Como planejar o ano todo - e lidar com os imprevistos
O planejamento é uma ferramenta imprescindível para o professor, mas é preciso ter flexibilidade para mudar
O planejamento do professor é tão importante quanto o da rede ou o da escola, pois ele se refere às ações que interferem diretamente no processo de ensino e aprendizagem. O momento é voltado para a organização do trabalho didático. Quais conteúdos serão trabalhados? Que estratégias pedagógicas serão empregadas? Como serão as atividades e as avaliações? Parte desse trabalho pode ser feita em conjunto entre os professores e outra, mais detalhada, elaborada individualmente, de acordo com as características de cada turma.
Como nas outras esferas, o planejamento dos professores também precisa se basear em avaliações ocorridas no ano anterior. Outro ponto de partida é o documento com a síntese do último planejamento, que deve ser cruzado com as avaliações. O que foi previsto no último ano e o que de fato foi realizado? Quais as expectativas de aprendizagem para cada disciplina neste ano? Mediar esse balanço é tarefa do coordenador.
A troca de informações entre professores é fundamental para dar coerência à aprendizagem ao longo da escolaridade. Para evitar a repetição de conteúdos, é necessário que os professores da mesma disciplina saibam até onde o colega conseguiu avançar no ano anterior para depois definir o que será abordado. Além de eleger os temas a serem trabalhados, é preciso distribuí-los nos meses.
Depois de definido "o que" e "o quando" será trabalhado, é preciso estabelecer "o como", e cada professor decide que estratégias pedagógicas empregará. Delia Lerner, autora do livro Ensinar - Tarefa para profissionais, sugere que o professor utilize diferentes modalidades organizativas do ensino: projetos, atividades habituais, sequências de atividades e atividades independentes. Essas estratégias devem ser complementadas umas pelas outras.
Os projetos resultam na confecção de um produto - um objeto ou uma ação. Não há um tempo fixo. O ideal é que se estabeleça um cronograma com os alunos e todos se responsabilizam por cumpri-lo. Essa é a estratégia de ensino mais recomendada quando se trata de desenvolver textos com propósitos comunicativos.
As atividades habituais, como o próprio nome diz, buscam criar e cultivar hábitos, como a leitura de notícias em jornais e revistas. São realizadas com uma frequência regular (uma vez por semana, uma vez por quinzena), que não pode ser desrespeitada para não perder seu caráter. A sequência de atividades é a modalidade organizativa mais comum entre os professores. É um conjunto de ações que visam à aprendizagem de um ou mais conteúdos específicos. Por exemplo, estudar o que é o aquecimento global e como reduzir suas consequências.
Finalmente, as atividades independentes são situações de sistematização dos conhecimentos aprendidos durante a realização dos projetos. Elas levam esse nome porque possuem apenas propósitos didáticos e são independentes dos propósitos sociais.
De acordo com o doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e pesquisador Celso Vasconcellos, os momentos a serem planejados com mais cuidado são as primeiras aulas. "Estudos mostram que a relação entre professor e aluno pode ser decidida nelas", diz.
Além de ferramenta pedagógica imprescindível, o planejamento também promove a utilização mais eficiente dos recursos e do tempo na escola. Quando todos os professores decidem previamente o que e quando vão fazer, fica mais fácil organizar o uso dos espaços comuns - como laboratórios, quadras poliesportivas e biblioteca ou sala de leitura - e dos equipamentos e recursos disponíveis.
No entanto, vale ressaltar que o planejamento é uma previsão, mas no caminho é possível que seja necessário mudar a rota para chegar no mesmo lugar. O professor pode perceber que a turma ainda não está no nível que imaginou, podem surgir imprevistos ou o dia a dia das crianças (ou da comunidade) pode demandar que seja trabalhado algum assunto não previsto, por exemplo. Essas variáveis não podem ser ignoradas. Por isso o professor precisa fazer uma avaliação constante do processo de ensino e estar atento para repensar o trajeto de forma a acompanhar o desenvolvimento da turma.
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