FUNDAMENTAL 1

Professora Suzi Dornelas leva as brincadeiras de países da África para a sala e para a quadra

Projeto Viajando pela Cultura Africana leva para a Educação Física toda a diversidade do continente africano

A professora Suzi Dornelas, criadora do projeto Viajando pela Cultura Africana. Foto: Nidiacris Ribeiro/Trupe Filmes

As brincadeiras não são exclusividade dos mais pequenos. No Ensino Fundamental, a Educação Física pode cumprir importante papel de estimular o brincar no cotidiano dos alunos enquanto se valoriza a herança cultural de matrizes indígena e africana, como indica a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A professora de Educação Física Suzi Dornelas, da Escola Estadual Professor José Ranieri, em Bauru (SP), levou essa recomendação a outro patamar, ao mostrar que é possível ensinar a diversidade dos países africanos para os alunos por meio de suas brincadeiras mais populares, combinando aulas em sala e na quadra poliesportiva. Com o projeto Viajando pela Cultura Africana, desenvolvido em 2019, Suzi tornou-se uma das vencedoras do Prêmio Educador Nota 10. 

Em 2020, o isolamento e o distanciamento social têm sido particularmente duros para a Educação Física. O desenvolvimento das práticas pedagógicas do componente curricular exigem a interação presencial com o professor, explica Suzi. “É assim que garantimos a segurança do aluno durante o exercício e fazemos com que a prática seja significativa”, aponta a educadora. 

Como essa presença deixou de acontecer fisicamente, as aulas precisaram ser remodeladas. Mesmo diante de algumas perdas, Suzi aprendeu, nesses meses, a ver pontos positivos no afastamento. “Os alunos começaram a perceber que a Educação Física vai além da prática de algum esporte.”

A reflexão sobre o exercício e sua importância, seu contexto, entre outros aspectos mais teóricos, têm sido muito estimuladas nesse período, com boa aceitação pelos estudantes, afirma. “Vejo que eles conseguem ser mais protagonistas nesse processo de aprendizagens e isso está muito relacionado ao trabalho que desenvolvi com Viajando pela Cultura Africana.”

No atual cenário, os alunos estão percebendo com mais clareza que são eles próprios os responsáveis pela construção do seu conhecimento. “Se ele não se disciplinar, não tomar a frente do estudo, não vai aprender.”

Sobre seu trabalho premiado (conheça mais detalhes no passo a passo abaixo), Suzi afirma que ainda não conseguiu replicá-lo este ano por conta do ensino remoto. O projeto foi transformado em pesquisa de mestrado, mas para o futuro, quando as aulas voltarem a ser presenciais, ela pretende adaptar o trabalho para os alunos dos anos finais do Ensino Médio, com outras abordagens (no momento ele é voltado para o Fundamental 1).

Enquanto isso não ocorre, o conhecimento adquirido pesquisando sobre cultura africana tem sido aproveitado em diversos momentos deste ano letivo. “Já abordei a cultura do hip hop e as lutas de matrizes africana e indígena com meus alunos”, exemplifica.

Mesmo remotamente, Suzi tem investido muito nesses conteúdos, incluindo abordagens interdisciplinares, com os apoios da Geografia, História e Artes, por exemplo. Em sua avaliação, o tema é fundamental para a construção de uma cultura antirracista, mas ainda é pouco abordado na escola e tem pouca representatividade.

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Abordagem antirracista

Marcos Mourão, professor de Educação Física, especializado em Educação Física Escolar e selecionador do Prêmio Educador Nota 10, considerou o trabalho feito por Suzi Dornelas como “primoroso”. Para ele, a professora surpreendeu com seu projeto por trazer à tona a questão do racismo nas aulas de Educação Física e, dessa maneira, estimular o convívio entre as diferenças. 

“Suzi propõe discussões muito adequadas para crianças do 5º ano, bem atreladas às competências específicas e gerais da BNCC”, explica Mourão. O projeto incentiva os estudantes a interagirem com a cultura africana do brincar e, por sua simplicidade e objetividade, pode ser aplicado em diversos contextos. 

“Ao longo do trabalho, ela documentou de forma  muito minuciosa os detalhes do aprendizado, o que demonstrou seu olhar aguçado para a pesquisa”, aponta. 

