Para usar com seus alunos

Geografia: Região Norte sem estereótipos

Com base no contato com a região, é possível explorar fluxos migratórios, economia, problemas socioambientais e respeito à diversidade

Ilustração de professora olhando para a lousa com anotações e colagens nela.
Ilustração: Ana Carolina Oda/NOVA ESCOLA

Quem são os habitantes da Região Norte do país, tão em evidência nesses meses na mídia? Como se constituem as cidades locais? Para quem mora nos estados do Sul e Sudeste ou em outras localidades do país, o Norte do Brasil costuma ser visto quase sempre como o lugar onde está a Floresta Amazônica. Seus habitantes seriam os indígenas, que usam cocar, moram em ocas e são pouco afeitos à urbanidade. 

Para o professor de Geografia Murilo Vogt Rossi, doutor pela Universidade de São Paulo em ensino de Geografia e Cartografia não convencional e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) em Divinópolis (MG), o momento da pandemia pelo coronavírus é muito propício para o estudo dos estados do Norte. "A partir da evidência da região na mídia, o professor pode aproveitar para desconstruir preconceitos, mostrar a diversidade da população do nosso país e apontar os ciclos econômicos da região, entre outros aspectos.”

Murilo lista algumas maneiras de abordar com o Fundamental 2, ano a ano, as habilidades da BNCC relacionadas com o tema proposto para este Box.

Por conta do ensino remoto na maioria das escolas, Rossi orienta que o professor deve, se possível, sempre apresentar imagens para os alunos pela tela. “Os alunos tendem a se concentrar menos nas aulas dadas dessa forma, é preciso estimulá-los o máximo possível, usando vários tipos de linguagem”, afirma.

Na BNCC: como trabalhar a Região Norte do 6º ao 9º ano

6º ano

Habilidades da BNCC: EF06GE01 - Comparar modificações das paisagens nos lugares de vivência e os usos desses lugares em diferentes tempos.

EF06GE02 - Analisar modificações de paisagens por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários.

Como abordar na prática: Murilo sugere o uso do plano de aula Diversidade na produção cultural do lugar e dá as seguintes orientações:

- Estimule o aluno a comparar paisagens: projete imagens do centro de Manaus, a capital do Amazonas, e de São Gabriel da Cachoeira, cidade distante 800 quilômetros da capital. Mostrando a diversidade. Depois mostre fotos da cidade de São Paulo, de prédios, indústrias, grandes avenidas.

- Nesta idade, os alunos estão numa fase em que têm condições de compreender bem as diferenças entre essas paisagens. Insisto para não nos basearmos apenas em imagens estereotipadas dos lugares, mas é importante que eles percebam que São Gabriel, por exemplo, embora seja uma cidade muito menor do que Manaus e do que São Paulo, tem semelhanças em alguns aspectos, como organização urbana.

- Dependendo do lugar de vivência do aluno, a análise sobre o local será diferente: se os alunos forem da Região Norte, estimule-os a fazerem comparações dentro do próprio local. Trabalhe também os diferentes tempos, mostrando, por exemplo, uma área de floresta e depois o mesmo local desmatado. Ou uma área de mineração, como era antes e como está hoje e quem habitava e quem habita esses locais.


7º ano

Habilidades da BNCC: EF07GE01 - Avaliar, por meio de exemplos extraídos dos meios de comunicação, ideias e estereótipos acerca das paisagens e da formação territorial do Brasil.

EF07GE04 - Analisar a distribuição territorial da população brasileira, considerando a diversidade étnico-cultural (indígena, africana, europeia e asiática), assim como aspectos de renda, sexo e idade nas regiões brasileiras.

Como abordar na prática: A sugestão é o plano de aula As paisagens físico-naturais do Brasil nas mídias. Leia, a seguir, as orientações:

- Discuta com os alunos como eles veem a questão ambiental e dos indígenas na Amazônia. Que ideia eles têm desses tópicos? Em seguida, proponha que procurem, na mídia, textos e imagens relativos aos temas propostos. 

