Arte

Arte em tempos de pandemia: 4 artistas para explorar com os alunos

Conheça caminhos para incentivar a expressão dos alunos mesmo no ensino remoto

Ilustração de Julia Grilo do livro o Auto da Compadecida.
Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Adaptar a contemplação artística e as atividades de expressão dos alunos ao ensino remoto é um desafio especial no ensino de Artes, que tem no encontro e nos sentidos boa parte de sua estrutura. Mas o ambiente digital oferece ferramentas para manter a exploração artística, e mais: pode ser território de novas experimentações. Além disso, expressar-se por meio da arte é fundamental num momento em que o contato social é limitado e os alunos se sentem angustiados diante das incertezas. 

“A arte dá a oportunidade de validar o repertório estético de cada um, reconhecendo seus valores, pensamentos e imaginários. Em um contexto de ensino remoto, permite partilhar inseguranças e incertezas e quem sabe trazer um olhar de conforto diante da realidade”, resume Camila Rossato, professora do Fundamental 2 na EMEF Profª. Marina Melander Coutinho, na capital paulista, e vencedora do Prêmio Educador Nota 10 em 2019. 

Com a ideia de acolher e incentivar a expressão dos alunos no ensino remoto, Camila fez uma lista de indicações de obras que podem ser trabalhadas nas plataformas digitais. Confira.

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Para o 6º ano

Eleonora Fabião: Conversa Sobre Qualquer Assunto

Sobre a obra: Empunhando um cartaz onde se lê “Converso sobre qualquer assunto”, a artista convidava pessoas nas ruas a se sentarem em frente a ela e iniciarem um bate-papo. A performance da artista carioca criava um local de troca de histórias de vida.

Como trabalhar: Embora a artista tenha realizado esse trabalho nas ruas, o que em contexto de pandemia é inviável, podemos extrair a essência da intenção da artista ao se abrir para o diálogo e para a escuta. A artista convidava desconhecidos a se sentarem à sua frente e partilharem suas histórias de vida. Nesta ação, outras pessoas poderiam ser agregadas às conversas. O professor pode provocar os estudantes sobre como criar meios para conversar com as pessoas neste contexto em que vivemos. 

Os professores podem lançar perguntas disparadoras: o que a palavra escuta significa para você? Qual foi a última história que você ouviu? Sobre qual assunto você gostaria de falar? Qual o poder do diálogo na solução de problemas coletivos? 

Na hora de produzir a partir das questões, é importante deixar que as linguagens apareçam da maneira como o estudante consegue se expressar: escrita, desenho, ações digitais, esses são alguns dos caminhos para o fazer criativo.


Para o 7º ano 

Eduardo Srur: As Máscaras Que Salvam e A Cura

Sobre as obras: Em As Máscaras Que Salvam o artista usa esse acessório indispensável para transmitir mensagens de força e esperança. Em A Cura, uma cruz vermelha foi instalada na caixa-d'água do prédio onde o artista mora e trabalha. A cruz representa uma homenagem aos trabalhadores da saúde. 

Como trabalhar: O artista tem como principal suporte do seu trabalho as ruas da cidade de São Paulo. Ele vê na paisagem urbana um lugar para criação e reflexão de questões sociais. O interessante do trabalho Máscaras Que Salvam é a adaptação do artista à pandemia, já que a divulgação do trabalho é feita pelo Instagram (@eduardosrur).

“Vejo nas plataformas digitais caminhos potentes para a arte. O Eduardo Srur é um artista de intervenção urbana, então fazer essa adaptação é uma maneira também de pensar que quando acontece algo a gente precisa reorganizar a maneira que fazemos as coisas. Ele sempre fez seu trabalho na rua e nesse momento está usando o Instagram”, reflete Camila.

Segundo a professora, os estudantes podem trabalhar com a ideia de ilustração de máscaras, abordando como eles acreditam que esse gesto pode salvar vidas. 

Para a intervenção A Cura, há várias possibilidades de abordagem. O próprio conceito de intervenção urbana pode ser trabalhado, ou de que forma podemos homenagear as pessoas que são importantes na nossa vida, seja um profissional da saúde, seja outra pessoa que possa representar essa salvação. E como cada um representaria a proposta de cura: o que é cura para cada um?


Para o 8º ano

A Ciência e a Música

Sobre a obra: Uma música criada por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que transformaram o formato das proteínas spikes do coronavírus em sons. 

Como trabalhar: É uma possibilidade de enlaçar arte e ciência, saberes que normalmente são vistos de forma separada. O professor pode abordar o trabalho do artista como pesquisador. O cientista é um pesquisador, mas o artista também é. Quando ele vai produzir, primeiro pensa, esboça o que vai fazer. É possível pedir para que os estudantes pensem em sons que representariam o vírus ou a cura. Esses sons podem ser captados com o celular, ou gravados em vídeo, ou até mesmo o registro em desenho, de acordo com os recursos que os estudantes tiverem.


Para o 9º ano

Paulo Nazareth: Notícias de América

Sobre a obra: Nesse trabalho o artista percorre um trajeto que passou por mais de 15 países do continente americano até chegar nos Estados Unidos. A viagem durou cerca de um ano e as experiências coletadas foram registradas em um blog. A caminhada do artista foi feita descalça ou de chinelo, o que permitiu que toda a poeira do trajeto ficasse em seus pés. 

Como trabalhar: Aqui cabe uma abordagem mais complexa. O professor pode trabalhar a ideia de trajeto e experiências acumuladas neste período. Por onde cada um caminhou? Essa caminhada pode ser pensada não só pelo corpo, mas também pela criatividade. E quais notícias podem ser dadas a partir das experiências vividas durante este período de isolamento? A partir disso, essas experiências podem ser faladas e registradas: pode ser por imagens, gestos, relatos ou vídeos. “O importante é deixar que o estudante localize de que maneira ele pode se expressar”, orienta Camila.

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