Os alunos que têm contato com a proposta de Suzi aprendem a identificar o preconceito e o racismo presentes em nossa sociedade e descobrem a diversidade do continente africano. “Fiquei muito satisfeito, porque é urgente que essas questões sejam debatidas na escola”, reflete o selecionador. 

Conheça mais detalhes sobre o projeto:


PROJETO VIAJANDO PELA CULTURA AFRICANA

Trabalho de Suzi Dornelas traz para a educação física discussões sobre preconceito e racismo 


Escola: Escola Estadual Professor José Ranieri

Cidade: Bauru (SP)

Componente curricular: Educação Física

Indicado para: Turmas de 5º ano

Materiais necessários: Caderno para registros (desenhos e textos); recursos audiovisuais do celular; músicas que tratem do continente africano (sugestão: Palavra Cantada); garrafas pet, areia, gravetos para criação de brinquedos; mapa-múndi e livros que tratem da cultura africana (sugestões: Ndule Ndule, de Rogério Andrade Barbosa, Ed. Melhoramentos; Caminhos da África, de Adyr Assumpção, Ed. Dimensão)

Na BNCC: EF35EF01, EF35EF02, EF35EF03 e EF35EF04

PASSO A PASSO DE DUAS AULAS

Suzi Dornelas escreveu um diário de campo e documentou em vídeo as etapas do projeto. Para envolver as famílias e a comunidade, criou o festival Viajando pela Cultura Africana. O planejamento pedagógico desenvolvido para sua pesquisa resultou em um material para uma sequência didática de 20 aulas sobre o tema. Aqui apresentamos duas (aulas 1 e 4).

Aula 1

Tema: Viagem pela África
Objetivos: Apresentar a proposta e investigar os conhecimentos prévios das(os) estudantes

1. Converse sobre as culturas de matriz africana. Sugerimos iniciar com um diálogo sobre conhecimentos a respeito das culturas africanas e afro-brasileira. 

2. Questione o que sabem sobre a África. Em roda de conversa, pergunte aos estudantes sobre essas culturas ou sugira que mencionem palavras ou frases sobre o continente africano. 

3. Apresente o projeto. Em seguida, apresente a proposta que será realizada ao longo das próximas aulas, ao longo de um bimestre ou semestre, sobre conteúdos de matriz africana nas aulas. Pergunte às alunas e aos alunos se aceitam fazer essa viagem pela África.

PONTO DE ATENÇÃO: Você pode utilizar um gravador de voz para registrar as aulas e transcrever em um diário de campo suas percepções como forma de avaliação e reflexão sobre suas aulas. 

Aula 4

Tema: Brincadeira Mamba (África do Sul)
Objetivo: Apresentar a brincadeira Mamba, proporcionando o aprendizado de suas características, bem como informações sobre seu país de origem.

1. Apresente o livro Ndule Ndule. Para essa atividade e as seguintes, serão sugeridas vivências com base no livro Ndule Ndule: Assim brincam as crianças africanas, de Rogério Andrade Barbosa. Como será o primeiro contato com o livro, é relevante mostrar seus elementos, tais como: capa, autor, ilustrador e biografias, entre outros. O  educador pode realizar a leitura da história ou solicitar aos estudantes. 

2. Explicando a brincadeira Mamba. Sugere-se explicar a brincadeira e utilizar a lousa como auxílio e também apresentar elementos culturais, geográficos e históricos da África do Sul. Nessa brincadeira, um participante é escolhido para ser a serpente. Os outros têm de fugir da cobra, mas não podem sair de um grande círculo desenhado no chão. Assim que a Mamba pega um dos fujões, este segura na mão daquele que desempenha o papel da cobra e passa a ser parte da cauda. A perseguição continua até todos formarem uma longa cauda. 

3. Estimule os alunos a brincarem de Mamba. Explicadas as regras, é hora de os estudantes se arriscarem na brincadeira, seja fugindo, seja caçando os fujões. 

4. Termine com uma roda de conversa. Finalizada a brincadeira, pode-se formar uma roda de conversa que trate sobre os aprendizados, sensações e atitudes percebidos em aula, e reforçar a semelhança do nome do país África do Sul com o nome do continente africano.

DICA: Pode ser colocado um mapa-múndi na parede para que em todas as aulas os estudantes possam identificar a localização do país estudado, assim como a aspectos geográficos, tais como rios, mares e desertos. É possível dialogar com outras áreas, como Geografia, História, Português, Artes.

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