Para aprender com a prática

Como a professora Dayane transformou alunos em autores

As histórias dos adolescentes ganham mais vida quando lidas por outras crianças. Foi essa motivação que levou Dayane Martins a criar um projeto inspirador de produção de fábulas

Crédito: Andris Bovo

Para que serve uma história que não é lida? Durante os seus estudos no mestrado, a professora Dayane Martins, da EE Professora Judith Ferreira Piva, em Ribeirão Pires (SP), aprendeu sobre a importância de se produzir na escola textos com função social - isto é, textos criados para leitores de verdade, com utilidade no mundo real. 

Em 2018, ao observar que o currículo da rede estadual de São Paulo previa o trabalho com narrativas, a docente teve uma ideia. Com a participação de suas três turmas de 6º ano, ela elaborou um projeto cujo ponto alto seria a escrita de um livro de fábulas para ser lido pelos alunos mais novos da escola. A fábula, narrativa curta em que os personagens são animais com personalidade e características humanas, é um gênero muito estudado nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que costuma atrair a atenção das crianças. “Eles queriam ensinar alguma coisa para os menores”, conta Dayane. Como a escola atende apenas turmas do 6º ao 9º ano, a professora entrou em contato com uma instituição próxima. “Acabamos criando um vínculo bem legal entre as duas escolas”, explica a docente. 

Após a definição do tipo de narrativa e do produto final, a professora propôs que os alunos se pusessem a escrever.

Como você viu, a fábula costuma aparecer no Ensino Fundamental I, mas os alunos de Dayane não dominavam o gênero. Sem o repertório necessário, a maioria dos estudantes acabou produzindo textos mais próximos de um conto de fadas do que de uma fábula. 

Diante desse resultado, a professora resolveu mudar o planejamento: propôs uma sequência didática de dez módulos para mergulhar no universo das fábulas, explorando a construção dos personagens típicos do gênero, dos conflitos e da moral da história, os tipos de discursos e de narradores. Os alunos puderam retomar a produção original, fazer uma autoavaliação e, com base nas características estudadas nos módulos, decidir se queriam aprimorar o texto ou começar um novo. A maioria optou por começar do zero. 

Depois, em duplas, os alunos revisaram e digitaram os textos na sala de informática. Dayane encarregou-se de fazer uma revisão final e enviar as produções textuais das crianças para a editora. 

Cada uma das salas teve sua coletânea publicada. Crédito: Andris Bovo

A primeira tiragem foi comprada pelos próprios autores-mirins e bancada pela professora. Com o restante do dinheiro, ela mandou fazer uma segunda impressão, doada para os alunos do 4º e do 5º ano da EE Professora Marisa Afonso Salero, escola vizinha à EE Professora Judith Ferreira Piva. O intercâmbio fez sucesso: os leitores enviaram cartas com feedbacks das histórias criadas pela turma de Dayane e foi organizado um piquenique reunindo os alunos das duas escolas, como evento de lançamento dos livros. 

Mas a história não acaba aí! Dayane resolveu aproveitar o percurso e a ideia de valorizar a autoria dos alunos com outros gêneros textuais. Os mesmos alunos, hoje no 7º ano, já experimentaram escrever cordéis, memórias e até notícias. Para a professora, colocar os alunos no papel de escritores trouxe motivação, confiança e estreitou os laços entre eles e a educadora. Além disso, as turmas passaram a ler muito mais - e a ter mais vontade de se arriscarem no mundo das letras. 

Projeto ponto a ponto

  1. Conversa com os alunos e definição de estudar fábulas
  2. Produção inicial
  3. Módulos sobre fábulas
  4. Produção final
  5. Revisão e edição para a publicação das coletâneas
  6. Piquenique com os alunos da escola vizinha que leram os livros 

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