Como trabalhar a Região Norte do Brasil nas aulas do Fundamental 2
2020 agitou o bioma Amazônia com queimadas, grandes cheias e expansão da pandemia; confira sugestões de como trabalhar esses temas com alunos do 6º ao 9º ano
A relação entre homem e natureza andou bastante estremecida em 2020, especialmente na Região Norte do Brasil, onde o bioma predominante é a Amazônia. Ali, a ocorrência de incêndios cresceu e ultrapassou marcas históricas, a pandemia mostrou face triste com duas grandes ondas de infectados e óbitos, e o regime de cheias dos rios provocou muitos estragos nas margens ocupadas desenfreadamente.
Para avançar nas reflexões sobre temas tão importantes e complexos com as turmas do Fundamental 2, contamos com a colaboração de Sueli Furlan, chefe do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutora em Geografia Fisica, na elaboração de atividades sobre esses episódios.
Confira as principais informações sobre o tema, passo a passo da sugestão de atividade (que pode ser aplicada no ensino remoto) e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) envolvidas:
ATIVIDADE - Incêndios na Amazônia
O que você precisa saber
A Amazônia foi um dos biomas mais afetados pelas queimadas em 2020, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em outubro de 2002, instituto divulgou dados alarmantes: no Amazonas, estado que concentra a maior extensão do bioma, foram registrados 15.700 focos ativos, enquanto em 2005 o acumulado de todo o ano foi de 15.644 casos. Agosto – usualmente um dos mais secos do ano – acumulou o maior número de queimadas para um único mês nos últimos 22 anos.
Na prática
Sugestão de Atividade - Queimadas: por que tanto fogo no Brasil?
Indicado para: Turmas do 9º ano
Componente curricular: Geografia, com possibilidades também para Matemática, Português e Ciências.
Objetivos: Aprender sobre os tipos de queimada e por que elas acontecem no país. Aprender a decifrar imagens de satélite, climogramas. Investigar sobre a ocorrência de queimadas no Brasil. Perceber a relação entre queimadas e o uso da terra.
Na BNCC: Competências Gerais 1, 4, 7 e 10.
EF09CI13 - Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.
EF06GE11 - Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico-naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo.
EF07GE11 - Caracterizar dinâmicas dos componentes físico-naturais do território nacional, bem como sua distribuição e biodiversidade (Florestas Tropicais, Cerrados, Caatingas, Campos Sulinos e Matas de Araucária).
EF69LP13 - Engajar-se e contribuir com a busca de conclusões comuns relativas a problemas, temas ou questões polêmicas de interesse da turma e/ou de relevância social.
EF69LP14 - Formular perguntas e decompor, com a ajuda dos colegas e dos professores, tema/questão polêmica, explicações e ou argumentos relativos ao objeto de discussão para análise mais minuciosa e buscar em fontes diversas informações ou dados que permitam analisar partes da questão e compartilhá-los com a turma.
EF89LP27 - Tecer considerações e formular problematizações pertinentes, em momentos oportunos, em situações de aulas, apresentação oral, seminário etc.
EF89LP22 - Compreender e comparar as diferentes posições e interesses em jogo em uma discussão ou apresentação de propostas, avaliando a validade e a força dos argumentos e as consequências do que está sendo proposto e, quando for o caso, formular e negociar propostas de diferentes naturezas relativas a interesses coletivos envolvendo a escola ou a comunidade escolar.
EF69LP08 - Revisar/editar o texto produzido – notícia, reportagem, resenha e artigo de opinião, dentre outros –, tendo em vista sua adequação ao contexto de produção, a mídia em questão, características do gênero, aspectos relativos à textualidade, a relação entre as diferentes semioses, a formatação e uso adequado das ferramentas de edição (de texto, foto, áudio e vídeo, dependendo do caso) e adequação à norma culta.
EF69LP26 - Tomar nota em discussões, debates, palestras, apresentação de propostas, reuniões, como forma de documentar o evento e apoiar a própria fala (que pode se dar no momento do evento ou posteriormente, quando, por exemplo, for necessária a retomada dos assuntos tratados em outros contextos públicos, como diante dos representados).