- Compare com a classe o que imaginavam e o que veem de fato estampado. Insista que leiam as manchetes dos textos e dê margem para uma discussão sobre que tipo de mensagem está sendo passado.

- Nessa aula, você pode aproveitar para debater a questão do estereótipo do indígena, que é muito forte na nossa cultura branca, urbana e patriarcal. Leve também para a aula, após esse debate, as características diversas da região – existem florestas desabitadas ou pouco habitadas, mas também, existem espaços urbanos e aglomerações.

- Mostre aos alunos que a floresta também abriga pessoas e existe na região a realidade das queimadas e das inundações, por conta dos rios. Tente sempre encontrar imagens para ilustrar os exemplos.


8º ano

Habilidade da BNCC: EF08GE03 - Analisar aspectos representativos da dinâmica demográfica, considerando características da população (perfil etário, crescimento vegetativo e mobilidade espacial). 

Como abordar na prática: A sugestão é o plano de aula Crescimento populacional mundial. A seguir, as recomendações:

- Nessa fase, é importante começar a trabalhar de forma enfática os mapas. Uma forma de fazer isso é apresentar aos alunos os mapas de fluxo, por exemplo. Eles indicam a dinâmica populacional e trabalham com variantes de tamanho, com setas que indicam a saída de pessoas de uma localidade para outra, e o retorno. 

- Juntamente com esses mapas de fluxo, se pensarmos na realidade da formação da Região Norte, temos uma dinâmica interessante para ser analisada, como a migração por conta da Zona Franca de Manaus nos anos 1970, no regime militar. Também houve um grande fluxo de pessoas que saíram do Nordeste e Centro-Oeste para a região, para trabalhar com a extração da borracha (no fim do século 19 e meados do 20). Um pouco mais recentemente também houve intensa migração para a exploração de ouro.

- Os tópicos caracterizam a mobilidade espacial e mostram que muitos fluxos de migração estão relacionados à busca de estabilidade econômica.

- Mesmo entre os moradores da região é possível trabalhar a mobilidade das pessoas, pois há movimentação de jovens, por exemplo, saídos dos povos originários, que se deslocam atrás de outros ambientes.

- Outra forma de trabalhar a representação demográfica da Região Norte é por meio das pirâmides etárias. Ao mostrar isso aos alunos, você estará lançando conceitos de demografia, tais como natalidade, mortalidade e crescimento vegetativo.


9º Ano 

Habilidade da BNCC: EF09GE03 - Identificar diferentes manifestações culturais de minorias étnicas como forma de compreender a multiplicidade cultural na escala mundial, defendendo o princípio do respeito às diferenças.

Como abordar na prática: Nossa sugestão é utilizar o plano de aula Minorias étnicas. Confira, abaixo, as observações do professor Murilo: 

- Insisto aqui na questão dos mapas, agora com um olhar sobre a demarcação das terras indígenas. Como se trata de alunos do 9º ano, podemos aprofundar um pouco mais os temas propostos. 

- Disponibilize para a classe onde esses indígenas se localizam, aponte a situação de cada uma dessas áreas (se as áreas são demarcadas, se serão, se estão em posse dos indígenas ou não). Trabalhe esses critérios e desconstrua a figura do indígena. Isso é fundamental para construirmos o respeito às diferenças.

- Nesse estudo, também é possível fazer uma relação com a mobilidade, pois os indígenas também se deslocaram pela região. Outro ponto importante é associar sua figura com a preservação socioambiental do Brasil.

- Sugiro apresentar vídeos do Instituto SocioAmbiental (ISA), que trazem material de excelente qualidade. Sobre os mapas, é importante que o aluno tenha acesso a esse material, que possa pegar, riscar. Para quem dispõe de tecnologia, uma sugestão é orientar o aluno a procurar na internet programas que trabalhem com mapas.

- Outro tema a ser abordado aqui é a miscigenação dos povos da região, que são constituídos por indígenas, portugueses e africanos, a exemplo do que ocorre em outros lugares do Brasil.


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