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Sequência didática e alunos autores: o que é preciso ter em mente?

Entenda a base teórica e os cuidados necessários ao levar um projeto semelhante ao da professora Dayane

Ilustração: Duda Oliva

Sequência didática. O termo parece muito comum para quem está próximo ou trabalha com Educação, mas de onde ele vem? No texto “Sequências didáticas para o oral e para a escrita: apresentação de um procedimento”*, Joaquim Dolz, Michèle Noveraz e Bernard Schneywly explicam que sequência didática é um “conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (p. 82).

O modelo desenvolvido por eles, conhecidos como Grupo de Genebra, consiste em um trabalho dividido em quatro etapas: apresentação da situação comunicacional a ser trabalhada, produção inicial, módulos de aprofundamento do gênero textual ou oral escolhido, e a produção final. Foi esse modelo que inspirou o trabalho da professora Dayane Martins, de Ribeirão Pires (SP), que você está conhecendo nesta caixa.

Segundo o livro, cada uma dessas etapas permite que os alunos desenvolvam suas “capacidades de expressão oral e escrita, em situações de comunicação diversas” (p. 82). Isso significa que as quatro etapas da proposta de sequência didática defendida pelos autores permitem que os alunos dominem melhor o tipo de texto escolhido, dando acesso às práticas de linguagem novas ou que apresentem dificuldades nunca antes enfrentadas pelos alunos. 

Passaremos rapidamente por cada uma das etapas: 

  • Apresentação da situação: nesta etapa, o professor precisa fazer uma boa descrição do problema de comunicação que os alunos precisam resolver. Algumas perguntas a serem respondidas são: qual o gênero abordado? A quem se dirige essa produção? Que forma assumirá a produção? Quem participará da produção? 
    • Produção inicial: este é um momento crucial para a sequência, pois os alunos revelam o que eles pensam do gênero trabalhado. Dá insumos necessários para que o professor faça boas intervenções e trace com maior clareza o caminho a ser percorrido para se aprofundar durante os módulos. 
      • Módulos: a partir das dificuldades apresentadas na produção inicial, são oferecidos aos alunos os instrumentos necessários para superar os problemas. Ao planejar as atividades e exercícios propostos, é importante diversificar a forma com que o aluno vai acessar e entrar em contato com aquele instrumento a ser desenvolvido. Os autores dão algumas possibilidades, como atividades de análise de textos e tarefas simplificadas de produção, como, por exemplo, reorganizar conteúdos ou complementar um texto. 
      • Produção final: aqui o aluno coloca em prática os instrumentos que foram desenvolvidos separadamente durante os módulos. 

      O modelo de sequência didática em si já garante muita aprendizagem. Mas, para engajar ainda mais os alunos, a professora Dayane decidiu ir além: os textos produzidos têm uma função social e circularam entre leitores de verdade. E esse é o produto final da sequência.

      No trabalho sobre fábulas, Dayane e os alunos criaram três coletâneas que foram lidas por alunos mais novos de uma escola vizinha. Ao trabalhar com crônicas, eles criaram um blog. Já um projeto de notícias culminou em um jornal da escola. “Ao experimentar o campo de atuação dos gêneros textuais e entender como aquele tipo de texto circula dentro da sociedade, os alunos vivenciam um desempenho próximo dos autores reais”, explica Maria José Nóbrega, professora de pós-graduação no Instituto Vera Cruz. “Ter leitores reais que são crianças dá outra qualidade para o produto”, afirma a especialista.

      É importante também levar em consideração que cada gênero circula de uma forma, e que o produto final deve ser condizente com ela. Por exemplo:  para reforçar a sensação de serem autores de livros, foi realizado um dia de autógrafos, algo que não faria sentido, por exemplo, se o gênero trabalhado fosse notícia, pois autografar reportagens de jornal não é uma prática comum aos jornalistas. Por isso, é importante estar atento para não perder de vista as características e suportes típicos do campo no qual o gênero se insere. 

      Escrever para aprender a escrever

      Por outro lado, é preciso ter cuidado para não deixar de lado o exercício da escrita. “Na escola a gente também escreve para aprender a escrever”, explica Maria José. Por isso, por mais significativo e importante seja escrever textos com função social, também é preciso ter momentos de aprimoramento das habilidades de escrita fora de uma sequência didática. É possível também, durante os módulos, trazer pequenos exercícios de escrita, de forma a que os alunos não produzam apenas no começo e final do trabalho. Não é um ou outro, mas equilibrar os dois para extrair o máximo das duas estratégias. 

      * Capítulo 4 do livro Gêneros Orais e Escritos na Escola, de Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e colaboradores, da editora Mercado de Letras, 2010.

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