Duração: 4 aulas
Materiais necessários: Computador com acesso à internet, mural digital (padlet) e mapa semântico (wordcloud).
PASSO A PASSO
Observação das imagens de satélite
1. Exiba as imagens para as turmas: Para obter as imagens, aproveitamos o site do CPTdc/INPE. A imagem do satélite GOES-16 mostrada a seguir é do dia 12/3/2021, bem como os dois comentários mostrados no quadro.
Você pode utilizar as imagens abaixo ou atualizar com uma nova que esteja disponível no órgão oficial. De acordo com o modelo de aula que você esteja trabalhando, envie com antecedência ou projete/compartilhe sua tela com os alunos.
Após a observação da imagem e do mapa de risco de queimadas no Brasil (a seguir), convide os estudantes para uma exploração de informações sobre o tempo meteorológico, o clima e a previsão de queimadas.
Coloque na lousa, na apresentação de slides ou envie pelo WhatsApp ou e-mail perguntas relacionadas ao título da atividade:
- Por que tanto fogo no Brasil?
- O que o clima tem a ver com isso?
- Será o clima o responsável pelas queimadas?
Após essa conversa inicial, pergunte aos estudantes o que sabem sobre a relação entre tipos de tempo e clima e a ocorrência de queimadas.
Para registro de opiniões utilize (se possível) o mural padlet ou outro recurso digital para escrita em Post-It das ideias dos estudantes.
2. Ouça o podcast: Após a observação da imagem de satélite de uma situação meteorológica do clima, organize a turma para audição do podcast da revista Fapesp, de novembro de 2020, sobre a relação clima, queimadas e uso da terra.
Enquanto ouvem o podcast, solicite aos alunos que escrevam todas as palavras que surgem à mente enquanto escutam.
Em seguida, organize um mapa semântico utilizando wordcloud ou outro recurso digital para mapas semânticos. Se os alunos já estiverem familiarizados com essa ferramenta, solicite que reúnam as palavras numa lista e apresentem o resultado conversando sobre as queimadas e os danos ecológicos que ela provoca.
Finalize com uma conversa sobre o que aprenderam e por que selecionaram as palavras do mapa semântico. Analise com eles as palavras mais frequentes e a diversidade de termos.
3. Observe a ocorrência de queimadas em mapas de previsão de risco de fogo: Convide os estudantes para uma exploração de informações sobre o tempo meteorológico, o clima e as previsão de queimadas. Coloque na lousa ou no PowerPoint a pergunta colocada no título da atividade: Por que tanto fogo no Brasil? O que o clima tem a ver com isso? Será o clima o responsável pelas queimadas?
Após essa conversa inicial, pergunte aos estudantes o que sabem sobre a relação entre tipos de tempo e clima e a ocorrência de queimadas. Para registro de opiniões utilize (se possível) o mural Padlet (Confira aqui) ou outro recurso digital para escrita em Post-It das ideias dos estudantes.
A partir dos registros, organize uma exposição dialogada sobre a relação entre queimadas e estações do ano. Utilize os seguintes mapas, clicando nos links abaixo:
Converse com os estudantes incentivando-os a compararem as dinâmicas climáticas em cada bioma. Se possível, relacione gráficos ombrotérmicos com as condições meteorológicas e a ocorrência de queimadas, conforme exemplos a seguir:
4. Após a exposição, solicite que os alunos leiam o mapa a seguir e identifiquem quais biomas são mais vulneráveis a incêndios:
Com base na análise da imagem e das informações fornecidas, peça aos estudantes para localizarem os principais conjuntos de nuvens atuantes nas condições climáticas em regiões que sofrem com queimadas (escolha uma localidade do bioma Cerrado e outra da Amazônia). Relacione os locais citados com os mapas dos biomas e clima: qual a relação entre eles?
5. Reflita com os alunos: Nas imagens de satélite, sempre que são mostradas nuvens, é garantia de que vai chover? Ou não? Por quê?
