Folclore para crianças: atividades para explorar o tema com os pequenos

Como trabalhar com o folclore na Educação Infantil? Os caminhos são múltiplos e cheios de potencialidades. A pesquisadora Januária Cristina Alves, autora de Abecedário de Personagens do Folclore Brasileiro, lembra de um episódio com crianças pequenas que fez com que ela se desse conta do poder dos mitos e figuras folclóricas, mesmo as mais assustadoras. 

“Era um grupo de crianças da Educação Infantil, que tinham 4 a 5 anos, e fui até lá certa de que a professora havia usado a série de quatro livros que eu tenho para essa faixa etária. Quase caí pra trás quando vi a professora com o Abecedário nas mãos, e ela me disse que havia trabalhado as personagens desse livro com as crianças. E há ilustrações bastante fortes, de bichos, de monstros etc. E quando comecei a conversar com elas, vi que não houve problema algum, havia uma coleção de desenhos das crianças, elas sabiam quem eram todas aquelas personagens impressionantes”, recorda a escritora. 

No seu livro-enciclopédia, Januária selecionou alguns bastante assustadores, como o cruel Arranca-língua ou o feroz Anhangá. De muitos desses seres nunca houve representação visual e a escritora e o ilustrador Berje lançaram a primeira hipótese sobre suas aparências. 

“A professora me contou que alguns pais a questionaram sobre as histórias, que ela precisou fazer uma reunião com eles para mostrar o livro, que eram histórias do folclore brasileiro, e convencê-los de que essa é uma boa forma de fazer as crianças lidarem com sentimentos como o medo ou a incerteza. Esses monstros podem ser o canal para trabalhar sentimentos como esses”, concorda Januária. 

A seguir, confira três sugestões para trabalhar com o folclore - que abarca muito mais do que mitos e lendas - com as crianças:

1. Sugestão de Atividade: Brinquedo Cantado

A proposta é fazer uma peneira de coar fubá. Trata-se de um brinquedo rápido de ser feito e que usa apenas material reciclável. Essa atividade pode ser desenvolvida em contexto on-line, cada criança na sua própria casa. Depois de pronta, a peneira será usada pelas crianças para acompanharem a música de domínio público Cuá Fubá.

Essa sugestão de atividade de folclore para crianças da Educação Infantil foi proposta por Mônica Pinheiro de Souza Melim, gestora da Educação Infantil de São Caetano do Sul e idealizadora do projeto Brinquedo Cantado, de resgate das brincadeiras cantadas das regiões do Brasil, em parceria com o músico Luan Ferreira. 

Material necessário: disco redondo de pizza de papelão, tinta guache, pincel, cola e letras do nome próprio. 

Como fazer: instrua cada criança a pintar livremente a parte interna do disco de papelão. Pode ser usada a parte superior de uma embalagem ou, caso não haja uma disponível, a peneira de coar fubá pode ser feita com uma cartolina cortada em círculo (para isso, a criança pode usar como molde uma tampa de panela). 

Depois de colorida segundo o gosto de cada criança, elas colarão as letras do seu nome na parte central, cuidando para que fiquem bem visíveis. As letras podem ser recortadas por um adulto ou o nome da criança pode ser escrito em uma folha de sulfite colada na parte central do disco-peneira. 

Prontas as peneiras, é só ensaiar e combinar que a cada rodada da música uma criança levantará a sua peneira e todas cantarão juntas, trocando o nome na sequência. Essa atividade ajudará a turma a reconhecer a escrita dos nomes de seus colegas enquanto se divertem cantando.

Assista ao vídeo com a professora Mônica Melim cantando Cuá Fubá aqui:

Cuá Fubá (domínio público)

Cuá fubá, cuá fubá
A/O (nome da criança) não sabe cuá fubá
Como é que é cuá fubá
Vai mexendo a peneira pra lá e pra cá

2. Sugestão de Atividade: A Música da Lavadeira

Nessa canção folclórica, de domínio público, as crianças são estimuladas a acompanhar com gestos as diversas ações da lavadeira, em movimentos que ora se repetem, ora introduzem novos gestos. 

Material necessário: um pano de prato ou fralda para cada criança.   

Como fazer: A graça dessa brincadeira é que os versos da velhinha com sua trouxa imensa e só um pouquinho de água se repetem, mas cada ação da lavadeira apresenta um gesto novo, que precisa ser memorizado pela criança e acionado na hora certa. Neste vídeo, Mônica Melim mostra como é a coreografia original dessa canção popular.

Adaptação ao ambiente virtual: Juliana Morais mostra no vídeo a seguir como a coreografia dessa canção de roda, em contexto de pandemia, pode ser feita com cada criança sentada em frente à câmera:

Lavadeira (domínio público)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim
Lava, lava, lavadeira
Quanto mais lava, mais cheira (2 vezes)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim
Enxágua, enxágua, lavadeira
Quanto mais enxágua, mais cheira (2 vezes)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim
Torce, torce, lavadeira
Quanto mais torce, mais cheira (2 vezes)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim
Passa, passa, lavadeira
Quanto mais passa, mais cheira (2 vezes)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim
Dobra, dobra, lavadeira
Quanto mais dobra, mais cheira (2 vezes)

O sol tá nascendo, eu vi uma velhinha assim
Com a trouxa desse tamanho e a água baixinha assim

3. Brincando de Folclore

O Mapa do Brincar é um projeto de pesquisa sobre brincadeiras brasileiras realizado pelo jornal Folha de S.Paulo que, desde 2009, vem coletando e documentando as diversões infantis de rua. Já são mais de 750 brincadeiras catalogadas. 

Sendo as brincadeiras, cantigas de rodas, parlendas e trava-línguas uma das primeiras incursões das crianças no universo da cultura popular, uma navegação coletiva pelo site é uma forma de mostrar para as crianças a diversidade de manifestações que ocorrem em todas as regiões do país. Talvez elas também conheçam dessa forma pequenas variações de brincadeiras já conhecidas.

Confira também a aba da biblioteca do site, que traz indicações de outros sites relacionados ao brincar, além de sugestões de músicas e livros para crianças, materiais para professores e teses acadêmicas.

Outro projeto com proposta semelhante é o Território do Brincar, criado pelos documentaristas Renata Meirelles e David Reeks. 

Ao longo de dois anos, a dupla viajou com seus filhos pelo Brasil, em um trabalho de registro de brincadeiras feitas por crianças quilombolas, indígenas, de comunidades caiçaras, rurais, além de grandes cidades. Um dos frutos desse trabalho é o documentário longa-metragem Território do Brincar, que está disponível para exibição pública e gratuita por meio de inscrição na plataforma Videocamp. Com olhar sensível para a diversidade, pode ser uma boa fonte de trabalhar com a face mais divertida do folclore: a arte de brincar.