriana reforça que, para uma conversa produtiva, é desejável adotar uma linguagem descritiva, expondo os fatos, e evitar frases que demonstrem julgamento de valor. Por exemplo, no lugar de ‘seu filho é agressivo’, melhor usar ‘seu filho é intolerante aos colegas em momentos X, Y e Z’. “Além disso, é importante trazer tudo que a escola fez para apoiar o estudante em situações cruciais e para melhorar o ambiente escolar”, avalia Adriana. 

“De maneira geral, a escola precisa mostrar ainda quais as estratégias para o próximo ano e de que forma o seu filho será contemplado dentro desse projeto pedagógico.”

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