Explique que toda análise e previsão estão sujeitas a erros de avaliação e porcentagem de acerto. Propor que os alunos façam o mesmo para uma imagem do dia em que for realizado o estudo. Observar: o que difere e o que se assemelha uma imagem da outra (e a previsão do tempo)? Localizar onde se encontra a Cordilheira dos Andes e discutir sua utilidade para a distribuição da umidade no país.
Queimadas e o uso da terra.
O gráfico a seguir mostra o número de focos de calor contabilizados em 25 de outubro de 2020. Verificar as datas e instigar os alunos a interpretarem a partir de seus conhecimentos o que ele revela.
6. Após a observação do gráfico, organize uma leitura compartilhada do texto a seguir:
O Pantanal pede água - Revista Fapesp
“Entre novembro e meados de março deste ano, período que costuma concentrar o grosso das chuvas anuais sobre a região, a pluviosidade sobre a bacia foi de apenas 350 mm, pouco mais de 40% da média histórica, segundo levantamento da Embrapa Pantanal. “Neste ano, temos o menor nível de inundação do Pantanal em meio século”, comenta o biólogo José Sabino, especialista em peixes da Universidade Anhanguera-Uniderp, de Campo Grande. O zero da régua de Ladário indica que o rio Paraguai apresenta, naquele trecho, apenas 4 metros de profundidade. Além de inviabilizar a navegação na hidrovia, com prejuízos para o escoamento da produção de soja e minério do Centro-Oeste, níveis tão baixos atestam a gravidade da escassez hídrica.
Entre janeiro e 18 de outubro de 2020, 27% da área do ecossistema tinha sido alvo de incêndios, inclusive setores dentro de unidades de conservação e terras indígenas, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em média, a área do Pantanal brasileiro que sofre com queimadas não passa de 10%”, diz a climatologista Renata Libonati, uma das coordenadoras do Lasa, que acompanha o avanço das labaredas no bioma desde o ano passado. “O Pantanal se desenvolveu com um certo grau de adaptação ao fogo e é capaz de se regenerar em parte, mas não se mantivermos os níveis atuais de incêndios.” Com o emprego de um algoritmo que reconhece automaticamente áreas de queimadas em meio às imagens captadas pelo sensor Visible Infrared Imaging Radiometer Suite (VIIRS) do satélite norte-americano S-NPP, o trabalho do Lasa consegue identificar incêndios em áreas de pelo menos 25 hectares, um quadrado com 500 metros de lado. Dados do programa de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também apontam uma incidência sem paralelo do fogo no bioma. Até 25 de outubro, haviam sido contabilizados 20.996 focos de incêndio no Pantanal, mais do que o dobro de todo o ano de 2019, quarto pior ano da série histórica. A quantidade de focos nos 10 primeiros meses de 2020 supera com folga os números referentes aos anos inteiros desde 1998, quando se iniciam os registros do programa no Pantanal. Antes de 2020, o ano mais crítico para as queimadas na região tinha sido 2005, com 12.536 focos.
A forte estiagem prolongada cria condições para que o fogo se mantenha e se propague mais facilmente, mas, sozinha, é incapaz de acender a faísca que inicia os incêndios. “São necessários três ingredientes para que ocorra um incêndio florestal”, explica Libonati. “Precisa haver o combustível, o comburente e a ignição do fogo.” O material combustível é a vegetação, que em anos secos fica mais exposta e ainda mais suscetível ao avanço das labaredas. O comburente, aquilo que reage com o combustível e alimenta o fogo, são as condições meteorológicas, como estiagem prolongada, baixa umidade do ar, altas temperaturas e forte vento. O processo de ignição pode se dar de duas formas, naturalmente, por meio de raios, ou causado pelo homem”.
(Fonte: Reportagem O Pantanal pede água, da Revista Fapesp)
7. Organize uma aula expositiva dialogada sobre o avanço da fronteira agrícola no arco do desmatamento da Amazônia e relacione as queimadas ao que foi estudado com fatores do uso da terra nessa região.
Para encerrar, solicite à turma que escreva um texto argumentativo sobre o título desta atividade (“Por que tanto fogo na Amazônia?”). Reúna os textos e transforme num e-book da turma sobre seus estudos sobre as queimadas, o clima e o uso da terra.
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