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Língua Portuguesa: como o Norte do Brasil é visto pela mídia?

O grande número de reportagens recentes sobre os estados da região é uma boa oportunidade para trabalhar o letramento midiático e a leitura crítica de notícias

Ilustração de alunos estudando com notebooks, livros e cadernos sobre mesa.
Ilustração: Ana Carolina Oda/NOVA ESCOLA

A forma intensa como a Região Norte tem ocupado o noticiário brasileiro pode ser o ensejo para professores de Língua Portuguesa estimularem a reflexão sobre a atuação da mídia de forma geral e, especificamente, sobre como determinada região do país é tratada: que conteúdo está sendo produzido e veiculado sobre aquele lugar? 

“Esquecido” quase sempre das tevês e jornais, o Norte, segundo a professora Maria Gabriella Flores Severo Fonseca, da EE Tenente Coronel Cândido José Mariano, de Manaus (AM), é visto por quem está nos estados do Sul e Sudeste como um lugar “ermo” e, portanto, mais passível de sofrer problemas de saúde, ambientais e sociais, entre outros. 

“O que a realidade mostra, no entanto, é que o que nos atinge reflete no restante do país”, diz a professora Gabriella. Para ela, a situação dos estados do Norte, expondo uma série de questões atuais, não pode ficar de fora dos debates em sala de aula, especialmente em escolas distantes geograficamente da região, pois o que está acontecendo tem relevância para todo o país e para o planeta.

Em Língua Portuguesa, diz, é possível propor reflexões sobre quais discursos têm sido construídos em relação aos fatos. Esse trabalho pode ser feito em parceria com o professor de Geografia e o de Língua Portuguesa, segundo Gabriella. O de Geografia aborda aspectos humanos, físicos e econômicos da região e o de Língua Portuguesa as notícias, explorando um pouco gêneros textuais (reportagens, entrevistas, análises, artigos de opinião), instigando o aluno a ponderar sobre as ideias que eles têm a respeito da localidade. Até que ponto elas são fruto do que recebemos como notícias?

Do 6º ao 9º ano, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) orienta que o professor de Língua Portuguesa explore o Campo Jornalístico-Midiático nas suas aulas. Além de desenvover "habilidades envolvidas na escuta, leitura e produção de textos", o objetivo descrito pelo documento é estimular "a sensibilidade para que se interessem pelos fatos que acontecem na sua comunidade, na sua cidade e no mundo e afetam a vida das pessoas, incorporem em suas vidas a prática de escuta, leitura e produção de textos pertencentes a gêneros da esfera jornalística em diferentes fontes, veículos e mídias, e desenvolvam autonomia e pensamento crítico para se situar em relação a interesses e posicionamentos diversos e possam produzir textos noticiosos e opinativos e participar de discussões e debates de forma ética e respeitosa", orienta o texto da BNCC. 

Para que você dê conta das habilidades apresentadas para alunos do 6º ao 9 ano, Maria Gabriella oferece alguns pontos de partida. Eles podem ser utilizados em aulas remotas e presenciais, com algumas adaptações:

divisória de abertura de atividade

ATIVIDADE – O olhar da mídia para o Norte do Brasil 

Com base em três temas – a pandemia, enchentes e queimadas –, trabalhe o letramento midiático com a turma


Dirigido para: Turmas do 6º ao 9º ano 

BNCCEF06LP01, EF07LP02, EF67LP03 e EF09LP02


PASSO A PASSO

1. Abra a conversa: Dialogue informalmente com a turma sobre as impressões a respeito do que os alunos têm visto em relação aos temas propostos: pandemia, enchentes, queimadas na Região Norte.

2. Com base nessas impressões, peça que recolham algum material da mídia sobre esses temas (áudios, vídeos, textos, imagens). Cada grupo de alunos pode ficar com um tipo de notícia. Dê preferência à mídia produzida no Sul e Sudeste para essa análise. Ao fim desse conteúdo, selecionamos alguns exemplos que você pode aproveitar. 

3. Divida a classe em grupos, se possível, e peça que observem o material: Isso vale para aulas presenciais ou remotas. É importante que leiam com atenção os títulos das notícias e as legendas das fotos e, se possível, comparem as informações, observando diferenças e semelhanças na forma de dar as notícias. 

4. Incentive que reflitam: Quanto conhecem da região (para alunos de lá ou de fora)? Por que motivo o Norte não era falado antes na mídia dessa maneira? Os problemas de lá são isolados ou atingem a todos? Caso ache que atinjam a todos, acredita que a mídia deixa isso evidente? A mídia trata esses estados como distantes ou apartados do resto do Brasil (caso haja essa percepção)? Que tipo de mensagem você acha que essa notícia quer passar e a quem quer atingir? Quem produziu a mensagem? Todos os envolvidos são ouvidos ou só há um lado que aparece na notícia? O que você acha que essa forma de noticiar o Norte do país pode trazer de consequência para quem mora lá? 

Adaptações/orientações para professores do 6º e 7º ano

Após a pesquisa e análise dos textos, peça aos alunos que se posicionem sobre o que observaram. No contexto remoto, Maria Gabriella sugere que os alunos visualizem uma notícia num site, por exemplo, indicada pelo professor, e comentem, em poucas palavras, como se estivessem diante de um “postagem” de rede social. “Ele vai dizer se concorda ou não e explicar um pouco os motivos da sua aprovação ou desaprovação, mas sem muito aprofundamento”. Depois os comentários devem ser debatidos em sala de aula.

Adaptações/orientações para professores do 8º e 9º ano: 

Proponha que façam um artigo de opinião sobre o material coletado, apresentando o que pensam, com base nas notícias, e apresentando alguma solução, caso cheguem à conclusão de que a mídia trabalha de forma equivocada a região, o que afeta de alguma forma quem mora lá e altera a percepção que temos dos problemas veiculados, dando a impressão de que eles não dizem respeito ao restante do país, por exemplo. Os textos também podem ser lidos e discutidos no ambiente da sala, seja remoto, seja presencial.


Saiba Mais - Seleção de notícias sobre o Norte do Brasil

Os artigos, reportagens, notícias e de opinião abaixo podem ser apresentados para pesquisa e conhecimento dos alunos:

Apagão e crise no Amapá 

Crise no Amapá: Apagão causa ao menos 8 mortes em meio ao descaso das autoridades - Repórter Brasil

Capital do Amapá vive dias medievais à luz de velas e com água de poço colhida com balde - El País

E se o mundo, de repente, virasse um grande Amapá? - El País

Saúde/Covid-19

Epidemiologista diz que novo pico de covid-19 em Manaus deveria ter servido de alerta para restante do país - G1

Amazonas caminha para terceira onda de covid-19, com avanço de variantes e negacionismo da vacina e do ‘lockdown’ - El País

Meio Ambiente 

Queimadas na Amazônia em 2020 passam número registrado em todo o ano de 2019 - G1

Sites e veículos para ampliar o olhar sobre a Região Norte 

Amazônia Real
Agência de jornalismo independente e investigativo, sem fins lucrativos, criada pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias em 20 de outubro de 2013, em Manaus (AM). Oferece reportagens in loco e em profundidade sobre a região, cobrindo questões como a ambiental, agrária, relacionadas aos povos indígenas e à política da região. 

Agência Pública
A iniciativa não cobre exclusivamente a Região Norte, mas dedicou uma reportagem especial sobre os conflitos de terra na Amazônia. As reportagens são produzidas de maneira independente e podem ser reproduzidas por outros veículos gratuitamente. 
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